Medo da mudança

Medo da mudança

De maneira geral, as pessoas têm medo da mudança. Quer dizer, pelo menos a maior parte delas não gosta de lidar com insegurança e o risco.

Esse é um dado da realidade com o qual temos de conviver. Durante milhões de anos, a humanidade sempre procurou um ambiente protegido onde pudesse haver previsibilidade, rotina, confiança, segurança.

É algo explicável quando se vive no meio do mato, sujeito a todo tipo de perigo. Cortar as árvores, abrir uma clareira e se estabelecer num território controlável é necessário para garantir a sobrevivência e perpetuação da espécie. 

O fato de vivermos numa economia capitalista, que prospera na base do risco e da busca pelo lucro, não abalou essa herança quase genética nossa, como muita gente quer fazer pensar.

Esse medo está presente em muitos empreendedores e investidores. Profissionais com alto nível de educação muitas vezes o cultivam em segredo, protegidos pelo diploma.

Depois de passar cinco, seis ou oito anos estudando, simplesmente estacionam, satisfeitos com suas primeiras conquistas, perdendo a capacidade de se atualizar, de se submeter ao desafio.

E isso mesmo quando prejudicam a si mesmos e aos outros.

Querem um exemplo? No final dos anos 1990, já se sabia que, nos EUA, entre 44.000 e 98.000 pessoas morriam por erros médicos evitáveis. A maior causa de mortalidade? Falta de higienização das mãos.

Essa constatação levou a um esforço conjunto de hospitais e entidades médicas de tentar convencer os profissionais a mudar de hábito. Gastaram-se milhares de dólares em campanhas. Tudo em vão.

No Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, a coisa só começou a dar resultado depois que os integrantes do próprio Comitê do Conselho Consultivo do Departamento de Pessoal, após mais uma reunião frustrante sobre campanhas sem sucesso, toparam fornecer amostras das mãos para análise no laboratório. 

As imagens resultantes do exame foram asquerosas e chocantes, apinhadas de colônias de bactérias. Ou seja, nem mesmo os caras responsáveis por mudar o comportamento dos próprios colegas eram capazes disso. E o pior: os exames foram feitos logo após o almoço!

Em vez de varrer a sujeira para debaixo do tapete, a direção do Cedars-Sinai ordenou que colocassem as imagens de proteção de tela em todos os computadores do hospital. Em poucos meses, a higienização das mãos atingiu patamares próximos dos 100%.

O que esse caso ensina? Que mudanças de hábito são muito difíceis. Para se conseguir isso, costuma ser mais produtivo apostar em engenharia, inovações tecnológicas, projetos e incentivos que tornem desnecessários determinados hábitos e resistências ou promovam atitudes no sentido contrário.

Por exemplo, em contextos como o das ciências médicas, é normal que profissionais não queiram assumir as próprias limitações e muitas vezes simplesmente não compareçam a cursos de atualização ou qualificação, com medo da exposição a pares. 

Em vez de esperar que essa cultura seja mudada da noite para o dia, pode ser mais útil apostar em tecnologias que permitam o acesso ao conhecimento sem exposição pública dos profissionais, oferecendo uma melhoria que atinge muita gente, sem precisar mudar a cabeça de ninguém.

Nesse momento da minha carreira, é nisso que acredito como caminho para ofertar soluções que afetem positivamente a vida de muitos profissionais e de seus pacientes. Em breve, devo postar mais novidades a esse respeito.




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