Não dê flores a uma mulher cansada.

Não dê flores a uma mulher cansada.

"É sério: flores são lindas quando há humor para apreciá-las. É importante, também, para quem dá obter alguma reação, como “Ah, que lindas, são minhas preferidas!” Uma mulher exausta, às vezes, não tem forças nem para isso."

Inspirada nesse texto de Anna Prosvetova, é assim que entramos nesse 7 de março: exaustas. Nós sempre reforçamos que esse dia não deveria ser de comemoração, mas de luta por um mundo mais igualitário . Mas dessa vez, nem luta eu quero, porque realmente, nós, mulheres comuns, estamos absolutamente exaustas: 

As casas precisam ser organizadas e limpas mais vezes; As refeições feitas na nossa cozinha se tornaram rotina.

As crianças precisam ser auxiliadas para continuarem, minimamente, construindo seus conhecimentos, num dos momentos mais frágeis dessa construção.

As compras precisam ser feitas, mas há de se fazer com máximo cuidado, para não levar a covid para casa.

As mulheres não puderam abraçar seus pais, mães e avós, mortos nesse ano. Muitas delas viram-nos serem enterrados em dois sacos pretos, sem despedidas. E se tornaram órfãs numa vulnerabilidade nunca antes enfrentada.

Nós perdemos mais empregos. Afinal, cuidar da família é assunto das mulheres... Ou é assim que fomos criadas: assumindo responsabilidades e guardando sonhos pessoais.

A violência doméstica aumentou, porque muitos maridos violentos estão feito bichos, presos em casa, sem emprego ou renda, com sua fúria livre por trás de portas fechadas.

Diz-se que regredimos uma década no mercado de trabalho. Por aqui eu arrisco dizer que foi mais, muito mais.

Quantas mulheres você viu receberem investimentos relevantes neste último ano mesmo? 

Quantas comemoram promoções nas suas timelines? 

Perdemos amigas, irmãs, namoradas, mortas na linha de frente, como médicas e enfermeiras tentando salvar vidas. E, sequer pudemos abraçá-las antes da partida.


Estamos cansadas. Exaustas de um mundo com covid e desamparadas sem saber que futuro teremos quando um dia, finalmente, voltarmos a uma nova normalidade. Onde estarão nossos lugares? Quem os terá ocupado? Ou vamos voltar ao lugar de fala apenas sobre os "temas femininos"? 

Por isso, como diz o texto da Anna, não dê flores a uma mulher cansada. Dê apoio, ofereça ajuda, ouça as dores, caminhe junto, entenda as crises de choro, as olheiras nas reuniões matinais ou os 3 quilos a mais na foto postada. Não a questione se acabar o achocolatado ou se a pia não está organizada. Nem espere que todas as roupas sejam passadas ou guardadas...

Nós, mulheres, somos fortes, mas estamos cansadas.

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