Metade do Líder, Metade do Resultado: 
O Que Acontece Quando o Líder Só Sabe Falar e Não Sabe Fazer

Metade do Líder, Metade do Resultado: O Que Acontece Quando o Líder Só Sabe Falar e Não Sabe Fazer

Nos últimos anos, o foco em habilidades comportamentais no desenvolvimento de líderes se intensificou. Qualidades como empatia, inteligência, emocional, engajamento e colaboração passaram a ser exaltadas como marcas de um bom líder. Mas, enquanto essas competências ganharam espaço, as competências técnicas ficaram em segundo plano, relegadas ao papel de coadjuvantes. O resultado dessa tendência é o surgimento de líderes “mancos”: profissionais que, apesar de exímios em criar vínculos e inspirar, cuidam da bagagem técnica necessária para decisões estratégicas e o avanço organizacional.

O cenário que emerge dessa realidade é paradoxal. Se, por um lado, as empresas são mais humanas e conscientes do bem-estar de seus colaboradores, por outro, observamos uma lacuna técnica em posições de liderança que limita a eficácia de muitas dessas boas intenções. O equilíbrio entre as competências comportamentais e técnicas é essencial para que os líderes não apenas se conectem com suas equipes, mas também guiá-los rumo a objetivos claros, mensuráveis e diferente dos atuais.

 

Como Chegamos a Este Ponto?

A ênfase nas competências comportamentais surgiu como resposta a uma demanda por ambientes de trabalho menos tóxicos e mais inclusivos. O mundo corporativo, até então marcado por lideranças rígidas e focadas apenas em resultados financeiros, viu a necessidade de uma transformação. Com o avanço dos estudos sobre emocional, bem-estar e cultura organizacional, o líder ideal começou a ser retratado como aquele que entende, inspira e se engaja. As competências técnicas, antes vistas como imprescindíveis, passaram a ser vistas como "treináveis" ou até mesmo "delegáveis".

Essa transformação foi impulsionada também pela mudança no perfil das gerações que hoje compõem o mercado de trabalho. Os colaboradores atuais, especialmente os mais jovens, exigem mais dos líderes: querem empatia, atualidade, flexibilidade e, acima de tudo, respeito por suas necessidades pessoais.

No entanto, o preço pago por essa supervalorização das competências comportamentais foi o abandono, muitas vezes inconsciente, das habilidades técnicas.

Ao abraçar completamente essa abordagem mais humana e focada no comportamento, muitas organizações deixaram de capacitar seus líderes para lidar com as complexidades técnicas de seus setores. O conhecimento profundo das operações, o entendimento detalhado dos produtos e processos, e a capacidade de aplicar insights técnicos em decisões estratégicas ficaram em segundo plano. O resultado é um tipo de liderança que pode ser carismática, mas falta-lhe substância para enfrentar desafios de alta complexidade.

 

Os Efeitos na Gestão: Avanços, Retrocessos e Conflitos

A priorização das competências comportamentais trouxe avanços inegáveis para o ambiente corporativo. Com um foco maior em empatia, inclusão e bem-estar, as empresas buscam criar espaços mais acolhedores e reduzir o estresse, tornando o trabalho mais atraente para colaboradores de diferentes perfis e estilos de vida. Esse novo modelo de liderança colaborativa incentivou também a criatividade e a inovação, criando uma cultura onde ideias diversas não são apenas aceitas, mas ativas incentivadas.

No entanto, esse progresso veio acompanhado de retrocessos no campo técnico. Com líderes cada vez mais orientados para as pessoas, mas sem profundidade técnica, as decisões estratégicas e operacionais são menos precisas. Em muitos casos, esses líderes acabam delegando decisões técnicas a especialistas, sem o entendimento necessário para avaliar as implicações. Essa dependência, além de gerar uma lentidão no processo decisório, também desvia o líder de seu papel de responsável pela visão e pela direção estratégica.

Essa carência de habilidades técnicas tem provocado conflitos silenciosos dentro das organizações.

Os colaboradores percebem quando seus líderes não dominam o suficiente sobre a área de atuação ou sobre as tecnologias que impactam diretamente, o que gera desconfiança. Embora possa admirar o lado humano do líder, falta de segurança nas decisões estratégicas que abalam a confiança geral. Isso cria uma dissonância: enquanto o líder tenta inspirar e motivar, a equipe sente a ausência de uma base sólida que sustenta as decisões. Esse desalinhamento pode impactar diretamente a cultura organizacional e, eventualmente, os resultados.

 

O Elo Faltante para uma Liderança Completa

As técnicas são o eixo que sustenta a capacidade de inovação e adaptação de qualquer organização. Em um ambiente de negócios marcado por mudanças tecnológicas aceleradas, um líder que não compreende profundamente seu setor está sempre em desvantagem. Não se trata apenas de dominar habilidades específicas, mas também de cultivar uma mentalidade de aprendizado contínuo e uma visão técnica que inspira segurança e confiança. O aspecto líder com competências técnicas bem desenvolvidas, ao contrário do que muitos imaginam, não precisa sacrificar o humano de sua liderança; Ao contrário, ele deve saber equilibrar uma visão estratégica com o conhecimento técnico, criando uma liderança completa e resiliente.

Para que esse equilíbrio se concretize, certas habilidades técnicas tornam-se essenciais. Entre elas, destaca-se a capacidade de planejamento estratégico flexível, crucial para lidar com as incertezas do mercado e definir objetivos que possam ser ajustados conforme a necessidade. Esse tipo de planejamento permite ao líder responder rapidamente a crises e oportunidades, mantendo uma empresa atualizada com sua visão de longo prazo sem perder a adaptabilidade.

Além disso, o domínio de gestão por resultados permite ao líder definir indicadores claros de desempenho e avaliar o progresso de forma objetiva, realinhando as equipes quando necessário para alcançar os objetivos organizacionais. Essa abordagem evita o desperdício de recursos e energia, garantindo uma cultura externa para a realização e a entrega de valor.

Uma tomada de decisão otimizada é igualmente vital. Saber decidir com rapidez e precisão é uma habilidade essencial para o líder que busca excelência em um cenário dinâmico. A gestão executiva de projetos, por sua vez, é uma competência que garante a eficácia na execução dos planos. Líderes que dominam metodologias como Agile e Lean, além de técnicas de alocação de recursos, prazos e gerenciamento de riscos, lideram equipes focadas em resultados, executando projetos que agregam valor e promovem o progresso da organização.

A gestão de processos completa essa base técnica necessária, garantindo operações ágeis e enxutas. O conhecimento em mapeamento, análise e otimização de processos internos permite ao líder identificar gargalos e eliminar ineficiências, aumentando a produtividade e utilizando melhor os recursos. Ferramentas como o BPM (Business Process Management) apoiam essa gestão contínua e criam uma estrutura organizacional que favorece o crescimento sustentável.

Empresas que conseguem combinar essas duas dimensões se destacam, pois apresentam uma capacidade superior de adaptação e de entrega de novos resultados, sem abrir mão de um ambiente colaborativo e positivo.

A integração entre essas competências técnicas e as habilidades comportamentais gera líderes mais completos, capazes de tomar decisões informadas e de mostrar resiliência em crises. Esses líderes, ao manterem a empatia e a comunicação eficaz, dominam também as nuances de suas áreas, inspirando confiança e gerindo suas equipes com solidez.


Desafios e Incômodos de uma Liderança Desequilibrada

Líderes que avançaram no desenvolvimento técnico enfrentaram uma série de desafios. Internamente, muitas vezes se sente desconfortável ao tratar de assuntos mais complexos com suas equipes, o que gera uma dependência de especialistas ou consultores. Essa postura, ao invés de facilitar o fluxo de trabalho, tende a tornar as decisões mais lentas e incertas. Por outro lado, do ponto de vista da equipe, a ausência de liderança técnica pode causar frustração e falta de direcionamento.

Outro impacto significativo é a fragmentação da cultura organizacional. Quando os colaboradores percebem que os líderes não têm domínio técnico, a confiança nas decisões diminui. Surgem dúvidas sobre a capacidade dos gestores em lidar com problemas complexos, o que gera uma desconexão entre "quem pensa" e "quem faz". Essa divisão prejudica a coesão da equipe e coloca em risco a execução de planos estratégicos.

Além disso, as rápidas mudanças no mercado só intensificam esses problemas. A pandemia, por exemplo, expôs a fragilidade de lideranças focadas apenas no comportamento humano, que se viram despreparadas para as decisões tecnológicas e operacionais ordinárias pela crise. Enquanto algumas empresas lideradas por gestores técnicos preparados, conseguem se adaptar rapidamente, outras ficaram estagnadas, sofrendo os impactos de uma gestão desequilibrada.

 

Rumo a 2025 – O que precisamos fazer de diferente

Para confirmar esse rumo em 2025, precisamos de uma revisão profunda nos modelos de desenvolvimento de líderes. Não se trata de escolher entre técnica ou comportamento, mas de construir um modelo de liderança híbrido que una ambos os aspectos de forma orgânica. O líder do futuro não pode ser apenas "o que motiva", mas também "o que entende". É essencial que os programas de desenvolvimento priorizem um equilíbrio entre as duas áreas, integrando competências técnicas e comportamentais.

A tendência é que surjam modelos de formação mais integrados e pragmáticos, que combinem workshops sobre habilidades interpessoais com treinamentos práticos em inovação, tecnologia e processos específicos da indústria. Além disso, as empresas deverão compensar os seus critérios de avaliação. Em vez de medir o sucesso dos líderes apenas pela capacidade de envolver as pessoas ou pela empatia, também deve avaliar a capacidade desses líderes de impactar o negócio com decisões embasadas técnicas.

O caminho promissor é a formação de perfis híbridos na liderança, onde o técnico é tão valorizado quanto ao comportamento.

Esses líderes têm a capacidade de transitar entre o entendimento profundo dos desafios operacionais e a conexão com as pessoas, o que lhes permite liderar com mais eficácia em cenários de incerteza. Essa visão mais completa da liderança trará uma gestão mais dinâmica, capaz de se adaptar rapidamente e de promover uma cultura organizacional sólida.

A liderança manca é o reflexo de um desequilíbrio nas prioridades do desenvolvimento corporativo. Ao focar nas competências comportamentais e relegar as técnicas para o segundo plano, as organizações desenvolveram uma geração de líderes inspiradores, mas, muitas vezes, ineficazes nas decisões estratégicas. Em um mundo cada vez mais complexo e competitivo, a liderança exige equilíbrio: técnica e comportamento necessários andar de mãos dadas. Somente assim construiremos empresas mais fortes, adaptáveis e capazes de prosperar em qualquer cenário.

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