Não há individualidade sem equipe
Rodrigo Martinez

Não há individualidade sem equipe

Todo momento como o de agora me inspira a buscar um aprendizado. É muita ansiedade e nervosismo por conta deste clima instável que ao menos uma coisa eu quero de volta: justamente, o aprendizado.

A fonte do nervosismo e da ansiedade está baseada no fato de que vivemos um tempo onde quase tudo é extraordinário. Não no sentido de raro, especial, fabuloso. Mas, mais próximo do canalha, estranho, esquisito. Todo dia é uma sucessão de eventos imprevisíveis, com um agravante, todos estes são altamente impactantes. Coisas de natureza extraordinária que mudam o funcionamento de quase tudo com uma rapidez que torna quase impossível a viabilidade de grandes projetos, ideias e acontecimentos, pelo simples fato de que está todo mundo assustado.

Todo dia é uma sucessão de eventos imprevisíveis, com um agravante, todos estes são altamente impactantes.

E todo mundo estar assustado é parte do problema. Grandes organizações, grandes pessoas, grandes empresas, grandes mentes. Essencialmente, todos paralisados e o motivo é simples: dúvida. Um item que é importante ressaltar é que o conservadorismo financeiro não é necessariamente o problema, até porque dinheiro não aceita desaforo e em momentos de crise eu sou partidário do fato de que se tem que apertar o cinto mesmo. Não é uma questão de crença ou arrojo, é de economia e ponto. É preciso no mínimo prudência para atravessar cenários deste tipo. A história prova isso.

Neste momento, você deve estar se perguntando: se não é isso, qual é o motivo de de tanta aflição se você é tão bem resolvido, pois o correto é sofrer pelo aperto do cinto, correto? Na minha visão, não. O que mais me deixa incomodado é este clima de descontamento geral com a vida e com as coisas, um excesso de bom mocismo que dá nojo, a terceirização da responsabilidade pela felicidade própria. Enfim, excesso de milongagem.

E esta é a origem do problema na minha visão. O brilho das pessoas está apagado. Por quê? Exatamente este fato me deixou muito curioso e há 4 meses venho pensando sobre isso. Quase todo mundo não está com a cabeça no lugar que está. Todo mundo quer fazer algo diferente daquilo que está fazendo. Sabe aquela pessoa que você sempre admirou? Que tinha sempre uma solução para os problemas que apareciam? O talento que era reconhecido e apontado por todos hoje anda de ombro baixo, calado, cabisbaixo. Sem brilho. Por quê?

Não é uma resposta definitiva, mas durante este tempo uma coisa que ficou muito nítida para mim foi um simples fato. Não há individualidade sem equipe.

Não há individualidade sem equipe.

Sempre fui um sistemista clássico, vejo tudo em partes. E a máxima de que se uma parte não funciona, o todo também não. Faz muito sentido, mas o vice-versa ganha uma baita força em tempos como o de hoje. Se o todo não funciona, a parte também não. As razões para isso são algumas.

Primeiro, foi-se o tempo do self-made man. Hoje ninguém faz mais nada sozinho, é preciso time, integração, no mínimo. Segundo, as coisas estão cada vez mais complexas, neste sentido, não vale esperar que a solução venha de um único cérebro. Até por que a maioria das deste tipo já são soluções postas ou funcionam apenas para problemas velhos. 

Diante disso, ao menos para mim, ficou evidente que devemos nos ocupar mais na construção de equipes, mas equipes de verdade. Não aquelas que ficam no quadro. Não aquele monte de papel que explica, ou aquele processo bacana do MBA que traz conforto psicológico, mas aquela que se vive e se sente. Não acredito famigerado alinhamento vá resolver, ele é necessário, mas não resolve mais, é preciso trazer amizade, empatia e comprometimento para a história. O resto é bônus, a tão falada cenoura na frente do burro. Não que isso não funcione, funciona. As pessoas querem dinheiro.

Agora, se dinheiro funcionasse o brilho não estaria perdido, as pessoas que eu mencionei perderam o brilho, não o bônus. Apenas para ficar claro. E bônus também não reduz a vontade de ir vender água de coco ou algo do gênero na praia, muitas vezes viabiliza.

Acredito nisso. A liderança precisa investir mais tempo na formação de equipes, pois só com as equipes funcionando bem teremos espaços para as individualidades. Processos fluídos também valem, mas lembre-se do imprevisível. É preciso ter uma equipe que responda ao imprevisível e normalmente o processo é o principal motivador de respostas das categoria "não sabia", "nunca fiz isso antes", "isso é novo pra mim" e "não estava claro que deveria". Afasta-se deste tipo de gente, assuma que as coisas são novas e se você lidera ou faz parte de uma equipe que gosta de fazer parte, dê um jeito de tirar essas ínguas da jogada. Vai ser diferente, imprevisível, tudo vai ser novo e diferente. Isso é a regra. A única constante é a mudança.

Ande pra frente. Independente do seu papel dentro time, saiba que ele é muito importante, e totalmente dependente de você, portanto viva proativamente, valorize a proatividade, premie a solução espontânea. Mesmo que com um obrigado! Porque se o todo estiver funcionando a parte vai funcionar. E pessimista não passa do tempo de experiência em equipes com ritmo forte e comprometimento alto. 

Por fim, invista na formação de equipe. Seja você parte ou responsável por ela. Até porque, no final, todos são. E lembre-se não há individualidade, sem equipe. Seu talento não aparece se o todo não funciona. E vice-versa. Foi-se o tempo dos gênios, da era do conhecimento. Agora é tudo sobre comprometimento. O resto é pré-requisito.

Um excelente texto, meu velho. Se me permite uma reflexão para a saúde dessa ideia. Na história de Homero, o herói Ulisses vence todas suas batalhas após a guerra de Tróia. Ele tinha um objetivo claro: voltar para sua esposa e filho. Porém, após anos e anos de aventura, perdendo muitos homens na jornada, Ulisses para na ilha da ninfa Calipso. Ela o acolhe e ambos passam 10 anos descansando. Após 10 anos, a chama de Ulisses volta a queimar e ele desiste da tranquilidade para voltar as suas aventuras. Ou seja, todo Ulisse precisa de "10 anos" para suas reflexões, distante das aventuras. Por que? Porque eles se cansam, man. É assim que os ombros caem. Ulisses perdeu muita gente importante nas batalhas e em meio a uma grande crise o que ele fez? Descansou. E por que ele não continuou? Porque ele foi prudente. E após 10 anos ele retorma suas aventuras novamente com sua equipe. O modelo cartesiano diz que resolver as partes ajuda a resolver o todo. Uma tripulação foda depende do esforço das partes e não de uma hierarquia. A tripulação de Ulisses tinham uma admiração foda por ele, mas também tinham objetivos em comum. Todos queriam voltar pra casa. Objetivos em comum! E só um ultimo detalhe. WTF is excesso de milongagem?

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