Medidas Em Circunstâncias
É de Benvenuto Cellini o axioma "o homem se mede em circunstância". Circunstância ou situação, dependendo do seu tradutor preferido, o fato é que este florentino do século 16, espetacular ouvires, escultor e aprendiz de espadachim -- além de autor de máximas dignas de citação --, sabia que é fundamental ao homem ter a capacidade de considerar uma nova ideia por mais aparentemente contrária às quais eram defendidas há momentos antes por si mesmo.
De modo muito similar, "se medir em circunstância" também é sobre saber traduzir em ações práticas as tantas possilbilidades teóricas. Ir um passo além da infeliz dicotomia prosaica na qual nos encontramos.
Não se trata, contudo, de negar princípios, mas de considerar outras vozes; outras ênfases. Não se trata da adoção de um "Código Moral Provisório", como orienta Jean-Paul Sartre -- e também não se trata de assentar-se à mesa com pessoas de posições diferentes, mas, sim, de permitir que haja manifestação da pluralidade de ideias.
Nossos dias, tomados por um maniqueísmo ideológico, pouco sobra de espaço para uma discussão honesta onde todos os lados estejam dispostos a fazer uma medição circunstancial. Nós nos acostumamos com nossas próprias medidas, baseadas em pressupostos fixos, engessados e, algumas vezes preconceituosos. Olhe um pouco pra sua timeline e para as conversas de botequim e vai perceber o quanto de caricaturas ideológicas construímos ao redor de nossas personas opinativas. Não estamos chegando a lugar algum.
O pensamento de Cellini traz ao debate o senso comum de sua época vitruviana, sendo praticamente o prenúncio de um Zeitgeist de sua época renascentista. E isso só reforça o quanto de pouco sofisticada é a aberração dualista que vivemos, a qual vem sendo intensificada, dia após dia, evento após evento, desde a Guerra Fria, entre Direita Vs Esquerda. Aquela acredita estar melhor preparada em sua vaidosa tecnocracia; a outra acredita ser a fiadora das virtudes humanas a partir de sua burocracia.
A grande verdade é que a situação humana não precisa mais de um porta-voz. Ambas as posições do espectro político-social vem falhando em suas experiências inglórias, a despeito de seus manuais repletos de virtudes.
O pensamento binário e cartesiano nos ajudou a sobreviver ao terrível século 20, mas é insuficiente para lidar com a complexidade e diversidade que desafiam o século 21. Vamos precisar de um pensamento mais complexo e sofisticado se quisermos superar os espetaculares problemas de um mundo cuja nova medida são as rupturas/seg e não mais RPMs.
Dando um pouco de descanso ao nosso autor florentino, recorro a Edgar Morin, sociólogo e antropólogo francês, felizmente ainda vivo. É dele uma outra citação maravilhosa, a qual seja: "É preciso substituir um pensamento que isola e separa por um que distingue e une".
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8 aMuito bom, Rodolpho B.. A disruptura é palavra em voga. Estamos vivendo uma transição. Quem não se adaptar às mudanças, certamente, ficará pra trás.