Ministra Damares: O Discurso de Posse e o episódio das cores.
Na ultima quinta-feira, dia 3 de janeiro de 2019, surgiu um vídeo em que a recém nomeada Ministra dos Direitos Humanos, a Senhora Damares Alves, dizendo que "menino veste azul e menina veste rosa".
Em prontidão, em sua maioria, pessoas avessas ao novo Governo Federal começaram a se posicionar e criticar as palavras da Ministra, alegando ser uma afronta, principalmente ao movimento LGBT, além de ser um retrocesso aos "avanços" no campo da sexualidade. Pessoas públicas, como políticos e "celebridades", publicaram fotos em suas redes sociais com roupas rosas e azuis, como forma de protesto, além de ser facilmente encontradas publicações nas mídias sociais no sentido de que o País tem outros problemas para se preocupar do que a roupa que crianças devem vestir.
Com todas as letras eu concordo que o Brasil tem tantos aspectos à serem resolvidos que discutir qual a cor que uma criança deve, ou não, vestir é uma absoluta tolice. O que eu não concordo, não tolero e repudio é a hipocrisia estampada na cara de grande parte da sociedade e mídia Brasileira.
Campanha do outubro Rosa, que visa a prevenção do câncer de mama, é aplaudida por todos, da mesma maneira que todos nós apoiamos também o novembro azul, que incentiva o tratamento preventivo do câncer de próstata. Assim como está na moda o "Chá revelação", onde os pais não sabem o sexo da criança e descobrem junto com familiares e amigos ao estourar um balão, ou cortar o bolo surpresa, onde azul revela que o bebê é menino e rosa é menina.
Ninguém discute sobre a cor das campanhas ou sobre o "chá revelação" porque essas cores simbolizarem o sexo natural de um ser humano é cultural, nem deve ser discutido. As cores fazem alusão sexo e não a opção sexual, elas se remetem a um fato biológico e não social.
Vestir uma criança de azul e ensinar que ela nasceu menino, e não ensinar que ela "nasceu o que ela quiser e vai ser o que ela quiser" é o certo. Evidente que no futuro a opção sexual e a forma com que essa criança, ao se tornar um adulto, vai fazer sexo, e com quem, vai dizer respeito, única e exclusivamente, a ela, e jamais deverá sofrer qualquer repressão em ser hetero ou homossexual.
Enfim, todo um alvoroço, calorosas discussões sobre o assunto, e claro, nenhuma conclusão sobre nada. O azul continua representando os meninos e o rosa as meninas nas festas, chás e campanhas de todos aqueles que apedrejaram a Ministra, ou não.
Porém, um dia antes, em 2 de janeiro, a Ministra Damares fez um bélissimo discurso na cerimônia de sua posse no cargo. Fatos estarrecedores foram citados, como a existência de sacrifício de crianças deficientes pelos indígenas brasileiros, sua luta contra violência sexual contra mulher e crianças, inclusive que ela ja tinha revelado anteriormente ser vítima, sendo, inacreditavelmente, alvo de deboches daqueles que se dizem lutar pelas mulheres. Falou que irá lutar contra todo tipo de preconceito, citando o movimento LGBT. Deixou claro que não haverá derramamento de sangue inocente em nossa Nação. Revelou, ainda, ameaças de morte sofridas por ela e pela filha, que, inclusive, não estava em Brasília, para a posse da mãe como Ministra por recomendação da Polícia Federal. Ou seja, tanto assunto relevantes para serem discutidos, tanto assunto importante, mas talvez nada seja mais importante do que discutir a cor de uma camiseta.
O que mais me chamou a atenção no discurso foi sobre os índios e suas práticas, que eu acreditava não existerem mais, de sacrificar crianças deficientes. Ressaltou que os índios não devem ser odiados pelo infanticídio, mas o Estado deve tomar as providências para mitigá-lo.
As incoerências em fechar os olhos e tampar os ouvidos para tantas problemáticas trazidas em um discurso impecável, e dar tanta importância para uma frase solta, demonstra com pureza, para os que querem enxergar, para onde nossa sociedade estava caminhando, de inversão de valores, hipocrisia e intolerância.
Remote Work Strategist | Creator of Planning Solutions
5 aParabéns!! Como sempre, escrito de forma inteligente, coerente e assertiva!