Me tornei aquele que eu mais temia - e a psicologia explica.
Ilustração da capa obtida de GettyImages

Me tornei aquele que eu mais temia - e a psicologia explica.

Se você navegou em qualquer rede social nos últimos dias, certamente já viu várias pessoas brincando com o meme "me tornei a pessoa que eu mais temia". Quase sempre o tom da brincadeira gira em torno de hábitos ou manias que a pessoa criticava no passado e agora percebe fazendo exatamente da mesma forma.

Claro, sabemos que a internet é território onde circulam piadas e nem tudo deve ser levado a sério. Eu mesmo já ri de vários vídeos usando esse mote. Porém, após algumas leituras sobre hábitos, PNL e autossabotagem, percebi que há um fundo de verdade no meme. Nós tendemos a repetir hábitos familiares e das pessoas próximas, ainda que não os aprovemos.

Na etapa inicial da vida, nossa visão de mundo é formada com base nas experiências que vivenciamos sobretudo no âmbito familiar. Crenças, valores e até hábitos financeiros variam muito de uma família para outra. Do contato constante até a internalização dessa forma de conduzir a vida basta apenas essa repetida exposição.

Eu, nascido em 1982, passei a minha infância em uma época onde o uso do cinto de segurança não era obrigatório e o assunto não era discutido ostensivamente. Pensando no meu conforto, meus pais improvisavam uma cama no porta-malas do carro e eu viajava deitado lá, sem proteção alguma. Não é difícil imaginar o quão estranho - e irresponsável - soaria hoje se alguém fizesse o mesmo com seu filho.

E dessa forma, independente de serem certas ou erradas, iniciamos nossa vida com um repertório baseado nessas vivências. A entrada no mercado de trabalho, a convivência com novos grupos e os relacionamentos amorosos vão nos apresentando uma nova visão de mundo. Percebemos que nem todas as famílias se reúnem ao redor da mesa em todas as refeições. E aquele assunto que você jamais poderia falar com seus pais, na família do seu grande colega de trabalho é tratado abertamente, sem tabus.

Nesse momento, inicia-se um processo de ruptura. Olhamos para aqueles que nos apresentaram o mundo, questionamos algumas atitudes e pensamos que conosco será tudo diferente. Entretanto o hábito está lá, enraizado. E quando se diz que estão enraizados entenda-se, estão em nosso DNA. Comportamentos transmitidos de geração para geração são repassados geneticamente, junto com as informações que já estamos acostumados a ouvir, como a cor dos olhos e dos cabelos - ou a falta deles, no meu caso.

Outro fator conhecido ao falarmos do comportamento humano e do funcionamento do cérebro, é que recorremos a atalhos para economizar energia. Ou seja, diante de uma situação, nosso cérebro irá optar pelo caminho mais curto, fazermos aquilo que é o "normal" dentro de nossa vivência. Se o cérebro nos manda pegar esse atalho e nosso código genético diz o mesmo, é fácil deduzir qual será a nossa decisão. Não foi nada diferente. Repetimos o comportamento de nossos familiares, tornando-nos aqueles que mais temíamos.

OK. Até aqui tudo bem. Ficou claro o processo de reprodução de comportamentos. É hora de romper com todos esses padrões? Não. É hora de reflexão, de buscar o autoconhecimento e entender que a ruptura não é o único caminho para a felicidade plena e para a conquista da individualidade. Há muito do seu aprendizado na infância que faz sentido para você. O atalho que seu cérebro está indicando pode efetivamente levá-lo para a autorrealização.

Questione-se. Observe o mundo ao seu redor. Espelhe-se nas pessoas que você admira, inclusive aqueles que te guiaram na infância. Há espaço para você carregar a bagagem dos seus formadores e há espaço para você adquirir novos hábitos e que vão lhe auxiliar a encontrar o caminho da realização plena.

Nos vemos na caminhada. Entre memes, estudos psicológicos e jornadas de autoconhecimento. Até breve!

Concordo com você, a maturidade nos induz à auto análise e nos faz rir de nossas manias, que desde que não prejudiquem ao próximo, ajudam a organizar nossa mente e nossa rotina com um toque de humor. Parabéns caro Marcel!

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