Muito além do arado! Os desafios atuais da gestão no campo

Muito além do arado! Os desafios atuais da gestão no campo

Em 2020, o agronegócio respondeu por mais de 26% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o que equivale a R$ 7,45 trilhões. Por si só, esse número já demonstra toda a pujança do agronegócio brasileiro e o quanto a atividade rural é essencial para a economia do nosso país. Mas, por trás desse dado grandioso, há uma questão bastante sensível: a importância da boa gestão para que as fazendas continuem colhendo literalmente o melhor, e obtendo resultados cada vez mais expressivos.

A verdade é uma só: no campo ou na cidade, para o empreendedor ter mais lucros, ele precisa de organização, planejamento, liderança, controle, produção e um direcionamento de ações seguro e que proponha diretrizes coerentes de atuação e vendas. Na prática, tudo isso se traduz em uma boa gestão profissional.

Durante muito tempo, o produtor rural sofreu com o estigma de que bastava uma porção de terra, muito esforço e uma enxada para ter sucesso no campo. Ledo engano! Até mesmo essa imagem, que durante tanto tempo esteve enraizada na cabeça de tantos, já foi esvaziada do imaginário popular, afinal, a profissionalização do empreendedor rural é tema cada vez mais em discussão.   

Com a crescente competitividade que o agronegócio vem ganhando a cada dia, a qualidade de uma boa gestão é fator definitivo para o sucesso. Cerca de 2,4 milhões de propriedades rurais de pequeno porte, no Brasil, faturam cerca de dois salários mínimos por mês. E se o gestor dessas áreas rurais fosse mais bem preparado? Certamente, os resultados positivos viriam, e em curto prazo.

Tomada de decisões

Tal como em qualquer outra área, o gestor rural precisa tomar, diariamente, uma série de decisões importantes que impactam diretamente no funcionamento da propriedade, e, consequentemente, nos lucros e gastos. Por isso, é tão fundamental que o produtor tenha como prioridade a qualificação profissional, pois, para evoluir e continuar competitivo, é preciso buscar o aprimoramento que irá ajudá-lo a desenvolver uma visão sistêmica de seu negócio.    

Evidente que todos os agentes produtivos que estão próximos ao empreendedor rural também devem pensar em estruturar sistemas de trabalho menos complexos, que facilitem a tomada de decisões importantes. Empresas e startups que atuam nesse segmento, cooperativas, e demais profissionais do agronegócio precisam se adequar nesse sentido, entregando dados e informações confiáveis, transformando a decisão do gestor em algo mais simples de ser feito, e principalmente, embasada em dados e evidências.  

Tecnologia como gatilho para uma gestão de sucesso. Para onde quer que olhemos, as potencialidades do nosso país são muitas, e por isso, o cenário tende a ser positivo. O território brasileiro favorece tanto a produção agrícola quanto a pecuária, tornando nosso agronegócio um dos mais bem-sucedidos do planeta. Entretanto, também é factível dizer que apesar de sermos líderes em vários aspectos, o agronegócio brasileiro ainda carece de tecnologia. Por isso, nos últimos anos, várias startups, empresas de pesquisa e desenvolvimento e de tecnologia se dedicaram a produzir inovações para esse segmento.

A tecnologia que chegou ao campo vem contribuindo para os resultados positivos da produção agrícola, e por consequência, ajudam os líderes desse segmento a se reinventarem. Com uma população mundial crescente, a agricultura não tem outra saída, senão utilizar a tecnologia a seu favor para aumentar a produtividade. Mecanização da lavoura, aplicação de agricultura de precisão, uso de dispositivos móveis, drones, GPS, sensores e aplicativos são alguns dos exemplos da evolução que felizmente invadiram essa área.

Mas, para que tudo isso seja incorporado sem traumas ao cotidiano do campo, é importe que o agricultor seja levado à tecnologia e às inovações de forma natural e orgânica (e não o contrário). É fundamental que haja um processo de qualificação e inserção desses produtores rurais dentro do universo da tecnologia e das inovações. Além disso, o empreendedor rural precisa entender como essas soluções vão ajudar a sanar suas dores. A inovação é essencial, mas não pode ser imposta, precisa primeiramente ser assimilada pelo produtor para que os processos caminhem da melhor forma.    

A importância da qualificação profissional. Em uma fazenda, imagine a quantidade de variáveis com as quais um gestor rural precisa lidar no dia a dia. Insumos, máquinas, terreno, sementes, pesticidas, reparos, combustível, despesas trabalhistas, impostos e o mais importante: pessoas! Gerir tudo isso está longe de ser fácil, é por esse motivo que a qualificação profissional é tão fundamental, justamente para capacitar e fazer com que o gestor rural transite e lide melhor em cada uma dessas áreas.           

Todavia, essa barreira ainda é grande, pois, culturalmente, investe-se pouco em recursos humanos no campo. 84% dos estabelecimentos rurais no Brasil são de base familiar, segundo dados do Ministério da Agricultura. Nesse ambiente, o gestor é também dono do próprio negócio, e, muitas vezes, existem entraves culturais, de conhecimento, de conceitos (antigos) e de estrutura que dificultam a busca e o investimento de tempo para aprimoramento.

Dentro de todo esse cenário, quais seriam as competências que um gestor rural precisa ter para que a sua propriedade seja ainda mais competitiva?

Competência interpessoal. Sim, no final do dia, as pessoas vão sempre estar no centro de tudo. Por isso, ter competência interpessoal significa saber contratar os melhores profissionais, capacitá-los, relacionar-se bem com a equipe de trabalho, com os parceiros e fornecedores e todos mais que fizerem parte do ciclo produtivo. Além de proporcionar mais qualidade de vida no trabalho, essa competência é fundamental para aumentar a produtividade.

Em um ambiente em que o gestor rural realmente sabe lidar com as pessoas, a comunicação acontece de forma fluída. Os trabalhadores falam, dão sugestões e se sentem parte do ciclo produtivo. Gera-se, então, um espírito de equipe que contribui para a eficiência de todas as operações, desde as básicas até as mais complexas. 

Competência técnica. A competência técnica não demanda do agricultor exatamente uma formação acadêmica (graduação ou pós-graduação), mas um bom preparo de gestão de seu negócio. Neste contexto, a administração estratégica dita os rumos e as ações necessárias para a propriedade rural atingir os objetivos traçados, tendo no controle a ferramenta necessária para as eventuais correções nos desvios de rota. O sucesso da administração estratégica das unidades de produção agropecuária pode conduzir à sua própria sobrevivência no mercado, bem como garantir a obtenção de vantagens competitivas.

O gestor não precisa saber como funcionam todas as engrenagens de sua fazenda, nos mínimos detalhes. Mas, é preciso ter uma noção do todo, sabendo como os processos funcionam e quais as implicações se algo falhar. Por isso um sistema de gestão integrado, que facilita a vida do produtor e que traz inteligência por meio da análise dos dados da fazenda é primordial. Esse é um gap importante na gestão da maioria das fazendas hoje em dia.

Discussão essencial para o nosso agro. E, não é somente no Brasil que essa discussão toma corpo. Outros líderes globais, como os Estados Unidos, habilidades técnicas e analíticas, de comunicação, de liderança, de negociação e de ética são sempre consideradas, quando se pensa no perfil ideal do bom gestor rural.  

Esse assunto é muito importante para o agronegócio e ao mesmo tempo, bastante extenso e complexo. Esse artigo não tem a pretensão de abordar todas as variáveis e nuances de uma gestão rural de sucesso, mas sim, fomentar o debate sobre esse tema fundamental!

Na próxima semana a gente se vê novamente!

Até lá.

 


Sylvestre Mergulhão

CEO e Fundador da Impulso | Host do Deep Dive Podcast | Diretor de Engajamento na EO Rio

3 a

Grande artigo, Shandrus. É bem interessante ver que a tecnologia se tornou uma grande aliada nas possibilidades de crescimento dentro do agro. Conte comigo no que a Impulso puder ajudar com equipes de tecnologia.

Azael Alvares Lobo Neto

Diretor na NN Corretora de Seguros

3 a

Parabéns pelo artigo

Excelente artigo Shandrus! Compartilhei no meu network!

Rogerio Biegask CFP®

Senior Management & Partner at Enso Gestão de Patrimônio

3 a

Sem dúvida, promover uma melhor qualificação no campo dos pequenos produtores irá agregar um valor significativo na otimização de recursos, melhor retorno financeiro para o produtor e maior produtividade na cadeia.

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