Não é romântico: 5 lições que aprendi sobre liderar na pandemia
Este texto é mais uma reflexão sobre mim mesmo do que qualquer outra coisa. Nunca fui do tipo que cria manuais, achando que o que funciona para mim vai funcionar para todo mundo. Talvez por isso mesmo eu não me veja como um líder nato, mas como alguém que teve (e ainda tem) que aprender a ser líder conforme sua carreira evoluiu. E aí a pandemia chegou e eu tive que desaprender e reaprender um monte de coisas sobre liderar. O nível de responsabilidade foi para outro patamar a partir do momento em que eu tive que me adaptar a uma nova realidade de vida e de trabalho e, ao mesmo tempo, guiar e orientar outras pessoas em seus próprios processos de adaptação - tudo isso em meio a todas as angústias e emoções que esse momento provocou em todos nós. Não tem sido um processo fácil, mas me ensinou lições valiosas.
Compartilho algumas aqui, na esperança de que uma ou outra talvez possa ajudar outras pessoas que, como eu, são líderes em constante formação.
1 - Não é romântico
Uma das primeiras coisas que eu me obriguei a entender assim que nossa vida mudou foi que eu teria comigo a partir de então um time de pessoas angustiadas pelo estresse do confinamento, pelo medo de ficar doentes, de perder familiares e amigos, de não ter previsão de quando será possível rever pessoas amadas, de perder o emprego para a recessão econômica. Não tem nada de bonito na pior pandemia dos últimos 100 anos, que só no Brasil mata mais de mil pessoas por dia. Por isso, me preocupei em não soar artificial e distante da realidade com discursos no estilo “fazer do limão uma limonada”. Nada de “temos uma oportunidade única de ressignificar nossas vidas”, “nos tornaremos pessoas mais resilientes e capazes de encarar desafios”, “vamos agradecer pelo tempo que ganhamos ao lado de quem mora com a gente”. Um líder com Síndrome de Poliana é um líder sem credibilidade. Preferi acreditar que meu time confiaria mais em mim se eu fosse verdadeiro, deixando claro que estamos diante de um problema sem precedentes, que tenho tantas dúvidas quanto eles e que vou lutar por eles e com eles para passarmos por isso com o mínimo de dor possível. Sem esconder que, sim, vai doer.
2 - Tem que aprender a andar de montanha-russa
A sensação que eu tenho é a de que a pandemia acionou um “fast-forward” na rotina de altos e baixos aqui da agência. Impactados em suas receitas, alguns clientes não puderem mais ficar com a gente, e outros tiveram que negociar reduções no nosso escopo de trabalho. Ao mesmo tempo, a necessidade de lidar com desafios de comunicação inéditos fez novos clientes nos procurarem, e levou alguns que já estavam conosco a expandir nossa atuação com eles. Andar nessa montanha-russa de dias bons e ruins se alternando em uma velocidade frenética foi uma das lições mais duras que eu tive que aprender. Entendi que é importante não me deixar derrubar pelo baque de uma perda grande, assim como não posso me deixar tomar pela euforia em uma conquista importante. Amanhã certamente haverá uma novidade. Seja ela um desafio ou uma oportunidade, precisarei estar preparado - com equilíbrio, foco e paz de espírito - para lidar com ela. Quanto mais serenidade eu tiver, mais seguro meu time vai se sentir.
3 - Transparência sempre foi fundamental. Agora é ainda mais!
Essa foi a lição que mais me surpreendeu. Foi num dia de queda forte e íngreme nessa montanha-russa que eu mencionei aí em cima. A notícia ruim chegou numa sexta-feira, fim de tarde. Decidiu-se por comunicá-la ao time de atendimento da conta imediatamente. Eu era contra. Preferia esperar até segunda-feira, porque não queria que o pessoal passasse o fim de semana aflito. Mas eu era minoria e era o líder de menor grau hierárquico entre os que sabiam, então minha opinião não prevaleceu. Contamos:
“A notícia não é boa e o cenário não é favorável, mas saibam que estamos batalhando por vocês”.
Claro que as pessoas ficaram baqueadas, mas a primeira resposta que ouvimos foi: “Obrigado por terem contado para a gente assim que aconteceu. Foi muito importante. Se tivéssemos ficado sabendo de outro jeito, seria muito pior”. Caí do alto das minhas certezas pré-concebidas. E entendi que respeito ao time inclui a compreensão de que ninguém é ingênuo. As pessoas sabem qual é o estado do mundo no momento e sabem que notícias ruins vão chegar. Esconder ou adiar não é protegê-las. Ser transparente sempre é valorizá-las.
4 - Eu também estou vulnerável
Me desapeguei da ideia cafona de que um líder nunca pode demonstrar fraqueza para seu time. Líder não é robô, não é deus e não é melhor do que ninguém. Tudo aquilo que falei no início sobre o estado emocional das pessoas nestes tempos difíceis - estresse, medo, ansiedade, saudade de quem se ama - se aplica a mim também. Todos nós estamos diferentes, inseguros e com os nervos à flor da pele. Na mesma medida em que preciso adequar meu jeito de lidar com meu time considerando suas angústias, também preciso entender que as minhas próprias angústias vão me levar a falhar com eles vez por outra. E que, quando eu falhar, eu não posso ter medo de reconhecer o erro e pedir desculpas. Isso é bem melhor que ter uma atitude irracionalmente irredutível por puro medo de perder minha autoridade, transferindo para o outro a culpa por um feedback em que eu fui desproporcionalmente duro, por exemplo. É melhor ser respeitado que temido. Medo é algo que as pessoas já estão tendo de sobra durante esta pandemia. Se eu contribuir para aumentar essa carga sobre elas, eu não sou um líder (pelo menos não um que preste).
5 - Dá pra (e tem que) emanar calor humano através da frieza das telas
Como a gente mantém o espírito de colaboração fluindo entre a gente se cada um está trancado em sua casa atrás de uma tela? Como jogar em equipe se o papo olho no olho e o “ir até a mesa do colega” deram lugar às trocas de e-mails e mensagens de texto? Não é fácil, mas aprendi que dá para contornar com algumas orientações para o time todo. Precisou falar com alguém? Faz uma chamada de vídeo ao invés de um telefonema. Reunião de equipe ou com o cliente? Câmera ligada sempre. Olhar na cara das pessoas e deixar que elas te olhem. Dedicar os primeiros ou os últimos cinco minutos da reunião para falar de qualquer coisa que não seja trabalho. Contar uma piada, fazer uma fofoca, reclamar da vida. E o mais importante: confraternizar. Muito. Usar a ferramenta de teleconferência para happy hours virtuais pós-expediente. Estimular o companheirismo, a parceria e a amizade. Não deixar ir embora a compreensão de que somos uma equipe, e não um monte de indivíduos ilhados trabalhando sozinhos. O futebol está aí para nos mostrar que ter elenco e não ter time não leva a lugar nenhum.
Especialista Seguro Garantia na GemAway Seguros | Desenvolvimento Estratégico de Negócios, Gestão de Seguros
9 mBruno, obrigado por compartilhar!
Comunicação Corporativa | Relações Públicas | Comunicação Institucional | Gestão de Crise
4 aGostei muito da 1. Reflexão valiosa!
Diretor de Comunicação / Grupo Carrefour Brasil
4 aMais um ótimo texto, Bruno! Eu tenho sempre duas premissas de liderança: construir um time competente e decidir. São dois fatores que, acredito, um bom líder precisa ter no trabalho. Tento tê-los sempre. O primeiro (time) é mais importante, pois é ouvindo um time competente que se decide melhor. Todos os outros pontos de liderança (transparência, justiça, correção etc) são essenciais, mas para toda a vida, profissional ou pessoal. Ah, você tem os dois essenciais e muitos outros.
Product Marketing | Customer Marketing | Customer Insights | Lifecycle Marketing | CRM
4 aÓtimo texto, Bruno! Concordo muito com você sobre a transparência com o time e um olhar mais humano, que podemos sim cometer erros na posição de liderança.
Senior Account Executive - Global Business
4 aParabéns Bruno, ótima reflexão!!!