Marina x Clube
Onde irei guardar meu barco? Essa pergunta que deveria ser feita antes da compra de uma embarcação, mas, normalmente é feita depois que a embarcação é adquirida. Nesse momento que a ficha cai, e, chega-se a conclusão que o custo de guarda não é dos mais baratos. Começa então uma peregrinação em busca do lugar ideal, que caiba no bolso.
Depois da andança surge uma nova pergunta: Por que o custo de guarda num clube é bem menor do que numa marina?
A resposta é simples. O clube é uma associação sem fins lucrativos, onde os sócios dividem a conta total, utilizando ou não todos os serviços oferecidos, Ou seja, o custo da guarda de sua embarcação é dividido, inclusive, por aqueles que se utilizam apenas das atividades sociais, por isso fica tão mais barato. Já que esta organização está impedida de ter lucros, por força de estatuto, o excesso de capital pode ser reinvestido em manutenção preventiva, e / ou, aquisição de novos equipamentos, tornando-a atrativa nesse ponto. Por sua vez, quando um imprevisto acontece a conta também é diluída entre os proprietários. Enquanto uma marina, origina-se com o objetivo de retorno financeiro, e, deve responder frente aos seus sócios a situação de Ponto de Equilíbrio, Lucratividade, Rentabilidade, e, Prazo de Retorno, mostra em seu planejamento financeiro, o que deve ser investido em manutenção preventiva, evolutiva, e, uma reserva para as surpresinhas, o que mantem sua operação mais engessada do que o clube.
O clube também conta com a "força social"! Chegar do mar, cansado de suas atividades de lazer, vela, pesca, ou mesmo turismo, (as atividades no mar cansam por natureza), e tomar uma sauna, ir ao bar encontrar os amigos, contar "verdades aumentadas", isso não tem preço... Mentira, tem! E, tem que ser computado! Esse ambiente é muito difícil de se encontrar numa marina, e, quando encontram normalmente as pessoas passam a se sentir donas e pertencentes ao espaço, e, naturalmente começam a chamá-la de clube. Esse é um ótimo sinal de uma boa administração.
Para manter o bom equilíbrio universal, trago também alguns pontos negativos da escolha de um clube para a guarda de sua embarcação, que devem ser avaliados. Para entrar de sócio em um clube, deverás adquirir um título, pois terás 1/(números de títulos) dessa propriedade. O custo é dividido em: custo de propriedade (o título propriamente dito) - que pode ser transformado em moeda (vendido ou negociado); e, taxa de transferência, que é a parte monetária que retorna e engorda o caixa da entidade. Alguns clubes náuticos do Rio de Janeiro tem uma taxa de transferência que chegam próximas aos cem mil reais, e, isso deve ser diluído no custo de guarda da sua embarcação e de sua utilização social. Outro ponto que deve ser analisado é a disponibilidade de vagas dentro do clube pretendido. Lembro que uma embarcação dura anos, e seu casco de fibra tende ao infinito... Barcos velhos e mal conservados não tem liquidez no mercado, e, o espaço do clube é limitado em número de vagas, geralmente ocupados por essas relíquias. Por tal motivo as vagas também acabam sendo negociadas com o lixo sobre ela, e, nem sempre a disponível está no melhor lugar para acomodar seu bem tão precioso. Os valores do título e da vaga deverão ser analisados como investimento, analisando a taxa de retorno/utilização ao longo do tempo, enquanto a taxa de transferência deve ser diluída pelo número de meses mínimo pelo qual você pretende permanecer com a sua embarcação adicionando-se a taxa de manutenção mensal. Numa marina só existe a taxa de manutenção mensal. O processo é simples: colocas o barco em uma vaga e assinas um contrato de prestação de serviço por tempo determinado (normalmente um ano). Se a crise apertar, podes optar em mudar de marina por uma mais barata, se estiver "sobrando" poderás escolher outra com uma prestação de serviço melhor. A mobilidade na escolha de uma marina é bem maior frente ao clube, pois o que define se permaneces ou a deixa, e, o valor a ser pago é seu contentamento com a prestação de serviços.
Já que tocamos no ponto "Serviços", o "Calcanhar de Aquiles " da escolha de um clube está justamente na prestação dos serviços. Meu foco abordado aqui diz respeito a guarda/movimentação da embarcação, deixando de lado restaurantes, piscina e outros. Como já foi dito, em um clube todos os sócios são "sócios", ou seja - DONOS, e, todos os empregados são empregados de TODOS. Ai está um problema que deve ser cuidadosamente avaliado - a relação pessoal entre funcionário e associado! Vamos supor um clube pequeno, com 100 barcos e 4 funcionários da náutica (não precisa mais do que isso). Obviamente como o número de barcos é pequeno, a estrutura física também acompanha. Com uma conta simples, a relação de atendimento é de 25 sócios para um funcionário. Se a estrutura é pequena, o tempo de movimentação é grande. Ao pedir sua embarcação para a água terás que esperar de 40 à 60 minutos, se tudo correr bem e o trator não quebrar... Mas esses funcionários conhecem a estrutura, e, contam que o processo de demissão num clube é lento. A tendencia é eles se acomodarem, mais e mais, e, com o tempo, esperarem "caixinhas" para agilizarem seu trabalho. O corpo mole funcional é um ponto que me incomoda muito.
Esses são os pontos principais que diferem uma marina de um clube. Na realidade quando adquires uma embarcação, a primeira intenção é utilizá-la, então o que pesa muito na minha escolha é a distancia do local de guarda para a minha residencia, e, os atrativos da região a ser navegada. Sugiro que o lugar de guarda seja próximo de sua casa, ou encantador o suficiente para que não de preguiça de se deslocar até ele. Lembro que uma embarcação requer presença do dono para que se mantenha conservada. Sua visita a ela deve ocorrer pelo menos duas vezes por mês para uma boa conservação, logo considere com cuidado o quesito distancia ou tempo de deslocamento.
Captain / Skipper / Sailing Instructor
8 aOtimo texto!
Turismo, Jornalista, Educador, Arte Educador, Comunicação
8 aErmel, posso publicar no Almanáutica? Escreva pra nós mais amiúde se quiser... abraçooo
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8 aPerfeito!!Lembro que as vezes o terreno onde está a nautica de um clube é muito mais valorizado que o proprio titulo e poderia reverter a outras atividades de lazer se houver uma marina próxima!! Abraços