Modelo Ecológico da Violência
imagem de Romolo Tavani

Modelo Ecológico da Violência

Sendo a violência um fenómeno multidimensional é o resultado de uma complexa interação de características individuais, ambientais, relacionais, comunitárias, culturais e sociais e o Modelo Ecológico da Violência, criado pela Organização Mundial de Saúde, em 2002, ajuda-nos a compreender a natureza multifacetada que poderá influenciar um comportamento violento. Demonstra também como os quatro níveis se influenciam entre si e que a interação dos mesmos pode ‘produzir’ uma vítima ou um agressor, e que um e outro podem, ao longo da vida, inverter os seus papéis. Vítima hoje, agressor amanhã. Pessoas magoadas, magoam pessoas.

O primeiro nível identifica as características individuais associadas à possibilidade de uma pessoa vir a tornar-se vítima ou agressor. Aqui analisamos os fatores biológicos e a história pessoal dos indivíduos. A sua idade, género, rendimentos, entre outros. A este fatores podemos acrescentar a impulsividade, desordens de personalidades, o baixo nível de escolaridade, o abuso de substâncias químicas e se o indivíduo já tem algum historial de abuso ou agressão.

No segundo nível analisamos as relações sociais mais próximas entre indivíduos. Falamos de relações entre parceiros íntimos, companheiros, amigos, membros da família. Percebemos o modo como as relações de intimidade, por si só, podem aumentar os riscos de ocorrência de situações de violência. O simples fator de proximidade geográfica aumenta exponencialmente o risco de vir a ser vítima ou agressor. Outras situações também podem ocorrer quando eu cometo atos que sei que não são corretos mas avanço por saber que isso, não só, me destaca no grupo mas também porque tenho a aprovação do mesmo. 

O terceiro nível abrange os circunstâncias comunitárias nas quais as relações sociais se desenvolvem. Estamos a falar do local de trabalho, escolas, bairros, locais de convívio informal, e perceber quais as características que podem favorecer o surgimento de um indivíduo enquanto vítima ou enquanto agressor. Algumas dessas características são a heterogeneidade, situação que pode vir a dificultar a ligação social, condição que facilita a união de uma comunidade; a mobilidade residencial, quando as pessoas mudam com alguma frequência de residência; a alta densidade populacional, por um lado, e o isolamento social, por outro, onde conhecemos cada vez menos os nossos vizinhos; comunidades envolvidas com tráfico de drogas; comunidades com níveis elevados de desemprego e pobreza e comunidades com um fraco apoio institucional.

O último nível é o nível social. Aqui analisamos os fatores sociais mais alargados e que originam um clima propício para a violência. Muitas vezes a cultura da violência é aceite em diversas sociedades legitimando ações que deveriam ser condenadas. Onde é legitimo que um homem domine uma mulher. Onde as forças de segurança podem exercer a sua autoridade de modo desproporcional. Onde o uso da violência física, verbal ou psicológica é legítima para resolver um qualquer conflito. Onde as desigualdades sociais são ampliadas por políticas de saúde, de educação, económicas e sociais.

Existe uma clara influência e correlação entre os quatro níveis dentro deste modelo. Um indivíduo que não apresente a nível individual comportamentos, fatores biológicos ou uma ‘bagagem’ relacionada com fatores de risco associados à violência, apresenta uma probabilidade menor de vir a desenvolver uma relação íntima onde ocorram atos de violência. E assim sucessivamente em cada um dos níveis. Fatores de risco dentro de um nível podem aumentar a probabilidade de risco no nível seguinte, do mesmo modo, e seguindo a mesma linha de raciocínio, quando não existem fatores de risco num nível a probabilidade de escalarem para o nível seguinte é reduzida ou nula.

Com o Modelo Ecológico da Violência vemos que tudo começa e tudo pode terminar dentro da esfera de cada indivíduo. Diminuindo os fatores de risco, no primeiro nível, conseguimos diminuir a violência de toda uma sociedade. A prova de que uma gota de petróleo pode contaminar um oceano inteiro.

Ana Cláudia Gomes

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos