Não Consigo Ler este Livro!!

Uma polêmica acontece quando é lançado um novo livro no mercado e as críticas são favoráveis, colocam-no na lista dos best-sellers e é veiculado em todas as mídias e redes sociais como leitura indispensável – um livro que o leitor não pode deixar de ler.

Como assim??

Como editora, apesar de ler inúmeras obras, nunca me senti confortável com tais colocações e afirmações. Por que tenho de ler? Por que é bom? Realmente acrescentará algo a mim esta leitura? O fato de ter sido um fenômeno em vendas realmente quer dizer que é fantástico?

Muitos deles, e aí por questões éticas, não darei nome aos bois, ou melhor, não direi os títulos, sequer consegui passar da “página 20”, falo no sentido figurado de que não consegui passar do início do livro. 

Algumas vezes, acreditando ser um problema meu a falta de “empatia” com alguns livros endeusados, utilizei um recurso da minha época de adolescente quando lia vorazmente Agatha Christie, e desejava desvendar o mistério, sem seguir as pistas deixadas ao longo da obra. Típica adolescente, ansiosa e impaciente, lia trechos ao longo do livro, ou já me antecipava ao final. Satisfeita a curiosidade, voltava às primeiras páginas para então saborear cada uma delas. Afirmo, nem mesmo ciente do final, abandonava o livro.

Mas, voltando, a questão levantada, realmente este problema não é meu ou de qualquer outro leitor. Quantos livros fantásticos e maravilhosos comprei, que sequer, um dia, receberam notas na mídia, favorável ao seu conteúdo. Fica a pergunta: Não deram por não acreditarem não valer a pena ou não saberem de sua existência.

Seriam os best-sellers, modismo? Os clássicos, leituras obrigatórias? O que realmente temos de ler? Temos de ler? Ou devemos ler?

A verdade...!? Num mundo tão rico em conteúdo, onde muitos "Machados de Assis", "Josés de Alencares", "Clarices", "Coras" surgem e sequer tomamos ciência, devemos e podemos nos dar o direito de ler o que desejamos, o que nos dá prazer. A leitura tem de ser antes de tudo, prazerosa.

Se aquele livro que enaltecem e o colocam como “suprassumo”, não lhe apetecer, não se sinta incapaz ou menor por não conseguir entender tal história ou mensagem. Talvez, você já esteja fora do quadrado da literatura.

Não levanto bandeiras nem incentivo a não leitura dos clássicos brasileiros, dos nossos autores consagrados. São leituras indispensáveis porque são A NOSSA HISTÓRIA, a história da literatura brasileira, mas devemos ler por prazer, no momento em que aquele texto for compreendido e fizer sentido. Não podemos falar de novos autores se não conhecermos os nossos “velhos” autores.  

Enfim... A intenção aqui é chamar a atenção que na nossa cultura, como em todo segmento, há o poder da influência. E o leitor não deve se sentir menor ou maior, pior ou melhor, se gostar ou não de um livro que está no Topo da lista dos mais vendidos, ou que leu um clássico que não gostou.

Às vezes, aquele não é o livro para o seu momento.  Meu casamento com Machado de Assis só aconteceu após meus 20 anos, quando comecei a entender e a ler nas entrelinhas de seu texto.

O importante é termos em mente que quando lemos um bom livro, e chegamos ao final dele, fica sempre um gostinho de quero mais.

Zélia Guerra (CEO da Planeta Azul Editora)

www.planetazuleditora.com.br

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