Mudanças Pós-COVID

"O mundo atravessa um momento complexo, Portugal atravessa um momento complexo, e indo ainda mais a fundo, Caldas atravessa um momento complexo.

Podemos olhar para este momento de duas formas, uma espécie de copo meio ou copo meio vazio. Por um lado, copo meio vazio, encontramos-nos no meio de uma pandemia relacionada com um Vírus, o COVID-19, que coloca em causa a saúde e a vida de muita gente e que obriga a decisões políticas e económicas com grande impacto social. Mesmo que o Vírus não nos afete diretamente certamente afetará indiretamente.

Por outro lado, o copo meio cheio, com tudo o de mau que a pandemia trouxe também permite encarar novas oportunidades, uma espécie de reset a alguma da organização societal em geral.

O meu olhar, talvez mais pragmático com um misto de positividade e negatividade, leva-me a considerar que ainda que as oportunidades existam muito pouco irá mudar na sociedade...infelizmente.

Ao longo da história humana existiram várias pandemias que condicionaram a vida das pessoas, e estamos neste momento a lidar com uma com condições que não existiam até hoje. Em nenhum momento da história houve uma capacidade de resposta tão rápida a uma pandemia, nem infraestruturas e equipamentos de saúde que permitam salvar tantas vidas.

A história vai-nos dando ideias e sugestões sobre o que poderá acontecer, Hegel dá-nos uma visão muito importante sobre estes movimentos históricos, defendendo que ainda que existem repetições, existem constantes ajustamentos e nada será exatamente igual ao antes, mas também não será totalmente diferente.

Deste modo, e olhando para o momento atual, algumas coisas poderão mudar, insisto poderão, mas muitas outras não se alterarão.

Devemos ter em consideração o contexto político e social atual, as ferramentas de comunicação atuais e o impacto que têm no desenvolvimento do pensamento humano, e de forma muito particular olhar para o ser humano e para as suas características psicológicas tão intrigantes.

O mundo está cheio de desigualdades, condenado a ter consequências ambientais sérias, e habitado por uma espécie animal autodestrutiva, ambiciosa e autocentrada.

Em termos económicos e políticos vivemos um momento complicado, com uma divisão grande entre movimentos sociais mais individualistas, vulgo mais capitalistas e baseados no crescimento económico, e outros mais sociais, vulgo mais centrados no estado-providência. Ambos com aspetos positivos e negativos.

Uma divisão que tende a piorar, com uma América centrada em movimentos de direita (EUA e Brasil como expoentes máximos) e com um peso regional tão grande que acabam por levar consigo outros países, e uma Europa embora focada no estado providência, a não conseguir sanar muitas das dúvidas e divisões internas dos países que a compõem.

Na geral, o impacto das alterações climáticas, a necessidade de mão de obra barata e de uma industria que produza produtos baratos, originam-se fluxos de migração e económicos que impactam diretamente na psique do ser humano, e nada melhor que uma pandemia, com risco de morte sério associado, para intensificar medos e reações negativas ao diferente e à mudança.

Ou dito de outro modo, nós seres humanos procuramos a segurança, o conforto e somos estimulados por alguma inveja e luxuria, queremos ter o que os outros têm (carros bons, férias em grande, etc.). Não procuramos apenas satisfazer as nossas necessidades mais básicas queremos sempre mais. Isto é mau? Não, apenas o é quando o fazemos sem olhar aos meios.

Ora, num momento em que o ambiente grita por ajuda, num momento em que o mundo divide-se entre ricos e pobres (1% da população detém 50% da riqueza), quando surge uma pandemia que nos leva a repensar no que significa estar vivo no que significa estar junto de outras pessoas, será de esperar que o mundo mude? Não, de todo. O mundo não vai mudar. Embora acredite que algumas coisas e ideias possam evoluir... talvez daqui a uma ou duas consigamos atingir os objetivos que queremos para agora... O mundo é um Titanic a fazer uma curva para se desviar de um iceberg... embora esperemos que desta vez consiga virar a tempo, talvez, com novas ferramentas e tecnologias, mas ainda assim leva tempo.

Devido ao contexto político, às necessidades do Ser Humano,

e a algum medo reinante, o mundo só vai mudar se a economia o quiser. Se alguns dos detentores do dinheiro estiverem disponíveis para mudar. Se alguns destes queira, por exemplo, trazer alguma industria para a Europa, aumentando o emprego e diminuindo a pegada ambiental. erAssim sim algo de mais positivo poderá acontecer...

Mas só o irão fazer com o objetivo de manter ou aumentar vendas e, talvez, garantir maior conforto pessoal no caso de novas pandemias... talvez os objetivos não sejam sempre os melhores, mas as suas consequências possam, essas sim, ser benéficas.

Receio que vamos rapidamente voltar ao ponto em que estávamos. Vamos todos gastar dinheiro em férias, carros e outros luxos, frequentemente com dívidas, sem poupar e sem pensar no amanhã. Mais ainda quando não sabemos se amanhã não morremos de um vírus e temos que aproveitar enquanto dá...

Espero, no entanto que tudo isto possa ser acompanhado por algumas mudanças, e que as pessoas aproveitem esta oportunidade para algo mais. Espero que pensem um pouco mais no mundo que vamos deixar aos nossos filhos, que pensem um pouco mais sobre como não estamos sozinhos no mundo, espero que pensem um pouco mais em como somos todos iguais.

Finalmente, uma última palavra às tendências políticas e ferramentas de comunicação. As novas redes sociais precisam de códigos éticos e deontológicos, já não são apenas aplicações de trocas de mensagens. São meios de comunicação quase essenciais ao mundo global. Têm vantagens, imensas, mas também desvantagens. Por exemplo, fruto do medo geral potenciado pelo vírus e pelos algoritmos que apenas mostram aquilo que as máquinas pensam que queremos ver, associado à forma como recorremos a uma certa economia de esforço e não lemos ou não exploramos a informação que recebemos, têm proliferado mensagens de ódio e de intolerância. Obviamente o medo da mudança e do diferente ocupou o espaço da tolerância e do crescimento.

Espero que o mundo mude, no que for possível. Sei que alguma coisa se aprenderá com tudo o que passámos. Sei que a mudança será pequena e que só com tempo assistiremos a grandes alterações. Tenho esperança no futuro, certo de que mudará, a história prova-o, mas também nos mostra que leva o seu tempo. Mas para que as mudanças sejam positivas, e não retrocessos, todos temos de nos envolver e participar ativamente, na medida do possível, mas agindo.

O mundo é o que nós fizermos dele."

Anabela Monteiro

Assistant Professor/Coordinator of a Postgraduate Programme in Hospitality Management - Online and Event management - Online

4 a

O mundo é o que nós fizermos dele. Concordo plenamente Parabéns

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos