A mudança nos modelos de negócios no cenário atual

A mudança nos modelos de negócios no cenário atual

Por Murilo Rossener

Em 1999, aos 17 anos, estava me formando no então inovador curso de processamento de dados integrado ao ensino médio. Muitos dos meus colegas de classe seguiram ramos totalmente diferentes da informática, inclusive eu, apesar dela fazer parte do meu dia a dia. Naquela época o celular, com sua modesta tecnologia, oferecia no máximo um sms ou um jogo da cobrinha e jamais poderia imaginar que teríamos sucessivas evoluções até chegarmos no smart phone, o atual computador de bolso que temos hoje (com office, jogos, músicas, filmes, etc).

Com a tecnologia, com a inovação contínua, com o desejo de sempre criar o novo e o diferente, aliados ao crescimento populacional, ao acesso à formação profissional e à informação, acabamos criando um mundo cada vez mais competitivo e um complexo paradoxo da sobrevivência: "Sobreviva por si, mas não compita comigo". Antes tudo girava em torno das grandes indústrias que, com o passar dos anos, passaram a não conseguir cumprir com eficiência seu papel social na geração de empregos. Não existe espaço para todos.

Como alternativa, resta "você ser o seu próprio gerente". Se a frase parece soar bem, na prática não é tão bela quanto na teoria. É o caso do seu Joaquim, que na década de 70, abriu uma padaria e se tornou "o rei do bairro". Apenas ele vendia pães por ali. Hoje, seu Joaquim tem que enfrentar a concorrência do seu Manoel que tem uma receita de pães diferenciada, seu João, com muito mais capital, e da startup que faz entregas delivery pelo aplicativo. Cresce a demanda, mas também a oferta e isso não significa que a demanda será distribuída de forma justa em suas devidas proporções. Daí o que chamamos de capitalismo.

A verdade nua e crua é que se você criar algo mágico, prepare-se que alguém com muito mais capital que você vai usufruir da sua criatividade e fazer algo "mais" diferenciado. Não existe falta de mão de obra, limite de produção ou problemas com tempo quando se tem capital, my friend. Por isso, torna-se também essencial um estudo de mercado para saber se as pessoas estão preparadas para aceitar as ideias geniais. Não adianta ser genial se não há público alvo interessado, não se investe dinheiro em algo que não se tem retorno em receita.

Um exemplo clássico foi a genialidade e o fracasso da Nintendo no lançamento do Virtual Boy em 1995. Penso nisso todas as vezes que vejo crianças com óculos de realidade virtual jogando nos quiosques do shopping: "precisaram longos vinte e cinco anos para uma ideia concebida amadurecer e ter público alvo". A mente do japonês Gunpei Yokoi já estava bem à frente do que o público alvo entendia como aceitável. A mesma Nintendo, bem antes disso, já oferecia seus video games 8 bits integrados com uma rede telefônica, não muito popular, que permitia jogar à distância. Coisa de doido para a época, e um fracasso total (risos).

Como administrador, posso palpitar com segurança que, no Brasil, um país que ainda precisa de amadurecimento em muitas áreas, os grandes negócios para sobrevivência ainda são alimentação e prestação de serviços. Apesar de apresentarem grande número de concorrentes, a alimentação e a prestação de serviços são modelos de negócios do tipo "pull", ou seja, puxam as necessidades básicas de sobrevivência, locomoção e comunicação do cliente. Todo mundo vai precisar de um serviço em algum momento, todo mundo vai precisar comer em alguma hora.

A mudança, a tecnologia, o novo precisam fazer parte do nosso dia a dia, mas será que as pessoas de hoje estão realmente preparadas para o mundo "tech"?

"Vou largar meu emprego e viver de fazer aplicativos para celular"

Se o cenário indica uma migração no emprego da indústria para a geração dos MEI , resta a estes saberem se terão capital suficiente para amadurecimento de suas empresas, se conquistarão uma robusta carteira de clientes, ou mesmo, aguentarão a pressão das próprias indústrias que os abandonaram "órfãos no mundo".

Ser Tech é legal, mas comer e arrumar o carro ainda são fundamentais. Resta a você, órfão da indústria, decidir se o melhor é ser legal ou sobreviver.

Faças o que move teu coração e serás bem sucedido, dizem eles.

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