Mulher abandonada
Era uma quarta feira, tudo parecia normal na casa de Iracema, as crianças ainda dormiam, ela estava ocupada com os afazeres domésticos, seu marido Roberto dissera no dia anterior que dormiria até mais tarde, tinha folga a ser tirada do trabalho. Mal sabia Iracema que Roberto deliberadamente tomara a decisão de ir embora, sair da sua vida.
Vou embora disse ele, nosso casamento desgastou, acabou.
E eu, e nós e as crianças como vamos ficar.
Roberto friamente vira as costas e parti. Iracema chorou o dia inteiro naquele e outros dias.
O que vou fazer, como cuidar das crianças, Junior cinco anos e Laura quatro.
Dois anos se passaram, Iracema arrumou emprego, trabalhava muito, mas sempre achava um tempinho para estar com as crianças e obviamente ajudar nos deveres escolares.
Enfim chegou o dia especial que todas as crianças ansiavam, dia das mães.
Todas estavam eufóricas, musicas comemorativas que tocavam os corações, a diretora da escola fez um pronunciamento emocionada e após solicitou para cada uma delas entregar uma flor a suas respectivas mães .
Chegou à vez de Junior e Laura.
Alucinadamente partiram para frente do pequeno palco e procuraram, demoraram bem mais tempo do que as demais crianças, e, saíram correndo em direção a Iracema ; alegremente eles traziam um pequeno vaso e dentro dele uma flor. Iracema estranhou , o vaso estava desembrulhado, de certa forma sujo e a flor visivelmente murcha e desidratada.
Iracema não gostou do que viu e ficou decepcionada, sua vontade era chorar, mas vendo o sorriso, a alegria estampada naqueles rostinhos a fez mudar de idéia.
Mas chegando em casa, após a cerimônia, ralhou com as crianças e exigiu uma explicação, por que de ter ganhado uma flor murcha e quase morta.
Mamãe disse Lara; escolhemos a flor perfeita para a senhora, pois esta flor mamãe,
necessita de cuidados e a senhora é a pessoa ideal que conhecemos e é perfeita para cuidar dela.
Há um ditado popular que diz: que só se conhece o tamanho do sapo, depois que ele morre, pois quando morre ele espicha.
Quantas vezes as pessoas são abandonados a própria sorte e só então tomam conhecimento do tamanho do problema nas suas vidas, são forçadas neste momento a decidirem, a escolher este ou aquele caminho. Nessas ocasiões elas tomam as rédeas nas mãos e dá seqüência na vida e seus projetos. Passado o tempo do desamparo elas são gratas por terem tomado um pé no traseiro, pois foi através desta decepção que tiveram a possibilidade de dar um passo a frente e puderam verificar e experimentar o seu talento e o que é mais gratificante, constatar a importância que tem para aqueles que verdadeiramente lhes interessam.
Luiz Carlos Zanardo
Coordenador de UT na ECT