MULHERES TÊM PRAZO DE VALIDADE?

MULHERES TÊM PRAZO DE VALIDADE?

“Cheguei aqui à meia-noite, dormi na fila e acabei de ser descartada, como se eu fosse um lixo”, diz Edna Teixeira, de 58 anos, cabisbaixa.

A frase ilustra uma dura matéria da BBC News Brasil sobre o drama das pessoas com mais de 50 anos que passam a noite na fila e saem sem trabalho do Mutirão do Emprego. (Confira aqui).

E ela vem reforçar muitas das minhas constatações sobre carreira, preconceito e algumas histórias que vivi na pele e ainda sinto, como mulher e empresária.

Depois de uma vida inteira dedicada ao meu sonho de criar produtos e desenvolver marcas, o que chamam de sucesso só chegou mesmo, para mim, aos 55 anos de idade. Antes disso, foi luta atrás de luta, com derrotas no meio.

Porém, a trajetória de uma mulher que opta por seguir nesta carreira é permeada de preconceito, como se eu não tivesse o direito de estar aqui, fazer o que faço, chegar onde cheguei.

Num país em que as mulheres assinam 72% dos artigos científicos publicados, ainda somos minoria. O desemprego é tradicionalmente maior entre as mulheres. Ao lado dos jovens e dos pretos e pardos, a população feminina é das mais afetadas pela falta de oportunidades no mercado de trabalho.

Por outro lado, quem está no mercado de trabalho, tem suas lutas diárias contra o preconceito. Não é só no Brasil, mas costumam de achar mais nova do que realmente sou, e aí, quando revelo a minha idade, os olhares mudam: “Ah, mas você já pode se aposentar.”

Dizem que a mulher esconde a idade, mas por diversas vezes nos vemos obrigada a isso. Algumas vezes, para esconder a pouca experiência. Algumas vezes, para esconder que não estamos nem perto de parar. Dentro da minha própria empresa, um diretor geral tentou me aposentar.

Quando me tornei avó, então, tentaram me colocar na forma de uma avó tradicional. E na minha melhor idade, precisei lembrar a todos que eu não sou quem esperam que eu seja. Eu sou feita das minhas experiências, dos meus erros, meus acertos, meu repertório cultural e de vida. E não estou aqui para satisfazer a expectativa de ninguém. Como diz a incrível Martha Medeiros:

“Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos.”

Tirando a parte da cozinha e do cor-de-rosa, me identifico. Nunca me encaixei em padrões, vão querer me formatar agora?

Se na minha juventude abri mão de tantas coisas, agora vou fazer tudo o que deixei para trás. Comecei a fazer uma nova faculdade. Vou voltar a dançar. Quero aprender mais um idioma. Estou estudando novas tecnologias e modelos de gestão. Vou voltar a dar palestras. Estou criando novas marcas. O mundo é do tamanho da gente.

Hoje, tenho um filho bem casado, bem-sucedido, por quem trabalhei muito. E com isso, tenho plena convicção de que chegamos aqui íntegros e agora é hora de me ressignificar.

Mulheres sofrem preconceitos e pré-conceitos. Quem disse que, depois dos sessenta não podemos ter cabelos compridos, usar jeans e camiseta? Onde é que está escrito que meu cabelo precisa ser branco, ou platinado, ou prateado?

Hoje o tempo é meu. No período mais rico da minha vida, quem quiser seguir meu ritmo, pode chegar. Se não, eu já danço a dança da vida sozinha mesmo. E feliz, obrigada.

Coloco toda essa reflexão aqui em um momento em que é desumano olhar a fila do desemprego e ver tantas mulheres, senhoras e os idosos ainda tendo que lutar por sobrevivência – não por seus sonhos.

Na Inoar, idade nenhuma nunca foi pré-requisito para uma contratação. A empresa reflete meus valores pessoais, e estes estão muito à frente. Pessoas e mulheres não têm prazo de validade.

Talita Laschi Vellano

Packaging Development | Packaging Innovation | Project Management | Quality Management | Sustainability

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Nossa, amei ter esbarrado numa postagem sua através de um contato do LinkedIn e ter lido este seu artigo! Parabéns pelas palavras e por ter compartilhado suas experiências e expectativas. Obrigada!

Eliana Guerretta Neves

Assuntos Regulatórios Cosméticos e Saneantes I Responsável Técnica/ Gestão da Qualidade I Compliance I Perita Química I CRQ Ativo I Regularização de Empresas I BPF I Em Busca de Novas Oportunidades

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@Inocência Manoel l, lindo texto! Mas infelizmente o mercado é preconceituoso com a idade para uma recolocação! Estou 3 anos na luta e quando sou convocada para uma entrevista e falo a minha idade e sem filhos ! Pronto já é visível a forma que a entrevistadora muda! Uma pena! Sei que ainda terei minha recolocação, não perco minha fé !

Elexsandra Gouveia

Advocacia | Consultoria | Direito Civil | Direito do Trabalho | Direito Previdenciário | Família e Sucessões | Direito do Consumidor | Contratos

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Parabéns!!! lutamos por um mundo com mais pensamentos como o seu.

Quezia Cardoso

Produtora de Conteúdo Digital

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Pensamento divino o seu! Infelizmente as mulheres sofrem preconceito até mesmo entre as mulheres (algumas é claro). Quando decidi usar meus cabelos vermelhos, a critica era pela cor. Hoje em dia aos meus 45 anos a critica nas empresas é pela idade E pela cor. Quem foi que disse que eu tenho que ter o cabelo preto ou loiro? Por mais pessoas e empresas com pensamentos como o teu. Parabéns!

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