Meu amigo Glaucus
Meu amigo Glaucus
Conheci o Glaucus quando mudei de escola, indo estudar o 3º ano do primário no E.E. Padre Manoel da Nobrega na Casa Verde em São Paulo, o famoso Matão. Foi um dos meus novos amigos e colegas; frequentava a casa dele para estudar e brincar. Tenho registro em minha memória de muitos detalhes, mas apenas até a 5ª série, depois não me recordo de nada, não sei quando mudaram daquela casa.
A mudança do Ginásio Israelita Brasileiro Sholem Aleichem para o Matão foi o primeiro choque de realidade de minha vida; a única coisa em comum é que havia alunos e professores, mas até esses eram totalmente diferentes.
Não surtei, não precisei fazer terapia, tampouco o uso de nenhuma droga de tarja preta; acredito que a habilidade com que meus pais nos apresentaram essa nova realidade facilitou o processo. Tenho a sensação de que hoje, apesar de tudo ser aparentemente mais fácil, ou de um maior número de pessoas ter acesso a muitas coisas e à informação, a realidade parece cada vez mais distante e, consequentemente, a adaptação, viver nas mídias sociais, pode por vezes ser legal, mas infelizmente na maioria das vezes é irreal!
O Glaucus morava numa casa na Rua Saguairú, subindo sentido Rua Dr. Cesar Castiglione, uns três imóveis antes do posto de gasolina, na esquina. A fachada da casa tinha uma barra de pedras vermelhas comum às construções dos anos 60; o piso do acesso à casa, que também servia a garagem, era de cacos vermelhos, elementos idênticos aos de minha casa, mas a casa dele tinha uma grande diferença: um porão − mas não qualquer porão, havia uma entrada por uma porta que se elevava do piso para entrar, e não era cavado ao solo como a maioria; na verdade, foi construído aproveitando o desnível da rua. Eu achava aquilo o máximo, um misto de espaço secreto, ou de esconderijo das construções coloniais portuguesas.
Aqui coloco minha memória a prêmio, mas vamos em frente: eram três irmãos, o Glaucus era o do meio, acho que o mais velho se chamava Gabriel. Irmão mais velho nesta faixa etária é algo muito distante, goza de outro status, pois já é (ou se considera) grande; e o caçula o Tarcisio. Tenho a lembrança de sua avó, acho que morava no mesmo imóvel, numa casa independente ao fundo, se não na casa próxima à Igreja, onde moravam seus primos Fátima e Ernesto, ambos mais velhos do que nós.
Várias vezes fui jogar pingue-pongue na casa da Fátima, e o Ernesto, que tinha uma moto Honda vermelha (acho que era uma 90cc), deixava eu dar uma volta pilotando na pracinha que havia na frente de sua casa... era uma aventura!
A última passagem de que tenho registro foi na 5ª série, quando, incentivados pelo professor de português, montamos a apresentação da peça “ A pílula falante”, de Monteiro Lobato. Esta experiência merece um conto à parte: o Glaucus não foi ator, mas tinha participação importante no staff (na época, na verdade, não se chamava staff, simplesmente eram os colegas que ajudavam), ele disponibilizou maquiagem e outros elementos para a caracterização; seu pai tinha tido alguma participação ou proximidade com o teatro, e lembro dele contar que o pai havia sido amigo do incrível ator Sergio Cardoso.
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Uma mensagem de uma colega em comum me trouxe a memória deste amigo, e sem pestanejar escrevi este relato. Agradeço aos pais dele que, pela escolha de seu nome, facilitaram muito meu trabalho.
Aproveito a oportunidade para homenagear todos os amigos e colegas deste momento tão importante de minha vida: a chegada a uma escola nova, e me desculpo pelos não nomeados; não se sintam esquecidos, isto já é outra coisa.
Márcia Lian, Eliana de Oliveira, Regis Evangelisti, Rogerio Mani, Márcia Regina Morcelli, Eduardo Tura (morava na rua dos fundos do Matão; ali aprendi que sempre quem chega atrasado na escola é o que mora mais perto), Claudia Bonfim, as gêmeas Cinthia e Célia (moravam no Limão), Glaucus, Paulão, Gustavo, Jouber (não sei onde ele morava, mas lembro que era o mais distante da escola), Maria Cristina Martins, ou apenas Cristina Martins e o Alfredinho (morava ao lado do campinho de futebol da Rua Vichy).
A forma como você é recebido num novo ambiente é determinante para sua adaptação.
Schapo Marcelo
SP 11/09/2022