A Metodologia Zero-Based FP&A
O conceito de ZBB (orçamento base Zero) emergiu nos anos 70, rapidamente se tornou popular e até os dias de hoje é considerado uma metodologia eficiente pela grande maioria dos profissionais da área e organizações. Basicamente, o ZBB descarta o “histórico de custo” do período anterior e olha para cada linha de despesa do orçamento como sendo Zero seu valor inicial e então avalia a necessidade de alocação de recursos ou não, sem deixar com que o histórico do período anterior seja apenas “carregado” para o novo orçamento com um possível percentual de aumento (ex: inflação) ou de redução (ex: aumento de produtividade, targets de redução de custos top-down, etc)
Apesar de ser um método trabalhoso, o ZBB ganhou força principalmente na última década devido aos seguintes drivers:
Maior facilidade na elaboração e gestão devido a evolução dos sistemas de planejamento, assim consumindo cada vez menos tempo.
Solução alternativa ao método tradicional, que diante de cenários de incerteza e mudanças rápidas se torna ainda mais impreciso. Principalmente pós crise de 2008, quando aumentou a busca por melhores práticas na gestão de custos e despesas.
A crise atual causada principalmente pelo COVID-19 deixou grande maioria das corporações com budgets mortos ou em estado de coma, bem como forecasts não realistas. Momentos como este mostram que as atividades de planning e forecasting precisam ser mais adaptáveis e ágeis. Diante disso, a metodologia Zero-Based passou a ser utilizada pelas maiores consultorias do mundo (McKinsey, Bain, Accenture) não somente no budget, mas também em áreas como Supply Chain, Marketing, Design, entre outras.
Ainda que o conceito de ZBB esteja em pleno crescimento, o mesmo apresenta limitações históricas e não é possível resolver as ineficiências de FP&A apenas com a abordagem “corte de custos” e “gestão de custos” associadas com o tradicional ZBB. Assim foi desenvolvido o conceito de Zero-based FP&A (ZB FP&A) pelo International FP&A Board que visa dar um olhar novo para todo o processo de planning e forecasting.
A metodologia ZB FP&A envolve a aplicação do Zero-based em todas as linhas das três principais demonstrações contábeis (P&L, Cash Flow, Balance Sheet), ajudando na remoção de “gorduras” desnecessárias oriundas do processo tradicional de planning/forecasting, aumentando assim a visibilidade dos direcionadores chave para o negócio e criação de valor.
A implementação do ZB FP&A se dá pelos itens abaixo, que demandam não só conhecimento técnico bem como integração e parceria com as áreas envolvidas:
- Entrevista e colaboração com os stakeholders dos centros de custo e centros de lucro;
- Pesquisa dos principais drivers do negócio por meio de métodos analíticos
- Educação dos principais stakeholders sobre os drivers do negócio e técnicas de forecasting;
- Gestão e manutenção de todo o processo.
Não há uma receita pronta de sucesso garantido para a implementação do ZB FP&A. Entretanto, os 10 passos a seguir podem ser considerados pela sua organização como um possível caminho:
1 - Identificar o propósito do processo:
É um apenas um processo de gestão de custos?
É desejado melhorar a flexibilidade do processo de planning como um todo?É possível aplicar a metodologia Zero-based a todas as linhas do P&L, Cash Flow e Balance Sheet?
2 - Apoio interno:
Este não é um exercício apenas da área de FP&A, envolve toda a organização e portanto demanda apoio operacional das áreas e uma gestão top-down.
3 - Priorize os itens a serem investigados e os ranqueie:
Os principais stakeholders devem definir quais itens do planejamento irão se beneficiar dessa metodologia.
Lembrar que o principal objetivo deste processo é eliminar vícios históricos
Este método funciona bem para os pacotes de custo independentes bem como alguns itens independentes do Cash Flow.
4 - Entrevista aos stakeholders dos principais pacotes:
Previamente entender os drivers chave de cada pacote.
O conceito de ZB FP&A pode não ser familiar a todos os envolvidos no processo e isso pode causar um desconforto e até certa resistência à mudança. Por isso, a conscientização sobre o método é tão importante quanto o método em si.
5 - Identificação dos drivers chave do negócio (ex: preço médio por unidade, % de market share, etc) para que sirvam como base do processo de planning
6 - Criar uma rotina colaborativa e consistente para o ZB FP&A para tornar o processo regular e contínuo. Entretanto, o método também pode ser aplicado pontualmente.
7 - Visibilidade e responsabilidade: Mostrar os resultados, os envolvidos e os responsáveis é um fator chave para o sucesso do método. A visibilidade dependerá muito de algum sistema colaborativo atual. O tradicional “excel” torna difícil o acompanhamento e exposição dos resultados.
8 - Monitorar as variações e ajustar os drivers: Tarefa vital deste processo que inevitavelmente necessita de tecnologia para que seja feita com confiabilidade e agilidade.
9 - Automação do processo ao máximo: Zero-based por si só já é um método trabalhoso, planning idem. A junção destes demanda também a utilização de tecnologias para simplificar a execução do processo, análise das distorções, justificativas e planos de ação.
10 - Criar cultura analítica: é necessário se distanciar do método tradicional de budget para pôr em prática um processo flexível e dinâmico de planning. Abordagem baseada em drivers permite re-planejamentos com maior agilidade e torna mais fácil a criação de cenários para planejamentos pontuais.
Principais conclusões sobre o método ZB FP&A:
Tecnologia é um aliado quase que indispensável na implementação e sucesso. Os sistemas recentes tornam possível a aplicação de forma mais eficiente e eficaz.
A mudança de mindset é parte necessária do processo. O mesmo deve ser visto não como um redutor de recursos, mas como uma forma de criar valor, realocando dinheiro para abastecer o crescimento.
Governança e ownership são fatores chave para a sustentabilidade do processo.
Referências:
Tax Technology Specialist 💡
4 aMais do que nunca o planejamento financeiro se faz necessário! Imagino que o zero-based deve ter uma implantação um tanto quanto desafiadora, para todas as áreas, uma vez que envolve muito pensamento fora da caixa. Deixar o passado "de lado" e reclassificar as contas sem viéses não é uma tarefa fácil. Ótimo artigo!