Matar o criminoso e dignificar o homem

A APAC Itabira é um dos clientes da Bridge. Desde março, estamos apoiando o time de voluntários na construção da licença social de implantação, considerando algumas divergências sociopolíticas na definição do local de construção do Centro de Reinserção Social. A desmistificação de vários aspectos é parte da nossa estratégia de intervenção. Hoje, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Olavo Machado, publicou artigo no Hoje em Dia, esclarecendo uma das perspectivas relevantes pro nosso projeto em Itabira: o apreço de grandes empresas pela metodologia APAC. Veja:

"O título desse artigo é resultado da combinação de duas máximas já conhecidas. A primeira delas foi cunhada pelo Dr. Mário Ottoboni, idealizador do método da APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados). Nos idos de 1972, ele decidiu criar uma prática de ressocialização de condenados com o propósito de “matar o criminoso e salvar o homem”. A frase é forte o bastante para intitular um de seus livros e representar todo o valor dessa filosofia de trabalho.

A segunda parte da combinação acima, nos remete a uma velha afirmativa - não sei a quem atribuí-la: “O trabalho dignifica o homem”, entendendo este como a realização de um potencial e um caminho para a conquista da autonomia.

É nessa combinação, portanto, que construo meu raciocínio para trazer à tona os méritos alcançados pela metodologia APAC e para enfatizar o nosso apreço por esta causa tão brasileira e, ao mesmo tempo, tão global. A APAC já tem 50 unidades instaladas no país e cresce, ano a ano, em outras nações que estão se inspirando em nossa criação. Minas Gerais tem 39 unidades implantadas, e a Federação das Indústrias do Estado, através do Minas Pela Paz, estimula o fortalecimento e a expansão dessa metodologia. Diante do momento crítico que atravessamos, entendemos que a APAC pode contribuir no enfrentamento dos desafios do sistema carcerário.

Primeiramente, trata-se de um investimento, no mais estrito senso financeiro, já que a manutenção de uma APAC custa aos cofres públicos apenas um terço do que o sistema prisional comum absorve. Por uma razão simples: na APAC, o recuperando trabalha, cuidando ele próprio da limpeza e das refeições, dentre outras atividades de rotina. Mas a disseminação desse método é também um investimento social e humano. Se não, vejamos.

As estatísticas de reincidência dentre os condenados que cumprem suas penas no sistema comum chegam a 80%.  Numa APAC, as taxas de reincidência ficam em torno de 15%. Ou seja, no sistema comum gastamos muito e recuperamos pouquíssimo! Mais do que isso, devolvemos à sociedade uma possibilidade cada vez maior de sofrimentos múltiplos, pois o egresso desse sistema sai ferido em sua dignidade e pronto para ferir tantos outros que cruzarem seu caminho, num ciclo de violência interminável.

Se não é isso o que queremos, precisamos apostar no novo. E já conhecendo a metodologia APAC, dezenas de empresas do nosso Estado atuam em parceria com esta iniciativa. Além de apoiar na viabilização da infraestrutura em muitas APACs, empresas incentivam unidades produtivas no regime semiaberto; promovem cursos de formação de mão de obra a recuperandos; oferecem oportunidades de trabalho; patrocinam atividades culturais e esportivas; enfim, atuam de infinitas formas a favor de um método que tem chances de dignificar o homem e quebrar o ciclo de violência.

É com a confiança no sucesso desse método que convidamos a sociedade a se integrar a este movimento. Que as cidades e cidadãos abracem esta iniciativa. Afinal, ter uma APAC por perto deve ser motivo de orgulho, pois significa que estamos construindo uma sociedade capaz de cuidar de suas próprias mazelas e, ainda que enfrentando dores, focada na renovação, acolhendo os erros e fazendo deles um caminho para a criação de novas histórias de vida".

Olavo Machado Junior, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e vice-presidente do Conselho Deliberativo do Minas Pela Paz.

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