Menos "Você se formou em que? Mais "O que você já viveu?"
Vida de empreendedor não é fácil, principalmente quando está no início. Eu vivia uma jornada dupla, assim como 99% das pessoas que decidem começar a empreender. Sem salário na sua nova jornada, é preciso trabalhar em outra empresa para custear o seu sonho. Até aí nada demais, esse é o processo. Porém, muitas coisas aconteceram nesses últimos meses e essa loucura de pandemia transformou o jornada dupla em "Se vira nos 30".
Em março, com 10 dias de pandemia, fui demitido da empresa em que trabalhava, aquela que fazia parte da jornada dupla e que pagava minha contas e ajudava a manter vivo o sonho do novo projeto. Fiquei meio perdido, mas vi que talvez aqui fosse um sinal de que agora era a hora de dedicar 100% do meu tempo à "Isso não é". Acontece que nem tudo é como achamos que vai ser, existem muitas variáveis nessa decisão de se dedicar integralmente à um projeto que ainda não dá lucros significativos. Fui, então, dar uma olhada nas vagas de emprego e, pelas descrições, me senti um ET que acabou de chegar na Terra a procura de emprego. Parecia que eu não fazia parte daqui e que nada se encaixava no meu perfil ou que eu não tivesse o que era preciso para aquela vaga. De qualquer forma, decidi que iria atualizar o meu currículo, depois de aproximadamente 7 anos sem nem ter encostado nele. E, pra minha surpresa, meu irmão, eu já fiz coisa pra CAR@%$#!
Não vou me alongar muito, até porque esse não é um artigo sobre a minha vida, mas, só pra ter uma idéia, vou colocar algumas coisas:
- Já fui sócio em uma empresa de Turismo Pedagógico - Isso com 23 anos, trabalhando com crianças, viagens e com criação de conteúdo pedagógico para aulas externas, etc. Trabalhar com criança (lembrem-se de que são filhos dos outros, maior jóia de uma família) é uma das maiores responsabilidades do mundo, podem acreditar.
- Um ano depois, com 24 anos, abri uma loja de biscoitos e doces, daquelas típicas de centro e rodoviária, que vendem de tudo, lá no centro do Rio de Janeiro. Pra se ter uma ideia, atendíamos duas mil pessoas por dia. Não estou exagerando, essa era a nossa média de clientes. Agora me diz, qual faculdade poderia me ensinar o que eu vivi atendendo duas mil pessoas por dia?
Enfim, esses dois foram os exemplos mais robustos que quis detalhar aqui, mas também trabalhei com intercâmbio, fui especialista no destino Austrália. Também trabalhei em produtora de evento, sócio de empresa de foto lembrança para casamentos e hoje atuo na área de publicidade, mais focado em atendimento/marketing e também com a "Isso não é", que é uma empresa do setor 2.5, com foco em impacto social.
Apesar de ter feito bastante coisa, ter vivido várias experiências diferentes, continuo na mesma dúvida se existe uma vaga pra mim, afinal, as vagas são descritas por cargos com nomes gringos, as entrevistas são mais norteadas por: "onde se formou, qual sua profissão, faz o que da vida..." e menos por "Me diz um pouco do que já fez, qual seu maior sonho, qual foi sua maior experiência..."
Esse texto, na verdade, foi só pra desabafar, tirar um sentimento da cabeça e passar para o "papel". Não tenho respostas do que é certo ou errado, o mercado funciona assim e ainda faz sentido para algumas vagas. Por exemplo, não dá para ser engenheiro ou médico só com o que você viveu. Mas, sim, existem profissões/cargos em que sua experiência e as chamadas "soft skills" poderiam ser o principal para a vaga. Espero um dia conseguir mudar algumas coisas, talvez contratar meus funcionários de maneira um pouco diferente. Para mim "O que você viveu" vai ser sempre maior do que "no que você se formou".
Se você já se sentiu dessa forma, como se o mercado fosse algo gigante e você um ponto fora dele, deixa uma mensagem aqui pra mim contando sua experiência. ;)
PS: Sou formado em turismo. hahaha