Marielle também é nossa história!
Enfim, a diplomacia com a vereadora sapatão-feminista, agora eleita, terminou. Mais de 2000 votos, a conquista de uma cadeira efetiva potente e a certeza de que aquela “amostra grátis” da suplência acabou: serão 4 anos de muita resistência.
Quando assumi a Câmara pela primeira vez, em junho de 2018, faziam exatos 3 meses que Marielle Franco havia sido assassinada no Rio de Janeiro. Marielle, bissexual-feminista, além de preta-periférica, cientista social, que tal qual a mim se formou graças aos programas de expansão universitárias e políticas de permanência dos governos democráticos e populares, que a Elite brasileira nunca engoliu.
Passados 2 anos de seu assassinato, em março de 2020 eu novamente assumia a Câmara por mais um mês, e ainda gritávamos (e seguimos gritando) por justiça! Neste espaço de tempo, Marielle deixou de ser apenas “uma vereadora carioca”. Sua morte representa o silenciamento de uma voz, de uma mulher, que ousou ocupar um espaço de poder (o legislativo municipal) para denunciar as mazelas de um povo. Sua voz foi calada à força, no espaço público. E sua memória se ergueu em diferentes outros espaços pelo mundo inteiro com homenagens (nomes de ruas, praças, prédios públicos, etc) em São Paulo, Fortaleza, Argentina, EUA, Itália, Portugal, França. Buscamos o mesmo em Floripa, com a denominação de parte do canteiro central da Av. Hercílio Luz de “Passeio Marielle Franco”.
A luta de Marielle pelos Direitos Humanos, de combate ao Racismo, ao Machismo, à LGBTIfobia, pelos direitos do povo das favelas, mas fundamentalmente sua denúncia constante contra as milícias e contra a violência policial foi assassinada. Violência policial, inclusive, que encontra neste próprio espaço da Av. Hercílio Luz o palco favorito para repreender expressões de cultura popular, corpos negros para disparar balas de borracha, juventude para coagir, mulheres feministas para insultar. A mesma violência policial que Marielle denunciou, sobe os morros – há poucos metros do canteiro da Hercílio Luz – para assassinar jovens negros e fazer todos os dias mães e avós órfãs de seus filhos. Avós, talvez, que tenham na memória as tardes no Rio da Bulha (que corre embaixo da mesma Av. Hercílio Luz) e a lavação das roupas das elites florianopolitanas. Esta mesma elite do atraso que agora se levanta contra nosso Projeto, mas faz um silêncio ensurdecedor a todos estes (e outros) episódios relatados.
O debate falacioso levantado, reivindica o argumento xenofóbico de homenagear alguém que “não seja manezinha”. Eu pergunto: quantas ruas, praças, espaços públicos desta cidade homenageiam pessoas que não são de Florianópolis? E mais, quantas delas homenageiam militares, genocidas, higienistas? Não há ufanismo nisto? Agora, há um dado muito interessante também: quantos deste espaços homenageiam mulheres? A quem, como e quando interessa reivindicar “a nossa história”?
A cidade é produto de um conjunto de vidas, histórias, famílias, posturas e pensares. Nos constituímos de nossas pluralidades e diversidades. O que será que pensam as dezenas de milhares de pessoas que não nasceram em Florianópolis, mas escolheram esta cidade para constituir suas famílias, trabalhar, estudar e PAGAR IMPOSTOS?
De ontem pra hoje se lembraram de Nega Tide – ícone do samba, da cultura popular e negra desta cidade. Ícone, inclusive muito justamente já homenageada em uma das Alas do Mercado Publico da Cidade. Por qual motivo estas mesmas pessoas não se lembram da “nossa história” quando deixaram a Escola Antonieta de Barros virar ruinas? Qual história esta cidade reivindica, se não há aqui UM Museu decente sequer? Qual história quer preservar uma cidade que deixa às traças o seu Arquivo Público? Aliás, por falar em Nega Tide, aproveito para perguntar por onde anda o Museu do Carnaval desta cidade, que sumiu?
É evidente que não se trata de “quem homenagear”, mas sobre quem e o quê “não homenagear”. Não se trata sequer de aprovar ou não este projeto. Trata-se de uma busca, sem sucesso, de intimidar a vereadora sapatão-feminista. Será um recado? Nunca na história desta cidade tantas mulheres estão às vésperas de ocupar cadeiras na Câmara Municipal? Será um recado? Marielle estava “onde não deveria estar” e foi silenciada. A polêmica em torno do nosso projeto é mais sobre o que nos dispusemos a representar a partir de 1º de janeiro, do que sobre “o nome homenageado”.
Calaram Marielle, mas nos tornamos sementes em busca de uma sociedade que não cabe na mente estreita daqueles(as) que valorizam mais o asfalto que as vidas das pessoas.
Seguimos resistentes e questionando: quem matou e quem mandou matar Marielle?
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4 aParabéns Carla, pela vitória... 💙
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4 aParabéns Estou muito contente 💓🔟