No Meio Do Caminho Havia Uma Pedra...
As águas correndo abaixo e os ventos passando acima, com colibris flutuando ao meio, entrecortados pelos graciosos voos dos passarinhos; enquanto uns observam de cima, as pedras que atravancam o caminho; outros, embaixo, as contornam ludicamente; e alguns mais, resolutivamente passam por cima, ignorando impassíveis as tais pedras. Todos esses altos e baixos, são observados em perspectivas diversas, pelas altivas montanhas que, altaneiras, contemplam o prado.
Elas sabem que, no meio do caminho sempre existirão pedras, galhos, pessoas e eus; assim como as querências e os desejos, petrificados diante dos amores líquidos. Portanto, da mesma forma que a montanha, a jornada do nosso Eu pelos caminhos da existência, poderia assumir uma perspectiva elemental, qualificada pela fluidez da água ou pela suavidade do vento; pelo delicado contentamento, expresso no trinado livre de um passarinho em festa; e até mesmo, pela estática placidez contemplativa, da própria pedra no caminho.
Desse modo, as experiências projetadas na forma, se concretizam, quando qualificadas por sua essência, da mesma forma que um artista, a partir de sua perspectiva única, dá início a criação de sua escultura talhada em pedra, mármore ou barro, após deliberação em seu imo; o parlatório D’EUs.
Ou seja, nesse parlamento interno, espaço aonde é travado o debate do Self, com os Eus do futuro e do pretérito, através de um intenso diálogo interno; que pode resultar numa entrópica troca de acusações, críticas e julgamentos indiscriminados; ou, pode ser que seja possível, ocorrer a assunção da autorresponsabilidade, através do acolhimento desse eclipse travado consigo mesmo, possibilitando o autocuidado dessa trindade.
Desse modo, a reunião e união dessa Chama Trina, determina a conciliação dos extremos, a partir desse Ponto Zero, que se define pelo reconhecimento da própria essência, do mesmo modo como a água, em quaisquer estados que venha a se encontrar, traz consigo, a consciência de ser água.
Da mesma maneira, os seres humanos, com suas bandeiras de cores distintas, qualificando-se enquanto águias, cobras e lagartos de diferentes cores, credos e ideologias; poderiam descobrir o Ponto Zero da sua jornada, como espaço aonde verdadeiramente se dá, o reconhecimento de sua essência; deixando assim, de se comportar como predadores da própria humanidade, avocando a função de lobos que qualificam e selecionam cordeiros, ao trajar a saturnina Capa Preta de Juiz, camuflada como Capa Vermelha de Pastor, disfarçados em meio ao caminho dessa densa selva urbana.
Foi dessa forma, que cada Ser humano passou a agir como Bestas humanas, após serem numerados, cada qual como o seu ID e seu IP, quantificados e qualificados através de certidões e identidades, diplomas e certificados.
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Portanto, cada grupo identitário, definidos por bandeiras, e demarcados por fronteiras, sentiram-se psicologicamente protegidos e seguros, atrás dos vistosos escudos das nacionalidades, credos, raças e distintas religiões; seguindo pelo caminho delimitado, se destratando, matando e sendo mortos por bípedes civilizados, categorizados como únicos seres vivos inteligentes de todo o universo residente.
E assim caminha a desumanidade, composta por inumanos, clones e androides conduzidos por uma Inteligência Artificial, que, análogo a um homem-bomba, traz o seu Cavalo-de-Tróia amarrado ao peito, atado a uma pontiaguda estaca, que ocupa a cavidade do coração.
Dessa maneira, enquanto a luz, por ele emitida, não brilhar suficientemente em meio a densidade desse escuro túnel; as estações da vida, se perpetuarão no inverno de todas as suas primaveras, fazendo com que se perca de si mesmo, em meio aos brumosos caminhos dessa assombrada floresta; tropeçando em paus e pedras, ouvindo o agoiro dos corvos e uivos de lobos famintos.
Portanto, a montanha revela, que, absolutamente tudo aquilo que se encontra no Campo, trata-se do processo de escolha entre as expectativas do caminho, e, as perspectivas da jornada.
Assim sendo, a atitude de olhar para além daquilo que é visto, ouvindo além daquilo que se escuta, transpassando dessa forma, o engodo das aparências, das versões e interpretações das cópias de realidades; faz com que, possamos nos qualificar de uma maneira elemental, equivalente a água, que contorna ou derruba obstáculos de toda natureza; possibilitando que voemos livres como andorinhas, sobre o cerceamento opressor de muralhas e fronteiras; e, como colibris, daremos um passo para o lado, para observarmos de onde viemos, aonde estamos e para onde vamos.
É evidente que a montanha sorrirá nesse jubiloso momento, refletindo de volta a unicidade do sorriso que ilumina todo o prado, junto a sua fauna e flora; adubando assim, a floresta urbana, com a alegria do descobrimento de Novas Moradas.
Assim sendo, os limites serão fragmentados, e alqueivados como compostos que adubam as Alamedas da Existência; fazendo frutificar os olhares madurados na Árvore Da Vida, abrolhada no Jardim Da Sabedoria, após ser regada pelo Amor, e cuidado pelo Poder de Ser, o que se é.