NÃO ME TIRE O DIREITO DE PROTESTAR

NÃO ME TIRE O DIREITO DE PROTESTAR

por Marina Pinto

Não sou mortadela nem coxinha, sou cidadã que luta por seus direitos e por uma sociedade mais justa!

Vivemos um tempo em que todos têm uma opinião sobre tudo, mas não aceitam a opinião alheia. Contudo, também temos que ter em mente que certos assuntos saem da esfera da opinião e dizem sobre caráter mesmo. Cito como exemplo a homofobia, tortura, feminicídio, preconceito… Quem hasteia tais bandeiras deixa claro que esconder-se por trás da liberdade de expressão muitas vezes é uma desculpa para perpetuar e justificar tais práticas e comportamentos.

No hall das opiniões, a sequência é a mesma: curti, não curti, amei, achei graça, ou muito sem graça. Textinho, post, ou textão; não importa, pois sempre tem um “patrulheiro da opinião alheia” pronto para rebater e o problema não é o rebate, pois esse faz parte do processo democrático, mas como se rebate. Muitos são da forma mais tosca e grosseira, pois substituem argumentos por xingamentos, tudo devidamente mascarado de bom mocismo, afinal, são cidadãos de bem, pregadores do amor. Por trás dessa máscara o que vemos são disseminadores do ódio, pregadores da paz e que covardemente querem impor seu modo de vida e de pensar para todos.

Se defendo a democracia, sou taxada de esquerdopata. Reforma da Previdência que nos tira direitos, mas se reclamo estou partidarizando a questão. Corrupção nas altas cúpulas, me revolto, ai vem alguém dizendo que não podemos polarizar tudo. Uma pessoa é assassinada a luz do dia pelas forças armadas, com oitenta tiros, mas se eu me indigno, estou defendendo x ou y.

Cortam trinta por cento da educação superior, que afeta não só a formação acadêmica, mas o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas e na saúde, mas se vou pra rua protestar, estou levantando bandeiras, defendendo drogados e baderneiros.

Mas eu digo: devolvam meu direito de protestar!!!

Há muito aprendi que política não se faz só dentro de partidos políticos, pelo contrário ela se faz em qualquer lugar, está presente no nosso dia a dia.

Não idolatro indivíduo algum, pois nunca acreditei em salvadores da pátria. Essa onda de “não critique”, “espere acontecer”, “não debata, pois não leva a nada”, “não critique apenas faça”. E ainda: “Não vá às ruas”, “não proteste”. Afinal, isso e típico dos do contra.

Isso tudo serve a quem? Até o “mais amor, por favor,”, serve à que?

Serve a quem quer tudo como está. Muitos tendo que viver com pouco, treze milhões de desempregados, nenhuma ação do governo para ao menos minimizar! E se eu faço uma crítica, vem alguém pra dizer que ainda não deu tempo pro governo fazer algo e que minha crítica serve a quem estava no governo antes.

Esses argumentos são de uma canalhice sem tamanho, ou pura ignorância mesmo. Claro que não ignoro que movimentos e pessoas oportunistas se aproveitam das manifestações da sociedade para se inserir na onda, mas, dizer que são só movimentos de oposição ao governo é tirar a legitimidade da população de se indignar e protestar. E tais argumentos só servem para manter a apatia, como se as transformações acontecessem por combustão natural. Tal linha de pensamento de atuação só serve para manter no poder quem já provou que não se preocupa com o povo e quer manter seus privilégios.

Esses discursos de ódio ou de amor, que seja, só contribuem com este estado de miséria que a sociedade vive: enquanto os poderosos comemoram com o nosso dinheiro, mantemos essa nossa relação de amor e ódio em que a classe média aplaude a liberação de armas e o corte na educação, se achando parte do poder, e os mais pobres são empurrados a cada dia para a pobreza extrema.

Então sem extremos, sem paixões, com estudo, e senso de realidade, continuarei me indignando e protestando, pois ninguém tem o direito de desqualificar meu pensamento e minha luta! Ninguém tem o direito de partidarizar as minhas bandeiras, elas são minhas e servem aos meus princípios, que são querer uma sociedade justa e igualitária onde o poder é linear e não hierárquico.

A Constituição garante aos cidadãos brasileiros o direito ao protesto e ninguém vai me roubar nem este e nem outros direitos.

Não sem luta!!!

 Imagem: @louzeiromatheus (via twitter) 

Protesto em São Luís do Maranhão (15M pela educação)


Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Marina Pinto

  • O QUE SIGNIFICA O CORTE NA CULTURA DE SP

    O QUE SIGNIFICA O CORTE NA CULTURA DE SP

    Por Marina Pinto Estão todos falando do corte de verbas da Cultura que o governador João Doria fez e o impacto nas…

  • DIREITOS HUMANOS E O MITO DA CAVERNA

    DIREITOS HUMANOS E O MITO DA CAVERNA

    por Marina Pinto/Midia Remota O que nos faz humanos? Ter saído da caverna? Ter consciência? Saber falar? O que de fato…

  • OBRIGADO POR FALAR COMIGO!

    OBRIGADO POR FALAR COMIGO!

    Essa história já faz um tempo, mas infelizmente faz parte do nosso dia-a-dia, e na maioria das vezes ignoramos. por…

  • MULHERES NO CINEMA

    MULHERES NO CINEMA

    Aos Possíveis Parceiros Nos dias atuais, a palavra empoderamento faz parte de qualquer discurso, o que isso quer dizer…

  • filme LUZ

    filme LUZ

    Luz nasceu em 2013 por conta de um edital do Minc chamado Carmen Santos, pedindo protagonismo feminino na equipe…

  • livro Mesa Paulista de Toninho Macedo

    livro Mesa Paulista de Toninho Macedo

    Um prazer imenso em assinar o projeto gráfico, e participar do processo de produção desse livro literalmente delicioso.…

  • livro Na Rua da Solidão Noturna

    livro Na Rua da Solidão Noturna

    Não é um livro de poesias e sim um livro poético em toda a sua estrutura, cada elemento gráfico e iconográfico pensado…

  • Thayame Porto lança mais um Livro

    Thayame Porto lança mais um Livro

    No mesmo dia do lançamento do livro, haverá contação de histórias e debate sobre o tema abordado pela escritora.

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos