Memória, identidade, cidadania e festa em políticas públicas
Este ano eu tive a oportunidade de auxiliar uma equipe sensacional de universitários a viabilizar, junto aos órgãos competentes, um bloco pré-Carnaval em Juiz de Fora.
Quem vive na cidade mineira já sabe que a cidade morre no feriado e a festa acontece mesmo é antes dele chegar.
Assim, levou-se para uma área cuja vida social é ditada majoritariamente por estudantes (embora seja cercada por regiões mais suburbanas e periféricas - e por alguns condomínios também) um evento de rua com música, consumo e estrutura como já não havia há alguns anos no bairro. A receptividade foi surpreendente, com estimativas entre 1.000 e 2.000 presentes ao longo das pouco mais de seis horas.
O impacto foi sentido: ficou indiscutível à organização e a muitos dos participantes a relevância que têm ambientes de livre manifestação de corpos e ideias, de celebração da arte, cultura e vida em sociedade. Em especial, que explorem novas alternativas de ocupação da cidade, fora do polo da região central, e com abordagens direcionadas a diversidade de públicos.
Foi, enfim, uma excelente oportunidade de ver se efetivarem bem à minha frente algumas premissas a respeito do papel de eventos, festas, na construção e reconhecimento de memórias e identidades de segmentos que compõem uma sociedade.
Premissas essas que motivaram a mim e a colega Karolyne Guedim a, no ano passado, realizar um levantamento legislativo a respeito de normas que promovessem, em Juiz de Fora, manifestações artísticas, culturais e religiosas conectadas a matriz e identidade africana, que compõem a formação de significativo contingente populacional da região, desde antes da própria fundação da cidade. Havia uma desconfiança de que, diferente do tratamento conferido pelo poder público a outras iniciativas de memória e identidade étnica-cultural, houvesse uma negligência às manifestações afro.
Na forma de um breve ensaio, esse rápido estudo foi publicado há poucos dias, sob o título de "A tutela das manifestações afro em Juiz de Fora em um breve resgate histórico-cultural", na 16ª edição do Alethes: Periódico Científico da Graduação em Direito da UFJF.
Foi uma grande alegria ver nossas inquietações (e provocações) acolhidas na revista, compondo o dossiê Memória e Cidade, formado por mais outro ensaio, fotografias e poemas de graduandos vários. Tudo recebido, apurado e triado por outros graduandos, que compõem a editoria do periódico, em uma iniciativa de importância acadêmica, cultural e social, da melhor forma que se pode ser.
O resultado pode ser lido livremente, clicando-se no título, acima, ou no link, ao final.
Que a discussão teórica e as práticas efetivas de políticas públicas sejam avivadas e apropriadas por todos nós, como é nosso direito e dever de cidadãos.
Aos interessados, boa leitura e espero pelas suas ponderações :)