Mulheres e mulheres: palavras, orientações e inspirações que guiam e transformam destinos
Em uma de minhas aulas; já são mais de duas décadas como docente

Mulheres e mulheres: palavras, orientações e inspirações que guiam e transformam destinos

Uma de minhas aulas de jornalismo na universidade, neste início do mês de abril, me trouxe de volta ao ano que seria um divisor de águas na minha vida profissional, social e pessoal. E esse ano era 1997. Com a graduação concluída, estava decidida a ingressar em uma pós-graduação ou prestar outro vestibular para o curso de Ciências Sociais, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi quando entra em cena uma professora que foi inspiração para quem sou hoje – falo da jornalista e Professora Doutora Graça Caldas.

A partir de agora, meu relato terá como propósito demonstrar como mulheres podem inspirar, impulsionar e proporcionar condições melhores para outras mulheres, mesmo que todo esse suporte seja uma palavra, uma orientação ou uma cena que possamos testemunhar. Neste texto eu explicarei cada uma dessas condições.

Regressando para 1997, minha então Professora Graça Caldas, naqueles tempos, era a única Doutora da Puccamp, faculdade na qual me formei em Jornalismo. Assim que eu soube o que era ser Doutora, pensei: é isso que quero para mim e Graça Caldas foi minha inspiração. Certo dia, sabendo de meu interesse na pós-graduação, Graça orientou-me a procurar pela Professora Doutora Lúcia da Costa Ferreira, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), na Unicamp.

Já na sala da Professora Lúcia, ela ouviu as minhas pretensões e sugeriu: a melhor opção para você é ir direto para a pós-graduação. Naquele período, Lúcia era coordenadora de algum curso ou de algum departamento, não me lembro o qual. Mas vê-la em uma sala, no comando de uma relevante universidade, sendo mulher, pós-graduada, aquilo tudo me fascinou e foi o que eu quis para mim. Graça e Lúcia me acolheram, me ouviram, me orientaram, dedicaram um pouco do tempo corrido de aulas, pesquisas, orientações de projetos, para me ajudarem a tomar decisões. O quanto aquelas palavras foram significativas na minha vida! O quanto conhece-las definiu o que sou hoje: também uma professora universitária.

Sai da sala da Lúcia esperançosa de que conseguiria passar na peneira da pós-graduação do IFCH. Estudei muito, me inscrevi como aluna especial em várias disciplinas para absorver os conteúdos da área de Ciências Sociais e Políticas, uma vez que eu era graduada em Jornalismo.

Fui sendo aprovada nas etapas que se seguiram, até que cheguei na última: a banca de professores que faria a entrevista de avalição de suas pretensões como futura pesquisadora, caso fosse aprovada e, também, a avaliação do projeto de pesquisa. Na minha banca estavam Leôncio Martins Rodrigues, já falecido, Amnéris Angela Maroni, e outra docente que ainda leciona na Unicamp e a qual não citarei o nome. Leôncio e Amnéris votaram favoráveis ao meu ingresso na pós-graduação, reconheceram o meu esforço de cursar várias disciplinas para me preparar para a prova do processo seletivo e não desmereceram a minha graduação em Jornalismo. Já a docente a qual não citarei o nome, foi categórica: “Ela é jornalista, não conseguirá acompanhar as aulas!”. Leôncio me defendeu, mas infelizmente não recordo suas palavras. Amnéris disse: “Ela cursou muitas disciplinas na Sociologia e na Ciência Política, está preparada sim, o curriculum dela hoje é outro, ela deu uma guinada nos seus estudos” (foi mais ou menos isso que ela disse. Amnéris era mais uma mulher que mudaria o rumo da minha vida pelo que representaria seu voto favorável aos meus estudos na pós-graduação).

Aquela que rejeitou o meu ingresso na Unicamp foi voto vencido. Fui aprovada, cursei minha pós em Ciências Políticas e em razão dessa titulação, fui admitida na primeira universidade na qual iniciei a minha carreira de docente: a Universidade Anhembi Morumbi. Lá fui professora de 2001 a 2012.

Já são mais de vinte anos como Professora e essa profissão transformou a minha vida. Sou plenamente realizada pois exerço, ensino e estudo a minha primeira paixão, que é o Jornalismo, e todos os dias eu aprimoro minha didática como docente, minha segunda paixão.

Resumo desse rascunho de memórias: há mulheres e mulheres. As do primeiro grupo surgem na sua vida para te inspirarem, para te erguerem, para serem um guia na sua vida. Praticam, muitas vezes sem saberem, a tal da sororidade. Outras, as do segundo grupo, agem punindo, subjugando, atirando outras mulheres à vala, são reacionárias, incompreensivas, intolerantes.

Graça e Lúcia me inspiraram a ser uma mulher pertencente ao primeiro grupo. Elas não fazem ideia do quanto as admiro e agradeço por terem surgido na minha vida. Quanto àquela que sempre procurou me prejudicar – em absolutamente tudo - durante os anos os quais fui estudante da pós-graduação do IFCH, espero que nunca tenha a porta fechada para ela por outra mulher. Decidi compartilhar essa história da minha vida depois de relembrá-la em sala de aula, estimulada pela pergunta de um de meus alunos. Essa foi uma história vivida.

 

Maria Daniela Oliveira

Jornalista I Assessora de Imprensa I Comunicação Corporativa

8 m

Que relato cheio de generosidade e poder.Obrigada por ter feito parte da minha formação na UAM.

Amanda Oliveira

Mestranda em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp

8 m

Grande professora. Talvez não se lembre de mim, mas fui sua aluna na Uniesp/Hortolândia, em 2011. O seu relato serviu para me inspirar, não só como mulher mas também como jornalista que sou. Tive o privilégio de conhecer uma das professoras que você citou - Graça Caldas. Que ser humano incrivelmente acolhedor. Ela me ajudou a preparar um pré - projeto para ingresso no Mestrado em Divulgação Científica e Cultural, também na Unicamp, em 2013. Na época, eu não fui aprovada, mas entendo que realmente não era o meu momento. Hoje, encontro-me em transição de carreira e ano passado, após 10 anos desde que fiz a minha tentativa de entrar no Unicamp, eu fui aprovada. Sim, estou cursando mestrado no Labjor/Unicamp feliz da vida e cheia de desafios. Obrigada por compartilhar a sua história. Certamente, há mulheres e mulheres e você, a professora Alessandra de Falco e Graça Caldas, sem dúvida alguma, foram algumas das mulheres que contribuiram para que eu seguisse esse caminho. Ah! E já estou pensando no doutorado. Que sejamos mulheres que levantam outras mulheres.

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