A mulher pós maternidade: seu trabalho e seus filhos

Antes de falar sobre minha experiência a respeito desse tema, quero compartilhar o que dizem as estatísticas: 

- Após a chegada dos filhos, 28% das mulheres deixam seus trabalhos, versus 5% dos homens. 

- Pesquisas apontam que 1/3 das mulheres não voltam ao mercado depois que engravidam.

- Somente 21% das mulheres conseguem após 3 anos retornarem a sua vida economicamente ativa. 

- A maior parte das mães, revertem esse quadro empreendendo e a maioria delas dentro de casa.

- Quanto mais tardia a gravidez, maiores são as dificuldades em se recolocar no mercado, principalmente no mundo corporativo.

Isso é uma realidade presente no mercado. Existem mulheres que optam pelo trabalho, pelos filhos ou pelos dois.

Se você não sabe, aproveito para contar um pouco sobre minha transição de carreira que aconteceu logo após o nascimento do meu segundo filho. Fiz essa transição por escolha, por desejo e não por pressão ou necessidade. Vivi na prática a confusão, o medo, a dúvida e os desafios para enfim ter a coragem de me recolocar com um novo perfil profissional no mercado de trabalho.

Comento isso, porque entendo e me conecto com todas as mulheres que se sentem inseguras, indecisas e com receio de tomar alguma decisão referente ao trabalho.

Esse artigo é destinado às mulheres que optaram por cuidar integralmente dos filhos, àquelas sofreram a demissão pós licença maternidade ou àquelas que vivem diariamente a exaustão da jornada dupla (a de casa e a do trabalho). 

Para aquelas que saíram do mercado por opção e se sentem felizes assim, minha admiração pela decisão em seguir em frente, esquecendo das críticas ou as exigências impostas pela sociedade.

Sabemos que ainda é muito comum nas empresas, em sua maioria lideradas por homens, a forma como julgam uma mulher que ‘largou’ a carreira para dedicar-se aos filhos. Mas, de acordo com especialistas, é um enorme erro achar que o fato da mulher se afastar do mercado de trabalho a faz menos capaz de se reinserir. Não assuma isso para você!

Posso sugerir algumas reflexões?

Só quero lembrar que essas sugestões/reflexões não fazem parte de uma receita de bolo ou de um passo a passo engessado e também não é garantia que, se você pensar e fizer tudo o que eu proponho, terá um resultado satisfatório.

O objetivo principal é ajudar você refletir, discernir e obter clareza sobre suas escolhas. E se ainda assim não se sentir capaz de seguir sozinha, pare e analise sobre a necessidade de pedir ajuda a um profissional. Essa ajuda, na maior parte das vezes, é essencial para potencializar seus talentos e ajudar na sua escolha e recolocação. 

Seguem minhas ideias:

1- Comece por você. Comece reconhecendo o seu potencial, seus talentos, seus pontos fortes, suas habilidades. Faça um mergulho interno, ou seja, um processo de autoconhecimento. É imprescindível um processo como esse para obter clareza do que é importante para você, o que ganhará ou perderá nesse processo de recolocação, ou de empreendedorismo. Você definirá também se precisa desenvolver alguma habilidade técnica ou emocional para tal escolha.

2- Analise sua vida profissional. Após o seu processo de autoconhecimento, analise a sua vida profissional a partir do momento em que parou. Valorize os conhecimentos que desenvolveu e veja se quer continuar na sua área ou investir em outro ramo. Você quer voltar a trabalhar exatamente com o que trabalhava antes da chegada do filho ou deseja empreender, mudar de área? 

3- Faça pesquisas de mercado.  Se o seu objetivo é trabalhar em alguma empresa específica, pesquise sobre como ela atua ou de que modo você poderia atendê-la. Não se fixe a nenhum padrão. Amplie seu campo para projetos e consultorias e trabalho freelancer ou temporário. Tudo vale a pena, desde que esteja alinhado aos seus objetivos.

4- Escolha a informação certa para o currículo. Muitas mulheres não sabem como tratar no currículo o tempo em que ficaram inativas. Pode ser que você tenha ido acompanhar o marido em uma experiência fora do país. Fale sobre isso! Agora, se você parou para se realizar como mãe, esclareça que foi por um projeto pessoal, pois há muitas formas de realçar os pontos positivos de suas vivências para voltar ao mercado. Assumir a responsabilidade por um novo serzinho, são momentos que agregam bagagens únicas de vida. Aproveite esses diferenciais e busque vagas que valorizem o que vivenciou.

5- Capacite-se ainda mais. Faça cursos! Atualize-se! Estudar é bom não só para atualizar os conhecimentos, mas para fazer contato e trocar informações com colegas e professores sobre áreas de atuação e empresas. Transforme o seu desânimo em conhecimentos. Canalize a sua energia e participe de palestras, eventos e congressos, faça serviços voluntários e, se puder, trabalhe de modo autônomo por um tempo. Do ponto de vista dos empregadores, essa atitude demonstra que a pessoa tem interesse em se manter atualizada e desenvolver novas habilidades na área. Há, ainda, muitos cursos gratuitos (e de instituições renomadas) que poderão engrandecer seu currículo sem onerar seu bolso. Basta ter força de vontade e um pouco de tempo, escolhendo as opções certas, de acordo com a área em que deseja atuar. Mova-se!

6-  Busque visibilidade. Cadastre-se em sites de empregos, empresas e grupos nas redes sociais. Assim, você terá mais visibilidade. E lembre-se de avisar amigos e familiares sobre o seu desejo de voltar ao mercado de trabalho. Ótimas vagas surgem por meio de indicações de pessoas conhecidas, mas ninguém pode adivinhar seus anseios, certo? Por isso, exponha seus objetivos e esteja disponível para as oportunidades que aparecerem, mesmo as mais simples. Lembre-se de que você está recomeçando e pode ser necessário um tempo para voltar ao cargo que ocupava antes da pausa na carreira. Cuide da sua imagem  e siga em frente! Não pare!

7-  Re - crie um networking. Monte a sua rede de relacionamentos — networking —, pois essa é uma ferramenta fundamental para se destaca e se inserir no mercado. Mantenha o contato com ex-colegas, busque informações sobre contratações, sobre empreendedorismo. Faça conexões, esteja aberta a novos relacionamentos e acima de tudo, se coloque em ação. Se é você quem quer um espaço e/ou uma oportunidade, faça acontecer! Lembre-se de que pessoas que conhecem você, em âmbito pessoal ou profissional, poderão indicar seu nome com mais confiança. Além disso, esses parceiros saberão apontar suas competências e também divulgarão por que é interessante contar com as suas habilidades em momentos de desafio.

8-    Mantenha o foco na sua área. Caso já tenha decidido o ramo no qual quer investir o seu esforço, mantenha o foco. É um erro se candidatar a todas as vagas que surgem. Os resultados acontecem com persistência, dedicação e geralmente a médio prazo. Ficar pulando de galho em galho não trará grandes resultados.

9-    Seja clara nas entrevistas. Na hora da entrevista, deixe claro para o recrutador seu potencial profissional, seus valores e experiências. O mais importante é ser objetiva: o recrutador precisa entender imediatamente por que você se manteve afastada do trabalho. Entende agora a importância do autoconhecimento? Quanto mais você sabe seu potencial, melhor será sua desenvoltura durante a entrevista.

E quer saber quanto tempo demorará para voltar ao mercado?

Segundo especialistas, no Brasil, uma pessoa leva cerca de 8 meses para se recolocar no mercado de trabalho. Essa estimativa é do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), a partir de informações provenientes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Dessa forma, o tempo necessário para retomar a carreira é muito relativo, e você deve levar em consideração diversos fatores, como a área, o cargo almejado e a conjuntura econômica do momento. O importante é se manter motivada e com o foco bem estabelecido.

É importante também buscar apoio emocional de pessoas que lhe querem bem, como parentes e amigos, para passar por esse momento delicado cercada de coragem e pensamentos positivos.

Além de tudo isso, saiba que as mulheres estão cada vez mais conquistando o seu espaço no mercado de trabalho. Boa notícia, certo?

Para finalizar, lembre-se: todo o processo, seja ele qual for, exige dedicação e principalmente muita energia para conquistá-lo! Aproveite essa jornada para se descobrir, planejar, decidir com segurança e principalmente aumentar sua autoconfiança. Boa sorte!

Anelise Lamas - Coach especialista em carreira.