Menos celular. Mais entrega
Estamos vendo o mundo pelas telas de celular. Justo o mundo, tão lindo, tão inteiro, tão vasto de lugares, pessoas e experiências, que nos é dado de presente no momento presente… justo ele, sendo visto pela tela de míseras 4 polegadas dos celulares.
Os pais já não veem mais seus filhos fazendo coisas belas a olhos nus. Enquanto dançam e mostram toda a beleza de um ano inteiro de aprendizados, na festa de fim de ano da escola, são vistos através das lentes. Já não contemplamos mais um lindo lugar ou a natureza com calma. A pressa em sacar a câmera e registrar o momento tira a leveza da observação genuína.
Para a maioria das pessoas, mais importante do que estar presente no momento, e entregue à emoção que as situações proporcionam, tem sido o registro daquilo pelas câmeras. Perdemos a naturalidade da vida. Deixamos passar o frenesi de um momento pelo ato mecânico de posar para fotos. Ao invés de captarmos o mundo, preferimos nos captar no mundo em forma de selfies. A amplitude perdeu importância e se reduziu a nós, ou melhor, a pedaços de nós, a nossos rostos, enquadrados pelo que consegue a distância do pau de selfie.
Ocorre que todos esses momentos e sensações não voltam nunca mais. Desperdiçar a oportunidade pouquinho a pouquinho é deixar a vida passar. É prender-se apenas a pequenas polegadas e dar tchau para o macro do que os olhos da alma veem. Registrar no coração é muito mais importante que na tela. Alguns momentos não valem a pena serem desperdiçados pelo foco do celular, mas sim vividos pelo foco do coração.
Arita