Muito além de Buba, personagem de Renascer
Sempre que trato de assuntos como discriminação, diversidade e inclusão nas palestras que realizo, ou nos lugares em que tenho de falar sobre o tema, falo que a exclusão e o preconceito contra o negro são o pior de todos. Porque a cor da pele chega em primeiro lugar, antes do gênero ou de qualquer outra deferência.
Porém, quando analiso em minhas consultorias os diversos outros preconceitos que se estendem também às mulheres, ao grupo LGBTQIA+, a indígenas, ciganos, religiosos de matriz africana, entre outros, percebo que o preconceito é um crime que não pode ser tolerado, pois dói em qualquer ser humano.
No último Fórum Brasil Diverso, evento que organizo há dez anos, recebi o auxílio e a consultoria de uma mulher executiva trans, Victoria Napolitano, com quem aprendi muito sobre os anseios, lutas e enfrentamento que as pessoas trans encaram em nossa sociedade. Luta essa que começa pela vida, já que a média de idade dessas pessoas não chega a 30 anos, segundo dados do governo brasileiro, o que é simplesmente estarrecedor.
A experiência de ter Vicky como auxiliar foi fantástica, porque, além de contar com uma curadoria para uma área específica, de alguém que representa este grupo da sociedade e que sofre tanto no mercado de trabalho e em outras áreas que compõe o nosso universo humano, ela conseguiu me apresentar outras pessoas guerreiras como Pri Bertucci e Van. Elas me fizeram compreender que pequenos gestos, como uma linguagem respeitosa e inclusiva, podem iniciar processos de mudança espetaculares de respeito e uma verdadeira inclusão.
No Fórum Brasil Diverso, por exemplo, um detalhe foi extremamente elogiado: colocarmos em um dos banheiros a tarja unissex. E isso foi motivo de aplausos dos participantes – antes, havia banheiros apenas para homens e mulheres, ignorando esses outros grupos tão discriminados em nossa sociedade. Foi um pequeno detalhe que não passou despercebido pelas pessoas presentes no evento, dedicado exatamente à diversidade e à inclusão.
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Ainda continuo dizendo que os negros são os mais marginalizados, até porque a violência contra a juventude negra em nosso país é também alarmante, e não podemos esquecer que, quando falamos da questão racial, estamos reportando sobre metade da população brasileira. Nesses grupos já discriminados, independente da cor, pessoas negras se deparam com múltiplas carga de preconceito e discriminação, caso sejam mulheres ou pertençam ao grupo LGBTQIA+.
Esta semana, com certeza, será um período de muita reflexão sobre o tema, por conta da Marcha do Orgulho LGBTQIA+, que será realizada no domingo (2) e já se transformou numa grande festa.
Mas para lideranças como Pri Bertucci, que organiza a 7ª Marcha do Orgulho Trans, que será realizada no próximo dia 31, em São Paulo, mais que uma festa, é preciso continuar lutando por políticas públicas. E essa é uma grande verdade, pois, no Brasil, políticas públicas para grupos minorizados chegam de forma tímida – vêm primeiro para mulheres, alguma coisinha para os negros e, para os grupos como os de pessoas trans, só têm chegado histórias bonitas nas novelas globais.
Texto publicado originalmente pela CNN Brasil e Revista Raça