Meio a meio: injustiça e equidade.

Meio a meio: injustiça e equidade.

Quando pensei nesse texto, ele me veio como aquelas matérias norte-americanas que falam que os jovens talentos não querem dinheiro, eles querem benefícios bacanas. Já viu isso? Pra gente, aqui no Brasil, não faz nenhum sentido – “por que diabos eles não quereriam dinheiro?”. Mas lá, diz que faz. Então tá, né? É algo do tipo: o pessoal já ganha bem e não vai ligar para uma proposta de uma empresa que só ofereça dinheiro, ela tem que ter um tchan a mais, uma sala de videogame, um campeonato de pebolim, cama elástica, vale cerveja, essas coisas.

E daí eu estava lavando a louça – e você está pensando na total desconexão do primeiro com o segundo parágrafo. Estava com a esponja e o detergente nas mãos e percebi que havia ali na pia muito mais louça suja do que pode imaginar a nossa vã filosofia. Fiquei intrigado, tentei contabilizar todas as refeições feitas na casa, dividir pelo número de pessoas que tinham se deliciado com estes almoços e jantares e tirar a prova dos nove para saber quantas pessoas cozinharam os pratos e estavam isentas da lavagem. Não achei solução, pois a única coisa que sei é que “noves fora, zero”.

Fiz o que qualquer um faria no meu lugar: abri uma cerveja. Ah, sim, a louça, claro que lavei boa parte dela, o quanto meu tempo me permitiu lavar. E ainda fiz a janta na sequência. Sou desses, que faz a janta para não precisar lavar a louça. Mas de vez em quando a louça sobra pra mim mesmo assim, coisas da vida, nada de mais, sabe? O equilíbrio da vida é cada um fazer a sua parte, que não necessariamente é igual pra todo mundo.

Essa história de meio a meio não funciona, nunca funcionou, mas precisa ter a cabeça boa pra entender isso. Precisa ter a noção de vida do talento norte-americano que não quer mais aumento salarial, essa plenitude de quem joga videogame no trabalho. Enquanto tem gente lutando pra acabar com a injustiça social no mundo, ainda tem quem pense que é “injustiça” cozinhar e ter que lavar a louça mesmo assim. O meio a meio perde a vez quando a gente aprende o que é equidade.

Equidade é um lance de julgamento justo, de oportunidades em termos de igualdade, mas não necessariamente de dividir tudo meio a meio. Procura no Google que você vai ver os três guris assistindo a um jogo de basebol. Sério, essa imagem é clássica. Fizeram até uma versão com um jogo de futebol (pro brasileiro médio entender), afinal, quem iria querer ver basebol, né? Jogo chato.

Lembro de uma propaganda eleitoral onde um político dizia que aprendeu ainda criança como dividir os doces com o irmão mais velho: o irmão podia cortar ao meio, mas quem escolheria qual parte seria sua era o politiquinho. Ora, vê se pode, ainda elegeram esse cara que estava claramente explicando para a população que desde pequeno aprendeu a não ser passado para trás e, muito pelo contrário, sair na vantagem sobre o irmão. É por isso que meio a meio não funciona e injustiça é outra coisa.

Na próxima vez que encontrar a pia cheia de pratos que julgar não ser de sua responsabilidade lavar, lave mesmo assim. Sério, não custa muito. Aproveite para lavar o banheiro, passar um pano na casa, sei lá. A única regra que continua intocável é que “sentou na mesa do bar e sorriu, a conta dividiu”.

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