...motivos genéricos já não matam mais a fome que temos de justiça
Os tempos mudaram, motivos genéricos já não matam mais a fome que temos de justiça, diplomacia, a tempos tenta-se o diálogo de forma transparente e objetiva, a tempos o resultado de ações truculentas e violentas são usados como exemplo para demonstrar a importância de se falar sobre o racismo, mas quem ouve? Quem realmente está ouvindo? Os maiores apoiadores da causa, ainda são as próprias vítimas, os algozes continuam calados, os bárbaros continuam matando e os ignorantes continuam preguiçosos.
Discursos burocráticos inspiram mentes vazias, quando dizem que é preciso mudar, mas nada fazem, quando dizem que é preciso respeitar, mas não assumem de fato posturas firmes e convicções verdadeiras, que diante do caos, o arco se forma e a flecha é lançada, exagero, violência, vandalismo e logo após, se voltam novamente aos discursos prontos para agradar a grande massa que abraça a moral e os bons costumes, desde que estes, agradem ainda mais os seus iguais.
Números que se somam a cada dia, boletins diários e notícias que não mais abalam, um novo normal que na verdade nunca deixou de existir, uma onda atrás da outra, subtraindo vidas como se fosse uma meta a ser atingida, multiplicando histórias, dividindo famílias e transformando pessoas em números, mais um preto ou um preto a menos, tudo é uma questão de percepção.
Mas afinal, porque a vida de um negro vale tão pouco? Uns tantos podem (e vão) encontrar razões para justificar tal comportamento, que mais do que uma reação a estímulos sociais, certamente é um instinto “estrutural” construído a base de muitas mensagens subliminares, além de provocações explícitas com o intuito de afrontar a humanidade de quem sabe sua história, mesmo que não compreendam na essência o peso que isso tem em suas vidas hoje, no inconsciente se perguntam o porquê e quase como uma retórica bem treinada, ouvem dentro de si a resposta – porque sou negro(a).
Respostas, não temos todas, mas as que temos já nos ajudam a entender que algo está errado, ou permanece errado, e como uma ferida aberta, nos sentimos mais livres para apreciarmos as nossas dores, gritando o preconceito e o racismo como quem a tempos se manteve calado acreditando que nós sim, éramos os errados, que a cultura do cancelamento, longe de estar em evidência como hoje, já fazia parte de nossas vidas, cabelo, roupa, fala, cultura, logradouro, origem, enfim, muito além dos padrões definidos para a época..., e quando digo época, quero dizer da vida corrente, demonstrando a ironia da palavra, do tempo que discorre como as águas de um rio, corrente.