Mudança cultural necessária
Recentemente tenho dividido com alguns especialistas a minha visão quanto à necessidade de iniciar uma comunicação com a sociedade que de fato esclareça a importância do saneamento e que também quebre alguns paradigmas relacionados à água de reúso.
Creio que uma das explicações para o fato desta comunicação não ser clara pode ser encontrada na estrutura do ensino no Brasil. Tenho um filho de 9 anos, que está cursando o quarto ano do ensino fundamental. Quando vi que seu livro de Ciências contém um capítulo denominado Saneamento Básico, a princípio pensei que a mudança cultural poderia já estar acontecendo. Entretanto, quando li o conteúdo do livro e também de textos utilizados pela escola, os quais são extraídos de portais da internet, fiquei preocupada.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, que são estabelecidos pelo Ministério da Educação – MEC, a disciplina de Ciências deve contemplar a educação para o ambiente (vida e ambiente), a educação em saúde (ser humano e saúde) e educação tecnológica (tecnologia e sociedade). Porém, apesar disso, acredito que há muitas lacunas nos textos e também erros conceituais. Semana passada meu filho trouxe para casa um texto informando que não há como tratar o esgoto de tal forma que a água se torne potável novamente.
Que decepção eu senti ao ler isso. Em julho deste ano, eu trouxe como recordação de Cingapura uma garrafinha de água de reúso para beber. Meus filhos já a tomaram e continuam saudáveis. Da mesma forma, no Texas o esgoto é tratado e se torna água potável novamente. Os especialistas destacam que a primeira recomendação para a água de reuso é a utilização para fins urbanos não potáveis, mas se utilizada a tecnologia adequada, a água pode perfeitamente se tornar potável, assim como já acontece em outros países onde a disponibilidade hídrica é baixíssima.
Não estou sugerindo que uma criança de nove anos, cursando o quarto ano do ensino fundamental, aprenda detalhes acerca do tratamento do esgoto. Contudo, escrever uma inverdade em um texto contribui para formar um conceito errôneo na cabeça de um cidadão. Há que superar a visão fragmentada das questões ambientais. Há também que mudar a percepção ambiental dos cidadãos que não relacionam diretamente saneamento com saúde pública.
Há que lançar mão da interdisciplinaridade para elaborar livros didáticos com conteúdo adequado. Há que formar professores capazes de incutir ideias corretas na cabeça dos alunos para que eles elaborem suas próprias conclusões. Acredito também que seja importante criar melhores condições de trabalho para os professores em todos os estágios (ensino fundamental, médio e universitário).
Além disso, fora do âmbito escolar, há que utilizar dos canais de comunicação disponíveis para educar a população e de fato estabelecer uma mudança cultural em relação à água.
Especificamente no que tange à água de reúso, é possível seguir alguns passos para iniciar a mudança de percepção da sociedade como, por exemplo: descrever os parâmetros da água de reúso conforme cada tipo (cada caso exige uma qualidade diferente); identificar a fonte de água sem estigmatizá-la (esgoto é água usada); falar sobre o ciclo da água de tal forma que se compreenda que a água é um recurso reutilizável; e dividir informação com a sociedade sobre o que se joga na água e sobre o custo para a sua remoção.
A partir da mudança cultural, teremos cidadãos comprometidos e cientes do seu papel e, assim, haverá uma chance de mudar o cenário atual do saneamento.
Analista de Gestão na Sabesp
8 aE quanto a falta de conhecimento por parte dos professores? Eles só podem ensinar o que conhecem. quando falamos em água de reuso, são citados sempre os mesmos nomes, e sempre em um meio específico do setor acadêmico, existe um passo a mais a ser dado para romper esta barreira invísivel, mas presente.
Analista de Gestão na Sabesp
8 aE quanto a falta de conhecimento por parte dos professores? Eles só podem ensinar o que conhecem. quando falamos em água de reuso, são citados sempre os mesmos nomes, e sempre no meio acadêmico, existe um passo a mais a ser dado para romper esta barreira invísivel, mas presente.