MCR2030 acontece e COP27 precisa ser lembrada mais do que nunca
Durante esta semana, o Egito está sediando mais uma conferência para tratar as mudanças climáticas. Desta vez, acontece o Fórum de Políticas do Centro de Resiliência (MCR2030), um encontro que reúne várias cidades do mundo todo para debater compromissos individuais e coletivos para intensificar as ações de resiliência ao clima e aos desastres antes que nossa janela de oportunidade se feche.
Portanto, mais do que nunca precisamos falar sobre as definições (e a falta delas) da COP27. Afinal a verdadeira missão começa agora. Mais do que acompanhar o cumprimento dos acordos firmados entre os países na conferência, é hora de cobrar que o dinheiro do fundo de perdas e danos chegue a quem mais precisa. Precisamos saber quais serão os critérios, através de que mecanismo as populações vulneráveis podem acessar e quando isso vai acontecer.
Por que tanta cobrança? Porque discursos bonitos não impedem que barreiras desabem com a chuva, que safras se percam com a seca extrema e que lares sejam destruídos por enchentes. Já sabemos que as mudanças climáticas afetam de maneira desigual, que são os moradores das periferias que mais sentem esses efeitos e que a maioria dessas pessoas são mulheres, pobres e pretas. Não podemos mais constatar o problema, porque já conhecemos as soluções que funcionam.
Portanto, para não esquecermos o que foi discutido e possamos agir com objetivo, sobretudo nesse momento que acontece mais um encontro com líderes do mundo todo, quero compartilhar com vocês alguns highlights da COP27:
• A promessa de US$ 100 bilhões ao ano segue sem definição
Embora já existam evidências que os efeitos das mudanças do clima já são irreversíveis em alguns territórios, a criação de um fundo específico para compensar as nações mais vulneráveis por perdas e danos causados pelos países industrializados é um avanço justo. No entanto, a contabilidade apresentada até agora mostra inconsistências e expõe como o financiamento climático está pesando na dívida dos países mais pobres.
• Texto final não demonstra ambição necessária para alcançar a meta de 1,5 ºC estabelecida pelo Acordo de Paris
O diretor geral do WWF-Brasil, Maurício Voivodic, resumiu essa questão muito bem: "nunca estiveram tão claros o greenwashing de países e empresas e o desalinhamento entre ciência e política como nesta COP". Em outras palavras, ficou evidente que muitos países e organizações se utilizam das virtudes ambientalistas apenas como técnica de marketing, sem compromisso nenhum com o combate ao aquecimento global.
• Brasil está de volta
No discurso do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi prometido muitas ações para proteger os biomas, sobretudo a Amazônia. Isso foi muito comemorado por negociadores e observadores, porque essa nova perspectiva pode ressuscitar os temas de natureza e produção de alimentos nas negociações com as nações aliadas. No entanto, só podemos esperar mudanças no futuro, visto que o principal negociador da delegação brasileira, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, foi fazer mergulho na praia nas horas decisivas de encerramento da conferência.
• Falta de ambição e compromisso com a proteção do Cerrado brasileiro
Um dos grandes sumidouros de carbono do Brasil, o cerrado carece de ações reais para combater as emissões de gases de efeito estufa. Esse fato ficou ainda mais claro diante da escolha do atual governo brasileiro em falar sobre energia, enquanto quase dois terços das nossas emissões vêm do uso da terra e agropecuária.
• Ciência e Juventude dividem evento temático
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O calendário de ação climática da COP27 associou Ciência, que na COP26 estava relacionada à Inovação e dividia espaço com questões de Gênero, neste ano foi debatida com o tema de juventude, no dia 10 de novembro. A temática da Juventude, por sua vez, que tinha um dia dedicado, em associação com Empoderamento Público na COP26, recebeu o título de “Juventude e Gerações Futuras”. A resiliência também foi debatida no mesmo dia.
• Nenhum debate sobre Perdas e Danos
Perdas e Danos, que dividia espaço com Adaptação na agenda da COP26, não constou como tema a ser debatido em um único dia durante a COP27.
• Adaptation Day
Nesse dia, foi discutida a necessidade de lançar e investir em mais projetos de adaptação, bem como uma nova abordagem para monetizar a resiliência por meio de “créditos de resiliência” com o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD), conforme descrito no Sharm El-Sheikh Guia para Financiamento Justo (https://lnkd.in/dV9bHN68).
• Youth Day
Comemoramos os vencedores na competição global de startups #ClimaTechRun 2022.
• Gender Day
Clima não é neutro em termos de gêneros e sabemos que 80% das pessoas afetadas pelas mudanças do clima são mulheres. Com essa consciência, discutimos como encontrar soluções para uma transição verde inclusiva, plural e sensível a realidade das mulheres.
• Corredores cheios, reuniões intensas e acordos em salas fechadas
Foi muito interessante observar os líderes dos países se conhecendo e a maneira como se relacionam. Enquanto isso, os corredores estavam cheios de pessoas conversando, debatendo nos stands e se perguntando como tudo isso vai terminar. Os países se reuniram em momentos importantes para discutir o texto final da conferência, com as resoluções e soluções encaminhadas, e depois se dispersaram em salas fechadas para trabalhar nos detalhes mais sutis.
É uma pena que tenhamos que lutar tanto para conseguir algo que deveria ser tão óbvio, mas esse é o resultado de um sistema que só visa o lucro, e não as pessoas. Mais do que nunca, mudar essa realidade é o desafio do nosso tempo. Não temos tempo para ficar parados, muito menos para retroceder.
Com o novo governo em 2023, a esperança de novos tempos renasce junto com a vontade de fazer todos esses planos acontecerem. Sem ódio e com ação de verdade, vamos enterrar no lixo da história um período obscuro e triste do Brasil. E mais do que isso: vamos construir um futuro verde e feliz para as próximas gerações.