Meu Nome,                                     Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano
óleo sobre tela de Manuel Jansen Fomm, 1951

Meu Nome, Isabel Fomm de Vasconcellos Caetano

Gente do céu! Tem muitas "Isabel Vasconcellos" no google. Uma delas (argh!!) é bolsonarista. A outra, irmã de um engenheiro desaparecido no Iraque. Outra, artista plástica em Portugal. Mais uma, doutora em química. Nenhuma delas sou eu, juro!

Por isso é que, de uns anos pra cá, eu mudei meu nome pra Isabel Fomm de Vasconcellos (sobrenome do meu pai) Caetano (do meu marido, Mauro Caetano). Fiz bem, né?

Além disso, os Fomm têm uma história interessante. Descendem de Carlos Jansen, filho bastardo do rei Maximiliano da Prússia, mandado, no séc.XIX, para lutar e (se a Corte tivesse sorte) morrer na Guerra do Paraguai. Mas ele não morreu e virou professor no Rio Grande do Sul, onde tem até escola com o nome dele.

Depois, alguma descendente dele casou-se com um Fomm (também nome de rua em S.Paulo) e daí nasceu a minha avó paterna, a mãe do meu pai, que se chamava Carmen Jansen Fomm. A Carmen casou-se com um Vasconcellos que morreu muito cedo (com 33 anos) e ninguém na família sabia (ou não queria saber) quem fôra ele. Não sei nada dele. Nunca soube.

Carmen e o tal Vasconcellos tiveram três filhos: Maria Isabel (Bebé, depois Bitelli), em 1907; Alfredo (meu pai, em 1908) e Raul (em 1910). Alfredo casou-se com Wanda Gonçalves de Almeida em 1933 e nascemos, meus irmãos e eu: Alfredinho, em 1934; Ronaldo Alvan, em 1936 e eu, em 1951 (a atrasadinha).

Um dos meus tios-avós era Manuel (Maneco) Jansen Fomm e tenho, na parede de casa, um quadro pintado por ele em 1951. O Maneco se apaixonou por uma cantora de ópera que, casada com ele, no Rio de Janeiro, abandonou os palcos e começou a engordar de tristeza. Virou uma obesa que passava as tardes ouvindo discos de ópera em seu gramofone. Um dia, Maneco, de saco cheio de ouvir ópera, catou o gramofone e o jogou no poço. O bicho seguiu tocando a ópera no largo caminho de descida até a água, pra desespero do Maneco!

Meu pai dizia que a atriz Joana Fomm era minha prima, mas não tenho certeza. No entanto, lá no Rio, tinha um monte assim dos Fomm. Uma delas era Helena Jansen Fomm, irmã da minha avó Carmen, uma senhora muito fina e elegante, a quem eu amava de paixão quando era criança. Infelizmente ela morreu quando eu tinha uns 15 anos de idade. Mas foi grande inspiração para mim. As duas irmãs Jansen Fomm eram louras e tinham olhos azuis.

O único da família a herdar os olhos azuis foi o Raul, irmão de meu pai, um galã que encantava as mulheres com a cara do Clark Gable (famoso ator, de "E O Vento Levou", na época), mas com os olhos azuis que Mr. Gable não tinha. Também as encantava com chorinhos bem tocados no cavaquinho ou o violão. Lembro-me de muitos fins de tarde adoráveis, na minha juventude: minha mãe ao piano, meu pai na flauta transversal ou no sax e Raul no cavaquinho ou violão. E eu... eu cantava... hahaha... Saudades de Matão, inclusive e Fascinação...

Não se fazem mais fins de tarde como antigamente. Música. Poesia. Cultura. Coisas que fazem falta nas "happy hour" do século XXI.

Em compensação o mundo de hoje é muito mais rico em possibilidades, dados os avanços tecnológicos, graças a trazermos o mundo todo nas palmas de nossas mãos, em nossos celulares. Pena que a maravilha das redes sociais seja majoritariamente usadas para mentiras, ódios, picuinhas e outras menoridades humanas.

Já o meu "Almeida" vem do meu avô postiço, pai não-biológico da minha mãe. Quando José Basílio de Almeida casou-se com a minha avó Amélia, ela já tinha a filha mais velha, minha mãe, Wanda. O pai biológico da Wanda morrera assassinado em plena luz do dia, na Rua Direita, centro da cidade de São Paulo, por uma amante inconformada com a gravidez da minha avó e com o provável casamento dele (era um dentista baiano!) com a minha avó. Isso foi em 1911. Um tempo em que assassinato ainda era um acontecimento digno das manchetes de jornal e foi pelo jornal que minha avó soube... Imagine!

Quando ela casou-se, o jovem José Basílio registrou a minha mãe em seu nome. Foi por essa generosidade de um avô que nem conheci (morreu antes de eu nascer) que, quando me casei com Mauro Caetano não tive coragem de tirar o "Almeida" do meu nome. Mas queria trocar pelo Fomm. Não o fiz e até hoje me arrependo. Deveria ter ficado Isabel de Almeida Fomm de Vasconcellos Caetano. Achei que seria comprido demais. Solene bobagem! A Princesa -- de quem herdei o nome por ter nascido no Dia da Lei Áurea, 13 de Maio -- tinha 7 nomes próprios e mais 3 sobrenomes: Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon e Bragança.

Mas ainda vou criar coragem e colocar o "Fomm" no meu nome oficial. Vai dar um trabalhão. Cartório. Poupa Tempo pra trocar documentos. Contas de banco. INSS... cruzes!

Tenho certeza porém que os meus antepassados aprovariam e que o meu amor, Mauro Caetano, cujo nome é o meu último, aplaudiria.

Renata Rainho

Produtora de Execução e Promotora

1 a

O complicado de trocar de nome é não esquecer de alterar no testamento, fazer uma atualização pros herdeiros (e não herdeiros) ficarem na justiça se o imóvel é de um ou de outro, já que uma coisa está em um nome e outras em outro. Sobre tirar de novo título de eleitor, passaporte, rg, no fim de x em x tempos já teria que tirar mesmo, o custo maior vai ser o de entrar na Justiça, o advogado e assim por diante. Talvez seja mais simples usar um "nome social" de hoje em diante.

Renata Rainho

Produtora de Execução e Promotora

1 a

O meu sobrenome é inventado. É o último rainho de luz, de esperança.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos