Mercado vai passar agosto se ajustando a setembro
Por Olívia Bulla 白维娅
Para mais informações, leia A Bula do Mercado.
Bastou o Federal Reserve dizer, na última quarta-feira (31), que cortes na taxa de juros dos Estados Unidos estarão na mesa em setembro, que o mercado financeiro enlouqueceu. A forte onda vendedora global vista na semana passada tem continuidade nesta segunda-feira (5).
Tudo começou do outro lado do mundo. A Bolsa de Tóquio desabou 12%, na segunda pior queda diária na história do mercado acionário japonês - a primeira ainda é o tombo de 14,9% da chamada “Black Monday”. A queda mais recente ocorreu em meio à forte valorização do iene, que “pulou” da faixa de 160 por dólar e já vale cerca de 140.
O sell-off passa pela Europa, onde os principais índices de ações têm perdas de mais de 2%, e chega até Nova York. O destaque fica com o recuo de 4,5% do futuro do Nasdaq, que mergulha dentro do território de correção diante da decepção com os balanços das big techs e as incertezas em torno da corrida pela Inteligência Artificial (IA).
A narrativa que ganha força, desta vez, é o medo de recessão da economia dos Estados Unidos. As preocupações sobre uma forte desaceleração da atividade norte-americana se intensificaram, com os investidores apostando que o Federal Reserve precisará cortar a taxa de juros rapidamente para estimular o crescimento.
Precisa desenhar?
Mas não teria sido o contrário? Ou seja, o Fed demorou demais para agir e, agora, os mercados globais estão convencidos de que será preciso reduzir os juros antes mesmo de setembro - e depois mais vezes - para a autoridade monetária não ficar “atrás da curva”.
Talvez seja apenas um wishful thinking para que os investidores não fiquem para trás. Como se sabe, tempo é dinheiro e esperar até setembro pode resultar em perdas inesperadas. Isso porque o espaço para ajuste é curto e precisa ser rápido.
Recomendados pelo LinkedIn
Assim, os ativos que estavam com valuations em “níveis estúpidos” têm uma correção mais forte. Basta lembrar que as ações do setor tecnologia saíram vencedoras durante o aperto monetário mais rápido e intenso nos EUA, entre 2022 e 2023.
Aliás, alguém aí já parou para olhar as Treasuries? O juro projetado pelo título dos Estados Unidos de 10 anos (T-note) iniciou a semana passada - portanto, antes do Fed - levemente abaixo de 4,200%. Nesta segunda-feira (5), a taxa referencial amanhece abaixo de 3,750%. Da mesma forma, o papel de 2 anos (T-bill) saiu de 4,38% para 3,78%, no período.
É essa queda de quase meio ponto percentual, cada, em menos de três dias que explica o movimento abrupto dos ativos de risco desde então. Ou seja, é o ajuste dos investidores no mercado de bônus ao início do ciclo de cortes pelo Fed já no mês que vem - e com quedas adicionais depois - que provoca um efeito em cadeia nos mercados globais.
E depois…
Isto posto, uma vez ajustada as expectativas em relação ao Fed, o jogo muda. Em um segundo momento, é o dólar que deve ficar mais fraco e o apetite por ativos de risco, maior. Afinal, na teoria, o cenário de juros mais baixos nos EUA é bom para o real e as moedas emergentes.
Mas, por ora, prevalece a tese de que sempre dá para piorar um pouco mais, antes de melhorar. Nessa ideia de que “o barato de hoje pode ser o caro de amanhã”, o Ibovespa ainda sofre com o mantra de um Banco Central leniente com a inflação.
Daí porque a ata do Copom, amanhã, e o IPCA de julho, na sexta (9), podem provocar alterações no mercado doméstico - ainda mais agora que o Fed colocou corte dos juros na mesa e a agenda econômica por lá é vazia nesta semana.
💊 Pílulas do Dia
Big techs em xeque: Microsoft decepciona, Amazon deixa Jeff Bezos menos rico e só Meta salva.
Taxa das blusinhas: Sete em cada 10 brasileiros compram em sites estrangeiros e vão sentir imposto acima de US$ 50. Saiba mais
No pódio: Ouro brilha em Paris e também nas aplicações financeiras. Leia aqui.