Mindfulness: prática 6/8 - Reconheça pensamentos e emoções como eventos mentais

Mindfulness: prática 6/8 - Reconheça pensamentos e emoções como eventos mentais

Esta é a sexta prática do total de oito que estou revisando e que servem para exercitar um estado consciência plena ou Mindfulness. Essas orientações são baseadas no método fornecido por Michael Chaskalson, no livro Mindfulness em oito semanas (os posts das outras quatrp práticas podem ser acessados nos meus artigos anteriores)


A conscientização dessa semana para mim foi uma das mais valiosas que tive ao me deparar com a teoria do Mindfulness, a de reconhecer os pensamentos e as emoções como eventos mentais. 


Usei a metáforas das flechas num dos artigos anteriores e agora, nesta semana, mais que identificar essas flechas, estamos evoluindo para não deixar que algumas delas nos atinjam após a primeira flechada, que é a do evento adverso em si. As práticas propostas até aqui permitirão que, com o tempo, tomemos distância dos pensamentos e sentimentos negativos. 


Outra metáfora que pode ajudar a entender essa forma de agir é a de imaginar esses eventos internos (pensamentos, sentimentos, emoções) como a tela de um cinema e você sendo o expectador. Tudo que passar nessa tela você poderá visualizar, mas não necessariamente você precisará agir em relação as imagens. Esse ato ajudará você a perceber as coisas de outras maneiras, e irá libertá-lo da tirania dos pensamentos. 


Certa vez ouvi que o que pensamos sobre as coisas é só o que pensamos sobre as coisas, não são as coisas em si, e essa é a ideia dessa semana. Exercitaremos nossa atenção para alcançar a compreensão de que nossas interpretações dos eventos são significados criados com base em fragmentos da realidade, nosso passado e a forma como os eventos foram experienciados. A partir disso, poderemos nos relacionar de outra forma com nosso pensamentos, não deixando que aquilo que pensamos tenha uma influência direta e limitante frente a forma como escolhemos agir. 


Para trabalhar as habilidades propostas para essa semana:

  1. Faça 40 minutos de meditação por dia
  2. Pratique o espaço da respiração de três passos pelo menos três vezes no dia
  3. Observe atentamente como você está se relacionando com os seus pensamentos e com a prática da meditação. 


Três estratégias que você pode lançar mão para lidera com a aflição dos pensamentos:

  • Modifique o conteúdo do pensamento: Redirecione, de modo intencional, a atenção para aspectos mais suaves da experiencia, que não contribuem tanto para o sofrimento;
  • Não altere o input da mente: nessa estratégia você muda a forma como o conteúdo é processado, mas não o conteúdo. Preste atenção nos eventos desagradáveis que estão surgindo, como eles afetam o corpo, a respiração, quais tensões surgem? Ao invés de ficar perdido nas reações, aborde a experiencia com interesse e curiosidade;
  • Modifique a sua opinião sobre o que você está processando: Ao invés de focar na interpretação primeira que surge, reinterprete isso com outras palavras: ele me magoou para “sentimentos e pensamentos desagradáveis estão presentes”;


Estes são alguns dos vieses que podem estar influenciando nossa interpretação da realidade e são considerados pensamentos ineficazes:

  • Ler a mente: Ele / ela esta pensando isso;
  • Consultar a bola de cristal: sei que vai ser ruim;
  • Superestimar o negativo: Vai dar treta;
  • Eternizar: Nunca vou conseguir;
  • Esperar a perfeição: Eu não deveria estar falhando nisso;
  • Generalizar de forma exagerada: Vou precisar de muito esforço para dar conta;
  • Criticar excessivamente: Houve falha porque simplesmente não somos bons o bastante (agora, em tempos de pandemia e crise econômica é preciso tomar muito cuidado com um pensamento crítico do tipo: se eu perder o meu emprego é porque eu sou incompetente);
  • Arcar com a culpa: aquilo deu errado por culpa minha;
  • Culpar os outros: Deu errado de novo por culta do fulano (a);




Um relato pessoal do quanto os pensamentos automáticos podem prejudicar nossa evolução de diversas formas:


Eu já tinha tentado meditar várias vezes, já tinha tentado me preparar para uma maratona, tentado finalizar a dissertação do mestrado com qualidade na escrita do texto e sempre me deparava com uma mesma situação. A de ter um pensamento boicotador e de perder o foco. Na meditação, pensava nas tarefas do dia acumulando ou até mesmo no quanto eu estava dispersa naquele dia, então terminava a prática rapidinho e firmava um compromisso de que no dia seguinte seria melhor - e no dia seguinte acontecia a mesma coisa. Na corrida, o medo de enfrentar cãibras, enjoos, tonturas ou minha limitação de condicionamento físico sempre me impediram de passar dos 18km. No mestrado, acabou que nas últimas semanas escrevi o que deu com receio de não ter lido tudo o que precisava ou não ter compreendido bem o que eu encontrava de resultados. 


Todos esses são exemplos que evidenciam o quanto é difícil deixar que os pensamentos sejam só pensamentos. Ao tomar pensamentos como “meu dia está cheio, não vou conseguir focar na minha respiração agora”; “não estou suficientemente condicionada, vou parar o treino de corrida por aqui”; ou “não li o suficiente da teoria X, não vou conseguir escrever esse trecho da dissertação” como verdades, eles condicionaram a minha ação. Aí tudo que eu aprendi nas semanas anteriores acabou por acontecer: frustração, sentimentos de incapacidade, elevação do nível de estresse. 


Faltam ainda horas de treino para eu encontrar essa tal liberdade do distanciamento de que meus pensamentos são só eventos mentais, mas com a prática, uma boa noite de sono e estando bem alimentada, já tenho algumas evoluções. E a recompensa de ver que “está tudo bem”, mesmo quando coisas ruins acontecem - porque assim é a vida - é muito boa!

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