Muito além do smartphone (crônica de um dia qualquer)
Dia desses, numa das minhas andanças pela cidade, observei com mais atenção as pessoas ao meu redor. Percebi que elas, diferente de mim, não observavam o mundo ao redor delas. Elas estavam ocupadas fixando seus olhos na tela do smartphone. Andei por alguns metros em busca de algo que mudasse a minha percepção, mas não encontrei nada. Todas as pessoas no meu campo de visão estavam mergulhadas no celular. O mergulho profundo no digital.
Hipocrisia seria eu dizer aqui que não uso com frequência o smartphone e seu cardápio de distrações. Sim, eu uso. O que consegui colocar em prática foi um pouco de equilíbrio e disciplina no uso diário das redes sociais e de aplicativos. Tudo para não virar escravo da tecnologia que levamos no bolso. Na hora de dormir o aparato touch screen costuma ficar na sala de estar e no modo avião. Outro grande salto evolutivo que dei foi a desativação das notificações das redes sociais.
Reflexões
Conectado em meus pensamentos que correm pelas veias filosóficas e motivado pelas sinapses do mundo real, venho buscando reflexões sobre os paradoxos do mundo contemporâneo. Venho refletindo muito sobre o comportamento das pessoas, principalmente em relação às tecnologias acessíveis (leia-se o celular). Passamos boa tarde do nosso tempo conectados, como uma forma de anestesiar nossas mentes. Queremos fugir de realidades que consideramos difíceis, segundo as nossas crenças, nos aprisionando no virtual. Assim é melhor, pois não precisamos exercitar muito o raciocínio. Deixe o dedo deslizar a timeline que está tudo bem! Let it flow!
Não contemplamos mais o mundo real
Moro numa cidade com muitas paisagens naturais, mas muitos deixaram de contemplá-las. Trocamos a contemplação pela conexão. O mundo real ficou em segundo plano e não nos damos conta disso. Quando percebermos, será tarde demais.
Equilíbrio é coisa rara
Fala-se tanto em equilíbrio nos mais variados aspectos da vida. Com o uso do celular não é diferente. Saber a hora de ficar longe das telas não é para qualquer um. Isso exige muita disciplina, mas não precisava ser assim. Culpa dos maus hábitos e do condicionamento da vida moderna, onde nos tornamos seres ligados no automático. Consciência, cadê você?
Vivemos sempre aprendendo e estamos em plena evolução como seres humanos, mas muitos não se deram conta disso e permanecem no erro de não repensar seus hábitos. Com certeza é mais cômodo deixar tudo como está, então continuamos a olhar para as telas consumindo amenidades e vivendo o vazio existencial pós-moderno.
Deixamos de viver intensamente as relações interpessoais. Deixamos de viver aqueles momentos em que paramos e ficamos sem pensar em nada, deixando a mente seguir sem resistências ou distrações.
Precisamos religar nosso elo com a natureza das coisas. Precisamos estar aqui agora, vivendo o presente, equilibrando o tempo de exposição às mídias sociais e digitais. Faz-se essencial a busca de prazeres simples que estão no além-smartphone. O mundo real está cheio de oportunidades que nos trazem a paz que tanto reclamamos nas timelines.
Hermes Gregorio é jornalista e vive repensando a vida e suas conexões.