Muito prazer, sou Samuel Gomes!
Farei a ocupação desse perfil por alguns dias. Já devem saber desse movimento #antirracista que está rolando, né?! Como convidado dessa semana, gostaria de primeiramente me apresentar e contar um pouquinho sobre minha trajetória profissional, pois a pessoal vocês poderão ler comprando meu livro "Guardei No Armário" na pré-venda da Amazon.
A pergunta que eu iria fazer era, 'como cheguei até aqui?'', mas na real a pergunta certa é 'por quê poucos como eu chegaram até aqui?'. Para que a branquitude entenda onde é esse tal aqui, vou contextualizar trazendo para realidade. Quantos escritores, pensadores, autores, publicitários, empresários, médicos, cientistas, políticos… negros você já leu na vida? Acredito que sua resposta não será um número muito expressivo.
Isso acontece porque pessoas como eu não desistem pelo caminho, nós nos cansamos. Eu ao escrever esse texto, precisei revisitar o meu passado e é ele que vou dividir com vocês em paralelo a isso, acompanhem também a trajetória do Marcel. Em nossa primeira conversa por vídeo falamos muito sobre privilégio branco e como é importante reconhecer enquanto privilegiado e utilizar dele de forma estratégica para mudar a realidade de muitos.
"Isso acontece porque pessoas como eu não desistem pelo caminho, nós nos cansamos."
É por isso que estou aqui. Estou mostrando não só para o algoritmo que meu conteúdo é relevante, como estou tentando ensinar a vocês a consumirem conteúdo feito por pessoas pretas.
Comecei a trabalhar muito cedo, por volta dos 12 ou 13 anos, ainda como assistente de transporte escolar, auxiliando o meu pai que é transportador até hoje. Alguns anos depois, fiz curso de cabeleireiro e trabalhei em salões de bairro com a minha irmã Miriã, que em breve irá inaugurar seu estúdio de beleza. Era um bom cabeleireiro, cheguei até a dar aulas de tranças nagô. Apesar de ser muito bom no que eu fazia, não queria trabalhar com essa área, pois demandava horas em pé, sem uma alimentação regrada e com um salário muito baixo. Em paralelo a isso, eu estudava, fazia cursos gratuítos no bairro e outros que meus pais conseguiam me ajudar a pagar. Fiz um curso de administração de empresa e telemarketing. Trabalhei com essa última função por uns 3 anos seguidos, até chegar o ano de fazer faculdade.
Prestei o ENEM e naquela época era o segundo ano desse programa que possíbilitava que pessoas negras e periféricas entrassem em faculdades particulares. Passei na segunda chamada para o curso de Design Gráfico na Uniban. No primeiro ano tive que me virar para conseguir trabalho que me desse condições de pagar minhas mensalidades, uma vez que tinha conseguido uma bolsa de 50% pelo PROUNI.
No segundo semestre daquele mesmo ano graças a minha persistência fui contratado para trabalhar na mesma faculdade que fazia curso. Recebi um salário melhor e pude fazer uns cursos de ferramentas como Corel Draw e Photoshop. A faculdade que eu passei sequer tinha laboratório de informática para os alunos de Design. Era uma realidade muito dura de lidar, uma vez que imaginei que não teria dificuldades como essa na faculdade. Não era só ruim pra mim, a turma de Educação Física, sequer tinham quadra ou piscina. Essa era a nossa realidade. Fiz do limão que a vida me deu, uma limonada, mas isso não é uma regra. Não foi fácil passar por tudo que passei nos anos de faculdade.
Meu primeiro estágio na área foi num estúdio de design e ganhava R$100,00. Trabalhava das 7h00 até às 15h00 na faculdade, das 15h30 até às 19h00 ficava no estágio, onde na maioria das vezes eu só servia para montar monstros, fazer vetores, e colar pastas. Saía de lá e ia direto para faculdade onde ficava das 19h30 até às 22h30. Chegava em casa por volta das 00h00 e ainda tinha que preparar tudo para o dia seguinte. Essa rotina somado a questões pessoais que conto no meu livro, me fizeram ter problemas de saúde psicossomática. Não me alimentava bem e ainda tinha que enfrentar questões emocionais e financeiras. Na segunda metade do segundo ano na faculdade, entrei em um outro estágio, dessa vez tinha conseguido pela NUBE. Um outro escritório de Design. Dessa vez pensei que seria algo melhor, mas dois meses depois que entrei o escritório declarou falência. Desde quando entrei até o momento que saí, que foi pouco menos de 4 meses desde que entrei, eu recebi atrasado. Isso me desesperou, pois diferente dos outros alunos da sala, eu não tinha quem pagasse minha mensalidade. Na época tinha saído do trabalho na faculdade, pois entendi que se eu entrasse num estágio em tempo integral conseguiria evoluir mais na área, já que entendia o quão difícil seria me inserir nela.
Fui contratado como assistente de arte. Meu dupla, que era um Diretor de Arte, não gostava muito de ter colegas de trabalhos, como ele não queria me ensinar ou me direcionar, fiz amizades com outras pessoas na equipe, entrei num curso de pré impressão e produção gráfica na Pancrom já que naquele lugar eu trabalhava com impressos. Um pouco antes de completar um ano naquele lugar, já tinha aprendido a fazer motions com meu amigo Victor Nils, na faculdade. Graças a essa introdução, procurei outros cursos nessa área e pelo Twitter consegui me candidatar para uma vaga na Wunderman. Primeira agência grande que trabalhei. Um dos poucos negros, senão o único naquela época. Ser um dos únicos ou poucos negros a trabalhar em agência era um complicador, pois a comparação que fazemos naturalmente é com os nossos colegas de trabalho. Como na grande maioria eram pessoas brancas, eu me culpei até bem pouco tempo atrás por não saber o quanto eles sabiam, por não ter tido computador muito antes como eles, por não dominar uma língua para facilitar na procura de tutoriais na época. Mesmo indo atrás de cursos, me especializando, estudando e participando de projetos paralelos, eu cheguei a sofrer assédio moral em uma das agências que trabalhei.
Nessa época eu já tinha trabalhado em muitas outras agências e aquela altura eu já tinha experiências, cursos e noção do que eu fazia. Trabalhei com uma pessoa que eu acreditava que seria um ótimo líder, mas foi a pior experiência que tive na área. Sofri muito, chorei escondido no banheiro, me achava a pior pessoa da equipe graças a ele. Fiz curso numa escola de animação muito reconhecida no Brasil, mas mesmo assim as frustrações deste superior eram destinadas a mim.
Se eu tivesse aceitado tudo que ele me disse eu teria desistido da área e hoje não escreveria esse texto. Tempos depois entendi que o que sofri ali foi racismo e lgbtfobia, pois algo parecido aconteceu com outras pessoas negras e abertamente lgbts, incluindo uma grande amiga minha, que é motion e uma mulher trans.
Saí desse emprego tomando antidepressivo, com minha coluna travada e para entender melhor essa parte, compre e leia meu livro, e querendo desistir dessa profissão. Na casa da família do meu marido no Rio, tive uma ideia de mandar meu portfólio para empresas que trabalhavam com animações indoor. Entrei em uma das maiores empresas desse segmento e lá cresci muito, mas não cresci no salário. Mais uma vez de forma escancarada o racismo me encontrou. A pessoa que era assistente na equipe ganhava mais do que as duas únicas pessoas negras na equipe, que era eu e uma amiga minha.
Anos depois, saio dessa empresa, volto para agência e começo a defender ainda mais a integração com a diversidade e o mercado que eu atuo. Conheci pela primeira vez uma pessoa negra e cargo de liderança. Isso quase 10 anos depois de ter entrado no mercado.
De lá fui para uma agência que me deu oportunidade de colocar em prática tudo que aprendi na faculdade, na vida, nos trabalhos que fazia como criador de conteúdo, palestrante e escritor. Fui head de criação de uma agência focado em uma comunicação genuína para as periferias, formados por um grupo de profissionais negros e periféricos assim como eu. Me torno top voice 2019 e ao entrar em 2020 veio a pandemia, a quarentena e o desemprego. Me juntei a muitos outros negros e periféricos em estatísticas nesse momento. Somos nós os desempresários. Aqueles que não acreditam mais no mercado atual pois ele não nos valorizam. Que entende o seu verdadeiro valor, encontrou aliados nesse caminho e agora tem voz para jogar a real para muitas pessoas.
Essa semana ficarei aqui nesse perfil e quero trazer pessoas com histórias tão potentes como essa, para que possamos ver além das nossas vivências. Trarei pessoas negras periféricas para falarem desse lugar de atuação que muitas vezes é invisibilizado. Falaremos como nos reconstruímos a cada dia, a cada dificuldade e o porque nunca desistimos.
Obrigado Marcel Nobre, que outras pessoas brancas entendam seus privilégios através dessa e de outras ocupações.
Analista Comercial | Comercial | Administração
4 a@samuelgomes entrei para ler o conteúdo pelo seu sorriso! E me deparo com uma história de luta e conquistas. Parabéns! Que a pandemia e o que veio com ela não apague seu sorriso.
que história de superação, agradeço por compartilhar conosco sua trajetória, eu te desejo sucesso, sucesso e sucesso vc já é um vencedor e guerreiro, sua luz brilha
☝️Redatora SEO Sênior :: Copywriter :: Produção de Conteúdo
4 aEspetacular a sua história, a sua luta, a sua coragem. Você é uma inspiração! #orgulhodeserantirracista
Consultora I Advogada| Estrategista em Direitos Humanos e Sociais | Educadora| Mentora | Facilitadora
4 aSeja muito bem vindo! Amei essa oportunidade! Que tenhamos muitos MARCEL NOBRE FEAT SAMUEL GOMES Aqui nessa rede social do #linkedinbrasil