Movimento

Da minha sacada vejo um prédio sendo reformado. Isso sempre mexe comigo: as cores, a arrumação, uma nova pintura, pessoas trabalhando.

Fico imaginando os moradores. Saem cedo para o trabalho e quando retornam sempre algo de novo a ser percebido. A fachada está diferente. Uma nova energia circunda aquele ambiente. As pessoas que passam olham porque há muito não percebiam aquele lugar. As sujeiras foram retiradas, lixadas, os detalhes foram preservados e, com todo o cuidado, os trabalhadores, vão redesenhando e preparando um novo cenário para que seja absorvido e sentido pelo mundo.

As pinturas, em especial, me trazem uma boa vibração. Penso que são pessoas que estão querendo mudar algo, fazer ficar especial, mais bonito. É cuidado, é carinho uns com os outros. As grandes cidades parecem frias, distantes, até nos dão a sensação de que não têm alma, mas esses cuidados, de uma forma sutil, nos revelam o contrário: estamos sim, cuidando do que é “nosso”. Cuidamos da nossa casa, porque esperamos ter pessoas dentro dela. Cuidamos do nosso lugar de trabalho, porque queremos que todos se sintam bem, cuidamos de nós mesmos, porque sabemos que somos relevantes para alguém.

De forma direta ou indireta estamos sempre entregando algo, de bom ou de não tão bom. Estamos em movimento, estamos criando, estamos modificando o mundo que nos cerca.

Olho para as macro notícias que nos assolam todos os dias e quase me perco nesse vazio existencial das tragédias humanas. Quase me desesperanço, e cabisbaixa fico a pensar o que posso eu fazer para reconstruir os cacos que vem sobrando de tantas misérias mundanas. E então ao acordar eu olho o mundo e vejo que a vida segue em seu movimento natural. Que não está parado, que há vontade, energia e fé. Que a cidade me acolhe e que eu preciso continuar meu movimento. SEMPRE.

E assim deve ser: vamos pintar os muros, cuidar de alguém, fazer nosso melhor, juntar o lixo que outras pessoas jogaram no chão, cuidar das nossas praças, reconhecer as delícias de ter um bom amigo, dar muito carinho e ter atenção com aqueles que acham que o mundo parou.

Está em movimento. Tudo está em movimento.

(esse texto é dedicado ao amigo Juliano Forster).