Não é mais economia. Agora é ideologia e comunicação

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Foto: Divulgação

Em 1992 durante as eleições presidenciais dos Estados Unidos, o estrategista da campanha do democrata Bill Clinton  James Carville ao explicar o favoritismo de seu candidato ante o presidente e candidato à reeleição George H W Bush cunhou uma das frases que se tornaram icônicas no meio político: “It's the economy, stupid!” (É a economia, estúpido!).

Naquela época, os EUA governados por Bush pai amargavam período de recessão econômica. O que foi devidamente capitalizado e um dos fatores da vitória de Clinton sobre o republicano.

A máxima de Carville, de que a economia pode eleger ou derrotar um candidato, foi aplicada com sucesso em diversas eleições no mundo, inclusive no Brasil. Quando os índices econômicos estão bons, não importam outros fatores, o governante é reeleito, assim como o contrário.

Em seu retorno ao Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem mostrando que a frase já não tem mais o mesmo efeito. Os indicadores econômicos e de qualidade de vida da população têm mostrado melhorias, como o crescimento acima do esperado do PIB (Produto Interno Bruto) em 2023, a inflação sob controle, o mais baixo desemprego desde 2014 e o maior aumento na renda do trabalhador desde 1995.

Entretanto, as últimas pesquisas de opinião mostram a aprovação do presidente em baixa e a desaprovação em crescimento. Uma das explicações é a de que o Brasil não passou imune ao fenômeno mundial da nova direita que, entre suas características, proporcionou a ideologização do voto. Ou seja, não importa tanto os fatores sociais e econômicos e sim, o que se pensa e qual o sentimento sobre determinado político ou partido.

Outra questão que ajuda a entender a queda de popularidade é a comunicação. O Governo parece estar desatualizado e utiliza estratégias comunicacionais tradicionais do tempo das outras gestões petistas e que não geram mais efeitos como antes. Tais como grande aporte publicitário em TVs e Rádios. No digital, utiliza linguagem anacrônica, com baixo engajamento e formatos engessados sem atratividade e interatividade.

O perfil do brasileiro que consome mídia mudou muito. A comunicação vem se tornado cada vez mais horizontal e não vertical, as pessoas querem se sentir contempladas em questões próximas e também produzirem conteúdo e informação.

Lula governa um outro Brasil. Aquele que o consagrou com 87% de aprovação no final de seu segundo mandato em 2010 não existe mais. É preciso estar conectado com os dias atuais e isso inclui além da boa gestão, uma comunicação eficiente que abranja todos os brasileiros, inclusive os que têm ideologia contrária a dele.

Caio Bruno é jornalista e especialista em Marketing Político. 

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Caio Bruno

  • Lula, Leite, a comunicação e as Fake News no RS

    Lula, Leite, a comunicação e as Fake News no RS

    Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite (PSDB). (Foto:…

  • Google proíbe impulsionamento político. Qual o impacto?

    Google proíbe impulsionamento político. Qual o impacto?

    Desde o último dia 1º está em vigor a proibição do impulsionamento de conteúdo político no Google. A medida, anunciada…

  • O PSDB vai sair dessa?

    O PSDB vai sair dessa?

    Fundado em 1988 de uma dissidência de centro-esquerda do PMDB em plena Assembleia Nacional Constituinte, o PSDB…

  • Deus, o grande eleitor

    Deus, o grande eleitor

    Culto da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso Nacional (Foto: Divulgação) Em um país onde a religião e a politica…

  • Bolsonarismo além de Bolsonaro

    Bolsonarismo além de Bolsonaro

    Jair Bolsonaro, sua esposta Michelle e o Pastor Silas Malafaia na Avenida Paulista (Foto: Divulgação) O número pode…

  • Eleição Presidencial: um ano depois

    Eleição Presidencial: um ano depois

    Às 19h56 do dia 30/10/2022, um domingo, com 98,91% das urnas apuradas o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proclamou…

  • O que esperar do novo Congresso?

    O que esperar do novo Congresso?

    A partir desta quarta-feira (1/2) os 513 deputados e 27 senadores eleitos em 2 de outubro de 2022 tomam posse e tem…

  • Lula e os desafios da comunicação em 2023

    Lula e os desafios da comunicação em 2023

    Com pouco menos de um mês de empossados, é impossível cobrar e analisar com profundidade a gestão dos 27 governadores e…

  • Lula, Bolsonaro e a comunicação

    Lula, Bolsonaro e a comunicação

    Faltando pouco menos de 5 meses para o primeiro turno da eleição que vai definir o novo presidente, os novos…

    1 comentário
  • 3ª via: entre a mudança de discurso e a figuração

    3ª via: entre a mudança de discurso e a figuração

    De acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de outubro, a polarização entre o…

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos