Meu aniversário no meio da pandemia e o mundo VUCA

Meu aniversário no meio da pandemia e o mundo VUCA

Amanhã, quinta-feira, completarei 57 anos muito bem vividos. Apenas pela terceira vez em mais de uma década, passarei o 26 de março em casa. Normalmente, quando esse dia cai no meio de uma semana, estou viajando a trabalho.

Não estou aqui para falar do confinamento ou do isolamento, nem para dizer se apoio essa medida ou não; nada disso importa agora. Tampouco vou dizer que é ótimo ficar em casa, com gato, cachorro, papagaio, periquito, blá blá blá... (até porque não há nada de ótimo quando somos forçados a frear nosso ritmo de trabalho e desmarcar nossos compromissos assim tão bruscamente, mesmo a partir de um chamamento irrecusável para uma causa que é planetária).

O que eu gostaria de enfatizar é a singularidade do momento pelo qual estamos passando. A pandemia nos nivela, nos trata a todos como iguais; não há ricos ou pobres (se bem que estes últimos acabarão, no frigir dos ovos, sofrendo mais as consequências de toda essa insanidade); não há (ou não deveria haver) o famigerado “nós x eles”. O que há, de verdade, é um mundo inteiro perplexo diante da nossa própria vulnerabilidade, com pessoas – de várias faixas etárias e de diferentes extratos de diferentes sociedades, da rica Itália ao paupérrimo Sudão do Sul – conscientes da nossa fraqueza, da nossa posição quase indefesa.

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É aí que entra o conceito que eu gostaria de trazer para a discussão: o VUCA (ou VICA, em português). Nunca essa expressão soou tão correta! O mundo dos negócios de hoje – mais do que supunham Baby Boomers, X’ers, Millenials e/ou Alphas, todos juntos e misturados nos escritórios da Berrini, na Barra ou em NYC, como também nos home offices forçados dos últimos dias – é volátil (adjetivo associado ao substantivo “volatility”, em inglês), incerto (“uncertainty”), complexo (“complexity”) e ambíguo (“ambiguity”)!

Quem criou essa expressão buscou simbolizar o quanto o ambiente corporativo é agressivo, competitivo, extremamente veloz... maluco, enfim. E não só no ambiente das empresas; isso passou a ser normal na vida! É aí que mora o perigo da falta de sensibilidade para o que está acontecendo e o que há por vir nos próximos meses: o "mundo VUCA" não pode ser a desculpa esfarrapada para nossa própria insensibilidade!

Será que agora – momento em que modelos econômicos, políticos e sociais estão sendo, mais do que nunca, postos à prova – não seria o momento de lidarmos com isso de uma forma mais... humana?

Não dá mais para ignorar que metade do planeta viva sob condições sub-humanas, vulnerável a toda sorte de problemas, enquanto tantos outros (ou nem tantos assim...) vivem como se nada tivessem a ver com isso. Yuval Harari (autor de “Sapiens”), em dois de seus três livros mais conhecidos, nos alerta para a criação de castas de privilegiados (com empregos fantásticos e bem remunerados, acesso a biotecnologia, IoT, IA, impressoras 3D que reproduzem órgãos do corpo humano, internet 5G+++, e outras maravilhas digitais e quânticas, que os transformarão em “quase-imortais”) e de hordas de desgraçados, para os quais restarão subempregos (quando houver emprego), doenças e todos os tipos de problemas modernos (inclusive exposição a vírus devastadores!). Simples assim!

Antes que me rotulem de “socialista”, “comunista”, “esquerdopata”, “amigo de bandido” e outros adjetivos do tipo, afirmo, com todas as letras: não sou nada disso! No sentido oposto, um velho amigo, ex-colega da Siemens, um dia me perguntou: “Mas Você, como consultor, não trabalha exatamente para isso?” – achei essa provocação o fim da picada, sendo identificado, por alguém que me conhecia, como parte de um mundo corporativo sem princípios, onde consultores buscariam aumentar, sem escrúpulos, o ganho de seus clientes! (Na verdade, por isso mesmo a metodologia que adotamos na EDX Consultores, para formulação e desdobramento da Estratégia de nossos clientes, seja baseada nos princípios do Capitalismo Consciente... Pronto! Jabá feito!).

Não pode haver dilema entre salvar vidas e salvar a economia!

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Só devemos nos importar com o que vamos deixar para as próximas gerações, depois que tudo isso passar. Não dá para continuarmos, como seres ditos humanos, a nos “desimportar” com grande parte das pessoas como se não houvesse amanhã. Não só haverá um amanhã, como também talvez seja tarde demais para não sofrermos (nós, nossos filhos, nossos netos) as consequências da ganância e falta de empatia dos dias atuais. Como ouvi hoje, de uma conhecida economista brasileira: “Não há dilema entre salvar vidas e salvar a economia”. Por mais VUCA que pensemos que o mundo seja!

Como consultor em Estratégia & Gestão vou focar meus esforços profissionais no apoio a meus clientes para que suas empresas não quebrem, auxiliando-os na gestão dessa crise descomunal e na busca de novas oportunidades (Sim! Oportunidades!). Mas, principalmente como ser humano, meu papel é fazer, com a serenidade possível para este momento, minha parte para tentar mitigar os impactos sociais, psicológicos e na saúde nas pessoas que estão próximas de mim (família, amigos, vizinhos, parceiros de negócios).

P.S.: Feliz aniversário para a Dona Lenyra Wolfenberg – mãe do meu amigo Carlito – e à atriz Juliana Paes, que também nasceram em 26 de março!

Luis Felipe Gonçalves

Gestão Estratégica, de Qualidade e Integrada/ Black Belt em Lean Seis Sigma/HCMBOK®/ Químico Industrial

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Excelente colocação meu amigo, em um mundo VUCA sendo a volatilidade a sua principal característica como fazemos para nos mantermos empáticos e na busca dos objetivos financeiros, porém, sem deixar para trás a nossa principal essência, ser humano. Obrigado por compartilhar esse excelente debate, parabéns pelo artigo.

Newton Conde, MSc.

Director at ANC, Business Process Improvement Consultant

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Excelente texto Edson! Parabéns e Muita Saúde! Vida em 1.lugar, o resto a gente recupera com todo o conhecimento existente. Abraço

Helio Muniz

Consultor na HM Services | Estratégia, Desempenho Profissional

4 a

Parabens Edson ! Todos que convivemos com você , sabemos o quanto voce é do bem.

Lorena Rayra Fonseca Ferreira

Compliance I CPIIC I Integridade | Conformidade | Investigação Corporativa | Gestão de Riscos | Controles Internos | Auditoria Interna | Qualidade I Gestão Estratégica de Negócios

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Ontem vi um post do Flávio Augusto (Geração de Valor) com uma pergunta bem interessante que envolve seu texto: "Como enfrentar os dois monstros sem ignorar nenhum dos dois?" (Covid-19 e Economia). Certamente essa é a pergunta de 1 milhão de dólares, rs. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come! Os dois tem dentes afiados, rs. Acredito que mesmo o mundo sendo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo), nós temos a obrigação de sermos HIPP (humanos, informados, prudentes e pacientes). Sim, essa sigla eu acabei de inventar, rsrs, para dizer que apesar das circunstâncias, precisamos e podemos fazer a nossa parte, como sermos mais humanos, nos colocando no lugar do outro, nos informarmos de forma consciente, sendo prudentes em relação às orientações passadas e pacientes porque esse cenário é temporário (bom, pelo menos todas as medidas são para que seja). Muito boa suas colocações! Parabéns em dobro (pelo artigo e pelo aniversário), rs. Abrçs.

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