MENOS “OUs” E MAIS “Es”.
Você já deve ter escutado alguém dizer que tal pessoa é 8 ou 80, ou que uma pessoa é do bem ou do mal, ou ainda se você não está comigo, está contra mim e o clássico do generalismo Brasil ame-o ou deixe-o, mas perceba, quantos “OUs”. Quem inventou que é preciso abrir mão das coisas que se gosta, por ter desejado uma coisa nova? Ou ainda, quem disse que não posso ter várias posições sobre um assunto?
Na nossa tradição pós-ditadura, ainda temos uma postura (mind set) fascista pois baseamos nossos fundamentos morais em cristianismo dissimulado e ordem militar estúpida que caracterizava o “cidadão de bem” dos tempos de outrora com muita repressão às contra-culturas. Por quê perseguiam tantos intelectuais e artistas de 1964 a 1985 e não os ignorantes político-culturais? Pergunta retórica…
Hoje em dia nos vimos divididos entre “coxinhas ou petralhas” sem nenhuma menção as alternativas disponíveis, como a indiferença ou as sub-divisões dos conceitos de esquerda e direita. Posso ser de direita mas contra a ditadura militar, posso ser de esquerda e contra a ditadura comunista, posso ser socialista sem deixar de ser capitalista ou ainda monarquista-social-capitalista (alô rei da Suécia!) ou ainda liberal com enfoque nas causas sociais. Menos anarcocapitalista, por favor…
O fascismo em nossa democracia desmoralizada reside no simples ato infantil de que adultos não conseguem lidar com opiniões contrárias, mesmo sabendo que existam outros seres, com outros corpos e ideias diferentes, e por consequência as vezes, ideias discordantes. A solução fascista é matar todos os discordantes (vejam Cuba e Irã, ou nosso antigo colega Geysel) e na estupidez todos se igualam, pois estão errados.
Eu não preciso me polarizar entre gostar de fermentados OU destilados, salada OU churrasco, Ivete OU Claudinha, Corinthians OU Flamengo, torcer pro Brasil na copa OU pra ninguém. Eu sou adepto do E, posso ser hétero E apoiar a proteção aos gays, posso ser homem E defender a igualdade de gêneros, posso gostar de carro E de bicicletas, posso ser passional E racional, não me limito a binariedade inexistente imposta por uma ordenação sacro-militar quem nunca deu nem dará certo.
Eu sou um humano livre pra ser e existir além da aceitação alheia.
Somar é melhor que abrir mão.