A não liberdade de uma comunicação inclusiva.
Em março de 2020, fui convidada pela CA Marketing e Branding para escrever um artigo sobre comunicação inclusiva e a construção dessa identidade nas marcas. Veio a pandemia e todo o seu ônus e virou os nossos planos de ponta cabeça. Hoje estamos dentro de um levante de pautas sociais dentro do mercado de comunicação, tornando o conteúdo ainda mais relevante. Tudo tem seu tempo, mas equidade deve estar em pauta, sempre.
Matéria completa no blog da CA Marketing e Branding
Como uma profissional de comunicação, não existe um verbo que tem maior significado que transformar.
Iniciei no mercado muito jovem, em 2005, e vi modelos inovadores de comunicação cair por terra e dar origem a modelos ainda mais disruptivos. Vi tecnologias, aplicativos, redes sociais e uma enxurrada de dados e algoritmos darem lugar há anos e anos de pesquisas etnográficas, mapeando o comportamento do consumidor para além de dados demográficos.
Mas o que realmente me surpreende ao longo desses anos, é como a comunicação teve uma mudança transformadora na forma de ver o seu público. A “massa” deu lugar ao “indivíduo” e isso é fruto de um levante de pautas sociais antes não abordadas pela sociedade comum, tratada apenas em (poucos) ambientes acadêmicos.
Os conceitos de alteridade e identidade nunca foram tão discutidos na formação de uma cultura de marca, impactando direto na comunicação e nos mercados. O olhar específico para os diferentes feminismos, para as pautas de gênero, raça e classe viraram à comunicação de ponta a cabeça, levaram consultorias específicas para dentro das empresas, mostrando o poder e o protagonismo de grupos que antes eram marginalizados e hoje detém grandes fatias no mercado. As marcas aprenderam a força da individualidade e ensinou o consumidor a abraçar a sua própria identidade, dentro de uma lógica coletiva de consumo.
Vou trazer um exemplo simples: produtos para cabelos crespos e cacheados. Até o inicio dos anos 2000, as marcas traziam em seus rótulos as descrições para “cabelos étnicos”, sendo que mais de 80% da população brasileira é formada por negros com cabelos entre cacheados e crespos, então estamos tratando de etnias e sim de um público majoritário. Além disso, os benefícios dos produtos traziam expressões e propriedades que tratavam os cabelos com essa característica como um “problema” e que precisavam ser domados, amansados e reduzidos.
Hoje a realidade é oposta, além de toda uma gama de produtos de diversas marcas e para tipos diferentes de cachos e crespos, as expressões nas embalagens são empoderadoras e encorajadoras como: “volumão”, “cachos arrasadores” e “meu cacho, minha vida”. Mulheres negras e periféricas, como eu, começaram a ver os seus rostos estampando anúncios e campanhas, ganhando destaque e produtos específicos que se adequam aos seus corpos e as suas realidades.
As grandes corporações e suas agências começaram a entender que era preciso ter mulheres falando para mulheres, negros falando para negros, periféricos falando para periféricos, mas permitindo que ainda assim, o capitalismo fale por todas elas.
Para mim, ser mulher dentro dessa nova lógica social é entender que a presença da mulher e a sua força é muito mais do que ser representada e reconhecida pelo mercado, isso na verdade só é possível verdadeiramente quando falamos sobre respeito e equidade.
Vivemos na era da comunicação inclusiva, mas ainda somos minorias em cargos políticos, em cargos de chefia em grandes empresas, temos salários menores para desempenhar as mesmas funções de um homem e, de quebra, sofremos assédio em nosso ambiente de trabalho, além de inúmeras violências cotidianas que somam as estatísticas.
Por isto, não podemos nos acomodar com os avanços, ainda temos muito a caminhar para, enfim, descansar.”
Gerente de Operações, Atendimento e Mídia | Publicitário, Mercadológo e Especialista em Branding e Comunicação Estratégica
4 aQue satisfação poder dividir este momento com você. É muito importante para mim e para a CA Marketing e Branding colaborar com a disseminação de pautas importantes. Obrigado por ter abraçado a nossa proposta.