Matar ou Morrer por Covid-19?

Matar ou Morrer por Covid-19?

Se, infelizmente, você já perdeu alguma pessoa amada para a Covid-19, por favor, não leia esse texto.

Aqui em Portugal, estamos passando pela segunda onda da pandemia. Nas últimas semanas, o toque de recolher é às 13h aos finais de semana e as empresas foram obrigadas a voltar ao home office, entre outras medidas para conter o crescimento da contaminação e dos óbitos.

Na Irlanda, onde eu morei até o início do ano, o lockdown durou 6 semanas entre novembro e dezembro. No dia 24/12, véspera de Natal, voltaram a um novo lockdown. Os pubs, que só vendem bebidas, e que são parte importante da economia, estão fechados desde março.

Mesmo estando em um país novo e com a tentação de explorar a nova terra, me mantenho conservador em meus movimentos. No meio do ano, quando os números de casos eram pequenos e mortes diárias tendiam a zero, fiz apenas o necessário e sempre com todos os cuidados.

Há 9 meses, estou convivendo apenas com a minha esposa. E, mesmo tendo recebido convites de amigos, não nos encontramos pessoalmente com ninguém. Não vimos uma pessoa conhecida em todo este período e e continuamos em isolamento social.

Você pode me perguntar: “Todo este cuidado é medo de MORRER de Covid-19?” Mas, não. Não é... Morrer será uma coisa inevitável na minha vida e, em algum momento, vai acontecer.

O meu maior medo é MATAR por Covid-19!

Infelizmente, por mais assintomático que possamos ser, o vírus nos torna um "hospedeiro" e, consequentemente, um transmissor em potencial de sofrimento para terceiros. Pessoas que, às vezes, amamos muito.

Não quero carregar comigo o sentimento de culpa de ter abreviado a vida de qualquer pessoa, conhecida ou não.

Isso seria homicídio doloso ou culposo? Será que estou exagerando?

Quando bebemos e dirigimos, arriscamos. Mesmo sem intenção, podemos abreviar a vida de alguém. Nesse caso específico, há o peso das possíveis consequência criminais, mas também o da consciência.

No meu caso, a decisão do cuidado extremo não é só por mim ou pela minha vida. É muito mais pela vida do outro!

Pelo menos nessa encarnação (se isso existir mesmo) não quero viver o remorso de ter sido o responsável, mesmo que indireto, do desencarne de ninguém...

Uma das coisas que mais me policio é para não fazer mal ao próximo. Nem sempre conseguido, mas a luta é diária.

A vacina está chegando! Hoje, inclusive, a vacinação começa oficialmente aqui em Portugal! tenho certeza que esse tempo de profundo desconforto vai passar!

Por enquanto, me solidarizo com a dor, não só de quem perdeu alguém querido, mas de quem vive com a culpa de, mesmo sem querer e tentando fazer o melhor, foi o "hospedeiro" que levou a morte a uma pessoa próxima ou não.

Neste momento, estamos mais conectados do que nunca. Quanto mais você se cuidar, mais estará fazendo a sua parte pelo próximo, pela humanidade e pelo mundo.

Que a gente possa receber um 2021 muito diferente. Que possamos estar juntos livremente! Que possamos levar para as pessoas amor, carinho e sorrisos, sem que custem lágrimas e culpa!

Marly Jeronimo S Ramos

Plano odontológico | Liderança de Projetos | Operações

3 a

Perfeito, Cicero Andrade ! Estou na mesma situação e muitas vezes somos tachados de alarmistas. Mas é isso, nosso maior receio e fruto de nossa responsabilidade: não queremos correr o risco de ser transmissores do vírus. Gratidão por compartilhar sua experiência! Feliz Ano Novo!

Fernando Taliberti 🌱

Empreendedor em série | Embarcando em algo novo...

3 a

Excelente reflexão Cicero

Adriana de Oliveira

Financial Analyst na Lizard International

3 a

Excelente texto! Eu tbm continuo recusando convites, fazendo a minha parte e torcendo para que essa vacina chegue logo no Brasil! Que 2021 seja um ano de esperança!

Welington Clemente dos Santos

Gestão Comercial | Treinamento e desenvolvimento de equipes | Gestão de desempenho e produtividade | Processos operacionais | Varejo.

3 a

Parabéns pelo texto 👏

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