Mindful leadership: O novo tipo de liderança!

Mindful leadership: O novo tipo de liderança!

Mindfulness é uma maneira diferente de se relacionar com o mundo e com a própria experiência, seja ela boa ou não. A prática de mindfulness é uma herança do Budismo e embora conhecida a centenas de anos, é relativamente nova no mundo ocidental. O termo significa atenção plena. Simplesmente prestar atenção no momento presente, tomar consciência de nós mesmos e do mundo que nos cerca. Se observarmos como nos comportamos no dia a dia veremos que a maior parte do tempo temos pouca ou nenhuma consciência das situações, apenas reagimos perante as mesmas, principalmente, quando estamos sob pressão emocional. A simplicidade de prestar atenção ao que acontece ao nosso redor transforma-se em algo complexo e difícil quando tentamos praticá-la. Basta tentarmos acalmar a mente e mantê-la no momento presente para constatar o quanto é difícil. Por isso, mindfulness é uma prática que necessita paciência e tempo para ser cultivada. Pesquisas mostram que a qualidade da atenção no local de trabalho apresenta efeitos positivos na vida organizacional. As chamadas “organizações conscientes” são aquelas que cultivam uma maior consciência no momento presente, elas prestam muita atenção ao que está a acontecer e estão dispostas a detectar e corrigir os erros antes que aconteçam, respondendo rapidamente às mudanças ou problemas que surgem (Weick; Sutcliffe, 2006). A necessidade de uma liderança consciente – mindful leadership – está emergindo nesse contexto. O desafio para aqueles que querem exercê-la é ir além do óbvio; é discernir profundamente os fatores que envolvem uma questão, é ser receptivo a perspectivas divergentes e novas informações. Enfim, é integrar a atenção plena com novas formas de construção de liderança.

Baseando-se na antiga tradição oriental de estrita filosofia de valor universais , os executivos podem aprender o que é mindfulness e como desenvolvê-lo no ambiente agitado e frequentemente cheio de stress do local de trabalho no mundo atual.

Tradicionalmente, o treino destas técnicas fazem com que cultivemos seis virtudes básicas , que hoje são fundamentais para a liderança moderna: Generosidade, Disciplina, Paciência, Energia, Meditação e Sabedoria.

Os tempos mudaram e com a evolução para o século XXI, os desafios da liderança no ambiente corporativo exigem um conjunto mais vasto de capacidades de Mindfulness (Plena atenção) que são princípios essenciais para uma liderança bem sucedida:

Mente de principiante – esta qualidade de consciência aponta para tudo como se tudo na experiência fosse novo e recente, como se as coisas ocorressem pela primeira vez, com um senso de curiosidade.

Não-julgamento – esta qualidade de consciência aponta para a observação imparcial de qualquer experiência, não rotulando pensamentos, sentimentos ou sensações como bons ou maus, certos ou errados, justos ou injustos, mas apenas percebendo pensamentos, sentimentos ou sensações em qualquer momento.

Confiança – por ela, confie nua própria experiência, desenvolvendo a sua autoridade. Ninguém mais pode viver a sua vida. Confie que a vida será apenas como ela é.

Paciência – esta qualidade denota a capacidade de viver a vida como ela é, ter a capacidade de suportar dificuldades, de entender que a vida é feita de ciclos e aponta para a verdade da impermanência.

Reconhecimento – esta qualidade de consciência valida e reconhece as coisas como elas são.

Aceitação – aponta para a disposição em ver as coisas como elas são. Isso encoraja nossa sabedoria natural a tomar ações apropriadas cessando a luta eterna sobre como a vida deve ser e apenas vivê-la.

Não esforço – com esta qualidade de consciência não há apreensão, aversão à mudança, ou movimento para longe de situações de momento. Em outras palavras, não-esforço significa não tentar chegar a qualquer lugar que não seja onde você está.

Equanimidade – esta qualidade de consciência envolve o equilíbrio e promove a sabedoria. Ela permite uma compreensão profunda da natureza da mudança e permite que você obtenha a visão maior que a mudança promove bem como compaixão (serenidade – calma – equilíbrio – auto-domínio)

Desapego – com esta qualidade suavizamo-nos, liberando os nossos medos na vida, abandonando o vício da luta sem sentido. Isto leva a um relaxamento. Não que tudo seja perfeito, eu apenas não tenho mais que lutar contra isso.

Auto-confiança – esta qualidade de consciência ajuda-te a perceber por si mesmo, a partir da sua própria experiência, o que é verdadeiro ou falso.

Auto-compaixão – esta qualidade de consciência nutre o amor por si mesmo da maneira como se é, sem culpa ou auto-crítica.

Com o desenvolvimento destes “atributos” o líder desenvolve a capacidade de:

  • Curar o “local de trabalho tóxico”, onde a ansiedade, o stress e a opressão restringem o desempenho;
  • Cultivar coragem e confiança no local de trabalho;
  • Aprender a equilibrar os objetivos da liderança com a realidade do dia a dia e do momento a momento;
  • Iniciar uma prática de meditação pessoal para obter clareza, reduzir o stress e desenvolver os talentos de liderança inata;
  • Descobrir a sua inteligência essencial, a sua bravura e alegria no trabalho.

Líderes conscientes percebem que as soluções podem vir de qualquer pessoa na organização, logo, estes respeitam os seus liderados. Esse tipo de liderança impacta a cultura organizacional potencializando aspectos fundamentais relacionados com o seu desempenho como, inovação, eficiência e eficácia (Ritchie-Dunham, 2014). Por outro lado, líderes não conscientes (mindless) “criam stress, promovem isolamento e confusão, geram passividade e ansiedade, limitam e fornecem acesso redundante à informação, incentivam a complacência e cultivam mentes fechadas” (Beverage et al., 2014, p. 25).

Outra característica importante dos líderes conscientes é a resistência em simplificar e a tendência em reconhecer e compreender ambientes complexos. Eles buscam pontos de vista divergentes, observam o desenvolvimento dos processos, reconhecem a importância dos experts (ponto de vista dos especialistas da organização), e entendem que autoridade e posição nem sempre andam juntos com a perícia. Estes líderes encorajam a discussão aberta sobre problemas e erros. Reconhecem o fracasso e aceitam as surpresas, reagem com resiliência e compromisso, e buscam, continuamente, aprendizagem e adaptação (Beverage et al., 2014).

Este tipo de liderança está emergindo como uma necessidade no mundo contemporâneo. Especialmente, a nova geração que está entrando no mundo do trabalho, a chamada geração Y, não se alinha com o estilo de liderança tradicional. O grande trabalho a ser realizado está relacionado com o desenvolvimento deste tipo de liderança. É necessário integrar a atenção plena com novos construtos e modelos de liderança de modo a atender às demandas das organizações contemporâneas. Esta perspectiva afastar-se-à das abordagens tradicionais que se fundamentam sobre quem exerce a liderança e as relações entre líder-seguidor e outras variações mais modernas. Estudos recentes sobre as relações entre liderança e mindfulness mostram que a capacidade de se manter no presente, de ser sensível ao contexto, a consciência das mudanças e das incertezas, e o discernimento do que é novo e único em circunstâncias particulares têm impacto positivo sobre a liderança (Wells, 2015; Ritchie-Dunham, 2014; Beverage et al., 2014).

No seu estudo, Wells (2015) analisa a relação entre os constructos desenvolvidos por pesquisadores da mindfulness e a prática da liderança, e afirma que na medida em que os constructos são praticados os líderes modificam o comportamento, adotam uma nova maneira de ser e descobrem um modo diferente de liderar. Desta forma, a prática da atenção plena pode causar intensas mudanças na maneira como os líderes se relacionam com as pessoas na organização. Eles começam, por exemplo, a demonstrar que estão totalmente presentes: ouvem o que está sendo dito; aceitam a realidade de uma situação; tendem a ser imparciais; são pacientes; sentem compaixão pelos liderados; desenvolvem a autocompaixão para com os próprios erros; e abandonam os pensamentos e sentimentos do passado (Wells, 2015).

Figura 1 – Ações de liderança relacionadas aos constructos desenvolvidos por mindfulness.

Figura 1 – Ações de liderança relacionadas aos constructos desenvolvidos por mindfulness.

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Wells (2015, p.6).

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