Marinheiros de jangada
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Marinheiros de jangada

Já ouviu aquela velha frase que diz:

"Mar calmo não faz bom marinheiro."

Acredito que sim, mas todo mundo coloca sempre o foco no mar, né? Mas e se o marinheiro estiver numa jangada e não num barco?

Já vou logo avisando, este artigo não é sobre criticar os privilegiados e sim, sobre enaltecer aqueles que empreendem em condições menos favoráveis à sobrevivência em alto mar.

Todos nós somos privilegiados em algum nível. Eu sou, tenho certeza disso. Talvez você seja.

No entanto, quando falamos de empreender, ou do mundo profissional de uma forma geral, a infra do barco importa.

Por que importa?

- "Tire a mão da minha águaaaaaaa, vá dar uma volta que eu vou resolver." esbravejava meu pai, literalmente aos berros com o homem da Sabesp que media e cortava a água de quem não pagava. Neste dia, meu pai me ligava no meio do meu expediente como estagiário na Unilever, enquanto gritava com o coitado do moço que nada tinha a ver com o destempero de um pai que não queria que sua família chegasse em casa e não tivesse água, por que ele não tinha o dinheiro para pagar a conta.

- "Filho, você pode me fazer um DOC (pai do pix) de R$ 150,00, pra eu pagar a água aqui?" - perguntava meu pai.

E eu, todo tímido e desconcertado, para que os berros do meu pai não vazassem do celular, no meio da baia de pessoas ricas, absolutamente perfeitas e sem "problemas de conta de água" viessem me perguntar se estava tudo bem, respondi:

-"Claro, pai, tô indo, mas fica calmo, tá!?

Longa história curta, o fato de eu ter que trabalhar para dar dinheiro em casa, de ter a tensão e a responsabilidade de ajudar meus pais, me tirava de certa forma uma autonomia de ser quem eu podia ser.

Não é sobre deixar de ser que você é em essência, meus valores foram minha base, sempre. Mas é, por exemplo, um peso de não se sentir a vontade para ousar em um projeto, o receio de peitar alguém que não devia, a pressão de ter que ir bem e ser perfeito o tempo todo, a cobrança de entregar em alto nível o tempo todo, ser prudente demais em não falar o que se pensa por medo de ser criticado, mal avaliado ou desligado. E tudo por conta da necessidade da grana no final do mês.

Mas peraí, todo mundo precisa da grana no final do mês, certo? Sim, precisa, mas quando a grana é porque a água bate na bunda, é diferente.

O empreendedor ou profissional que sai do zero já tem dificuldades e precisa lutar muito. O que sai do -1 (menos um) tem mais ainda.

De maneira alguma te tira o talento, mas diminui a luz do holofote um pouco, atrasa o som da sua voz.

A perna pesa mais para bater o pênalti. Conhecer pessoas, fazer cursos, vivência internacional, as melhores faculdades, tudo isso abre portas ou te faz encontrar a chave mais rápido.

E quando você se dá conta que é marinheiro de jangada, o mar fica pequeno.

É aí que os marinheiros de jangada brilham mais!

Enquanto tem uma galera de lancha, em barco à vela chique tomando espumante, o marinheiro de jangada está esculpindo o próprio remo. Meu irmão, é cobrar escanteio e correr para cabecear. É vender o almoço para comprar a janta. (sim, janta é mais legal que jantar)

Um marinheiro de jangada, que veio do nada, não fez a melhor faculdade, não fez high school na gringa e não conhece pessoas influentes. Ele tem que remar mais para acompanhar, mais forte, mais fundo, por que a cada remada, ele arrasta para trás suas feridas e cicatrizes, suas aspirações nunca vividas, o contato que não tinha, a indicação que não aconteceu, o processo seletivo que nem conseguiu participar, seu suor nunca notado, seu talento escondido; simplesmente para a sua jangada ir pra frente.

Para cada story no Instagram, tem 3 boletos chegando. O mundo real chacoalha mais para o marinheiro da jangada. Balança muito e não dá para ficar enjoado, é como se o Dramin fosse as porradas que a vida já te deu.

Às vezes, a gente espera que alguém encaixe um motorzinho de popa, só pra dar uma mãozinha, pra ir mais rápido. Mas é difícil contar com ajuda de barcos, infras ou amigos maiores. Muita gente passa de lancha do seu lado mas não ajuda. Não quer correr o risco de ver você indo mais rápido que eles algum dia.

Por isso, o marinheiro de jangada é mais forte, mais cascudo, mais osso duro de roer. Já nem distingue mais o sal do suor com o do mar.

A jangada vai mais devagar, é verdade! Mas ela não para. O marinheiro de jangada nem precisa mais se preocupar se entrou água no barco, por que a jangada está sempre molhada.

No fundo, todo mundo se sente um pouco marinheiro de jangada. Em algum momento da vida, você já pensou ou sentiu que seu barco estava menor.

Mas quem se acostuma a viver com problemas e adversidades, sente menos o baque quando precisa resolvê-los.

E em um mundo em que tudo estará pronto, pensado e polido para nós por IA, resolver problemas será a competência do século. As empresas serão carentes destes profissionais que se equilibram e remam para enxergar terra firme, mesmo no meio da tempestade.

Se o mar não estiver calmo, o marinheiro de jangada certamente saberá o que fazer.

Cada jangada tem um tamanho, cada marinheiro sua força. Alguém pode olhar e achar que você está num jetsky, mas cada um sabe que correntes da vida que o fizeram chegar até ali.

Não julgue, não compare. Ninguém vê os tombos, só as pingas, não é mesmo?

Foque em esculpir o melhor remo que puder.

Também nunca se esqueça de que ninguém chega lá sozinho, muitas vezes seus remos são pessoas que te levaram pra frente, te impulsionaram. Muitas vezes, essas pessoas foram as que entraram na água fria por você, para que você pudesse ir para a frente e navegar.

Nunca se esqueça destas pessoas.

Só que saiba que o mais legal é, que aquele que rema em jangada, feliz e continuamente, um dia será convidado a assumir e comandar barcos maiores. Ou perceberá que sua jangada mesmo ficou gigante.

Ou pode ser que perceba que a ideia de felicidade ou sucesso nunca foi ter um barco maior. É possível também ser feliz na jangada, é só não parar de remar. Muitos capitães de barcos gigantes estão infelizes, se jogam ao mar e se afogam.

De fato, de todos os privilégios, o maior é a saúde.

Captain, my captain....

E que algum dia, toda a tripulação da sua jangada ou do seu barco, saiba das origens, dos princípios, das crenças e do respeito que você, marinheiro de jangada, merece. Nem mais, nem menos reconhecimento do que outros marinheiros merecem, mas sim o valor de chegar lá só com uma jangada.

E neste dia, tenha certeza de que o marinheiro, ah o marinheiro nunca irá esquecer a jangada em que começou sua jornada.

Jhonatan Barbosa

Relacionamento e Parcerias, Customer Success e Atendimento

1 a

Incrível seu texto, quando parece que vc vai falar o óbvio (falta de recursos e ambiente adequado na organização), você trouxe uma questão anterior. Janelson Barbosa da Silva recomendo a leitura do artigo!

Marinheiro não pára, marinheiro ganha tempo.

Leticia Santos

Account Manager at Google, Mother and #Iamremarkable Facilitator

1 a

Parabéns pelo artigo Edu! Quando se fala em carreira, se coloca muito holofote no mérito e pouco se fala dos diferentes pontos de partida que cada um sai. O marinheiro de jangada, muitas vezes não sabe ou é convencido de que nunca poderá ser capitão de transatlântico e entendo que isso que precisa ser trabalhado. As perspectivas também são a bússola do marinheiro e o contexto social, define se ele saberá ler a carta náutica que ampliará suas rotas. Sempre vi em você o capitão que é: gigante, perspicaz, inteligente e fora dos padrões. É muito bom poder se inspirar em pessoas que sairam com os mesmos (ou poucos) privilégios que os seus! Me sinto privilegiada por isso. 😘

Denilson Marcelino

VoC no iFood | Professor na WCES

1 a

Sensacional, em tempos de artigos escritos pela IA, é tão bom quando aparece algo que realmente nos leva a uma reflexão mais adiante. Valeu por dividir Edu Paraske e sucesso marinheiro 🤘🏽

Uau, que texto animal! Parabéns Edu Paraske 👏 Confesso que até alguns anos atrás eu não me enxergava como alguem privilegiado. Durante esse período só notava os barcos maiores e mais luxuosos que o meu. Não lembro exatamente quando o "click" aconteceu. Na verdade a minha bolha estourou através de algumas experiências que somadas me ajudaram a enxergar a realidade. Após ter mais clareza a respeito de qual nível de dificuldade eu estava jogando o jogo da vida, consegui encontrar humor, leveza e paciência para enfrentar as tempestades. Parafraseando o Presidente Roosevelt "Mar calmo nunca fez bom marinheiro"

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