(Ainda — Não Sei Quantos) Cursos Que Vale(ra)m a Pena (Pra Mim)
Nesta conjuntura, palavras, frases, citações e neologismos têm feito as novas tendências. Um desses termos (existente já em meados da década de 1990, mas ainda mais em voga neste momento em que somos atingidos por uma avalanche de informações) é "infoxicação". Sem entrar no mérito das intenções da disponibilização de tantos cursos, conteúdos e soluções focadas nos públicos impactados pelo distanciamento social (em alguns lugares chegando à necessidade de quarentena e até mesmo à imposição de lockdown), é fato que, com tantas oportunidades em vista, faz-se necessário um "desinfox", ou seja, a aplicação de um filtro a fim de identificar não apenas a coerência de determinado conteúdo com relação à carreira e à vivência de cada um, mas também eleger aquele mais "afiado" dentre todos os outros que tratam de um mesmo assunto.
A seguir apresento uma relação, muito mais ligada ao cumprimento (ou superação) das minhas expectativas com essas propostas do que com qualquer julgamento de valor, que seria muito abstrato e relativo, com critérios como "bom" ou "ruim". Nesta seleção, bem pessoal, subjetiva, brilham muito mais treinamentos com viés menos técnico e mais comportamental, sobretudo mais cognitivo, já que meu foco está muito mais na habilidade dos mensageiros do que nas mensagens em si, considerando que conteúdo, beabá e passo a passo já temos de montão nessa "infomaré", ou mar de informação.
Orientado dessa forma, antepondo os que mais me cativaram, elenco em primeiro lugar o treinamento de Murilo Gun:
- Reaprendizagem Criativa | Keep Learning School
Avesso a comediantes de stand-up, fórmulas mágicas de marketing e palavras de ordem de autoajuda, recebi ressabiado a sugestão, de minha irmã que também é publicitária, para conferir o curso "Reaprendizagem Criativa". Apesar da pretensão de tratar um tema tão imensurável (talvez exatamente por isso), o título já me despertou imediata curiosidade. Comecei a assistir aos vídeos com expectativas baixíssimas. Não há exercícios e nem provas para auferir o aprendizado.
E para mim não chegou perto de necessário qualquer meio de avaliação padrão. Muitos dos cases e dicas apresentados por Murilo eram bastante novos para mim, que já me valeram, automaticamente, novos conhecimentos. Alguns outros, prontamente, "surgiram como respostas" para angústias e pensamentos que eu já tinha, mas que não sabia como batizar ou categorizar. Ao final, uma experiência que extrapolou em muito qualquer expectativa que eu poderia ter com relação a um curso assim. Aparentemente caótico, muito bem montado, organizado e embasado em práticas vivenciadas e em conhecimentos formais, da cultura popular e, especialmente, da cultura pop.
Inclusive, um dos termos divertidos cunhados por Murilo é o da "combinatividade", escolha muito feliz para ilustrar a clássica paródia da Lei de Lavosier em que "nada se cria, tudo se copia". Para o pensamento muriliano encerrar-se-ia como "tudo se REcombina". Bem antes de ser agraciado com essa luz, eu já defendia que qualquer composição é um mosaico, formada por simples fragmentos. Seria mais criativo aquela com os menores caquinhos, em maior número e/ou com aqueles combinados das formas mais inusitadas.
- Empatia | Descola Cursos Inovadores
Há um bom tempo muito têm me encantado temas como empatia, comunicação não violenta e escuta ativa. Nossa cultura, nossa gente, nossos profissionais carecem disso.
Tive a felicidade de participar enquanto voluntário do CVV — Centro de Valorização da Vida. Com essa experiência e um pouco mais de introspecção, pude me municiar enquanto somava a isso ferramentas da Pedagogia, para mediar cursos sobre essas importantes habilidades.
Ainda bastante interessado nesses misteres, tenho mantido minhas leituras a esse respeito e participado de alguns cursos. Muitos falam do mesmo, de uma mesma forma. E ainda são muitos aqueles que utilizam a equivocada redução "colocar-se no lugar do outro" ao abordar a empatia.
O excelente curso mediado por Tati Fukamati brilha em todos os aspectos, embora eu não concorde com a abordagem inicial do tema. Parafraseando o próprio CVV, "'Empatia' surgiu da palavra grega empátheia, que significa 'entrar no sentimento'." Entendido isso, limitar a "empatia" a "colocar-se no lugar do outro" é ir de encontro com a ação que o próprio termo inspira. Particularmente, entendo que, para que haja empatia, é necessário, muito mais do que identificar-se com o outro (colocando-se "no lugar dele"), perceber a diferença que existe entre si. Assim, entendo que "empatia é a capacidade de se reconhecer as diferenças a fim de compreender um outro ponto de vista." De toda forma, em um certo momento, Tati retoma o conceito lembrando da necessidade da criação de conexões para que possa nascer a empatia, fechando com singeleza e genialidade: "faça aos outros aquilo que eles gostariam que você fizesse por eles".
Unindo conteúdo e forma, e uma excelente e metalinguística apresentação, Tatiana Fukamati me surpreendeu com seu viés. Ela não apenas fala de empatia, mas traz empatia. Como raríssimos comunicadores o fazem nestes tempos, Tati evoca seu espectador chamando-o por "você", trazendo-o para perto, alheia a pares de uma geração acostumada a palestrar para uma "legião virtual", os "vocês". Outro grande diferencial do curso é dedicar-se à "empatia", enveredando-se por ela. Outros cursos têm pretensões muito mais amplas, e que muitas vezes não são satisfeitas, como esgotar a "Comunicação Não Violenta" e até mesmo tratar de toda a "Inteligência Emocional".
E, atenção com relação à grande oferta de cursos: além dos atropelos com a definição do nome, há também com a aplicação do termo. Enquanto adjetivo ele serve muito bem para os tipos de relações, laços, vínculos. Mas como o próprio Pasquale já versou, não deve ser usado para caracterizar pessoas. Assim, diferentemente do que muitos treinamentos pregam, não é adequado dizer que qualquer pessoa SEJA "empática".
Não me lembro qual foi o momento em que me decidi pela Língua Brasileira de Sinais (Libras). Não foi para conversar com um amigo ou algum colega. Sei que simplesmente quis conhecer. Quando comecei meus estudos, fiquei admirado ao descobrir que, por não conhecer o idioma da cultura surda, quem tem estado marginalizado por essa ignorância minha sou eu, e não os outros. Hoje percebo que pouca gente sabe que Libras (apesar de não ser, como alguns dizem, o segundo idioma oficial do País), é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão no Brasil.
A cultura surda vai muito além de uma suposta deficiência auditiva. Ela abrange todos aqueles que fazem uso de Libras, por exemplo, sendo em lato sensu o conjunto de características que tornam uma pessoa parte da comunidade surda ou do povo surdo, permitida principalmente pelo uso da língua de sinais. Disso, assumo minha pretensão de, em algum momento, fazer parte também dessa cultura. Já tive algumas experiências com cursos online de Libras e estive para ter aulas presenciais enquanto cursava Pedagogia. Mas acredito que um curso presencial não faria tanta diferença, dada a qualidade do curso de Libras do IFRS! O treinamento é composto por uma série de vídeos, que vai desde a introdução aos estudos, com a contextualização da cultura surda, a quebra de mitos e a história da educação de surdos no Brasil. Também há ótimos materiais de apoio, como dicionário e abecedários de Libras, além de configurações de mão.
Aliás, quem tem um mínimo de conhecimento desse idioma sabe que, como nossas pronúncia e caligrafia, Libras tem suas variáveis, que abrangem aspectos regionais, sociais, culturais e até pessoais. Por isso faz grande diferença a percepção dos sinais a partir dos gestos de diferentes professores. E esse é o grande trunfo do curso do IFRS: há pelo menos dois intérpretes para cada exercício. E o suprassumo são as participações do professor Heveraldo Ferreira, que com suas caras, bocas, gestos e ótimo humor, conduz instruções que incluem alfabeto manual, saudações, datas e estações do ano, pronomes, pessoas e verbos, cores, objetos, alimentos, roupas e animais, lugares e educação. Enfim, um curso completo para quem deseja debutar na cultura surda!
A plataforma utilizada é o Moodle, que hospeda outros interessantes cursos do Instituto, e que já tive oportunidade de utilizar através de outra iniciativa de educação pública, a UAITEC, para o curso semi-presencial de Espanhol.
- Fundamentos do Marketing Digital | Google
Dos poucos cursos técnicos que vou mencionar aqui, vale como exceção este da Google, credenciado pelo Interactive Advertising Bureau. Exatamente pelo fato de que há treinamentos de Marketing Digital "saindo pelo ladrão" da rede, sinalizo o curso do Ateliê Digital como aquele realmente digno de atenção. São 26 módulos, totalizando 40 horas. Todo o conteúdo foi criado pelos treinadores da Google, contando com exercícios práticos e cases reais. Além da imposição de que o aluno passe nos testes das sessões disponíveis em cada módulo, para conquistar a certificação faz-se necessário atingir 80% dos pontos na prova final.
Vale nota o fato de que o curso está disponível para diversos idiomas, entre eles o português — lusitano. Apesar de a compreensão como um todo não ser difícil, indico a quem tenha um mínimo de intimidade com o inglês (ou qualquer outra língua), que considere um idioma alternativo, já que muitos dos termos específicos de marketing utilizados lá na "terrinha" são bem diferentes daqueles que utilizamos no mercado nacional.
- Inteligência Emocional | Escola Conquer
Apesar de esse ser um curso já indisponível para quem quer que viesse a se interessar por ele, vale-lhe uma menção honrosa pela participação de Tais Targa, por um motivo já enunciado na defesa do curso de Empatia de Tati Fukamati: Tais, mesmo tendo sido uma das 15 Top Voices de 2016, hoje com seus mais de 400 mil seguidores no LinkedIn, não perdeu o referencial, também tratando seu público por "você". Targa, que é referência em transição de carreira e recolocação, ganhou notoriedade com estas dicas para desempregados (com o mesmo cuidado de falar diretamente com o leitor, tratando-o como alguém singular).
No palinha que deu pela Conquer, Tais lembrou a importância da Inteligência Emocional em momentos de crise.
- Trabalho Remoto: Colaboração, foco e produtividade | LinkedIn
Mais uma exceção nesta lista, por apresentar habilidades técnicas, que no entanto se combinam a tantas outras soft skills. Mais do que um único curso, eis um pacote de cursos embalados com esmero para fomentar e viabilizar o home office no decorrer da pandemia do Covid-19, englobando habilidades como gestão de equipes virtuais, delegação de tarefas, gestão de tempo, colaboração entre equipes (com ênfase nas ferramentas do Office 365), combate à procrastinação; desenvolvimento de foco, resiliência e inventividade, condução de reuniões e comunicação interpessoal.
Em resumo, é possível aprender como se antecipar a crises, otimizar a rotina para o trabalho remoto e, consequentemente, a produtividade, e desenvolver a resiliência, especialmente em tempos difíceis. Cada um dos módulos já vale por si, e a conclusão dos 10 garante ao aluno a obtenção do certificado de conclusão.
Bônus!
- Convict Conditioning | Paul Wade
Esta é uma indicação à parte. As demais tratam de cursos a distância, todos gratuitos, focados em habilidades facilmente aplicáveis a determinados trabalhos (e seus ambientes). O livro do preparador físico Paul Wade (pseudônimo) é destinado àqueles que priorizam o bem-estar frente à própria estética. E (até o momento) não é gratuito. Então, por que considerá-lo aqui?
Não há como desconsiderar as saúdes física, mental e emocional neste momento. Aliás, cada uma delas se equilibra a partir da outra. Quando já não é mais possível diferenciar casa de escritório, nosso corpo, nossa máquina, torna-se ferramenta de trabalho por ainda mais tempo.
Esse é um livro que comecei a sorver no final de 2019. Ele começa com algumas contextualizações, sendo que somente a partir da 40ª página é que as séries de exercícios são apresentadas. Já estava fazendo parte de minha rotina. Mas com a necessidade de isolamento social, passei a lê-lo mais intensamente e então comecei praticar. Neste ínterim tenho me perguntado: por que é que as massas devoram as receitas de sucesso de personalidades? Sejam elas receitas culinárias ou práticas de exercícios físicos, a partir do momento em que são ditadas por formadores de opinião, membros do mainstream, essas passam a se distanciar dos recursos, da realidade do grande público. Ou sejam: são dicas nada sustentáveis.
Há algum tempo o recebi como dica do bom amigo Elvis Araújo (não dica pregada, imposta, mas solicitada por mim, dada a minha busca por um organismo estético, sobretudo saudável). O título, o nome do autor e, especialmente, a capa da publicação já me causaram uma certa preguiça. Mas como veio de alguém que admiro pelo profissionalismo, pela personalidade, pelo coração e, especialmente, pela coerência, prontamente me iniciei nesse conteúdo.
Fruto de conversas e vivências do próprio autor, no confinamento carcerário, o pequeno calhamaço é um guia para a prática de calistenia onde quer que o leitor esteja. Despretensioso, transparente, sustentável e, agora mais do que nunca, oportuno.
À medida em que eu fizer novos cursos ou lembre de outros que fiz, e que sinta que valha a pensa compartilhar, atualizarei este artigo. Aliás, há algum curso que você tenha feito e indicaria para que eu inclua aqui?
Social Media Specialist Manager at Hotmart
4 aMuito bom, Pedro! ✨ Vai atualizando essa lista que está dando gosto de acompanhar e se inspirar. ☺️
Te mostro o caminho para se tornar uma empresa Data-Driven // Author of Marketing Tupiniquim
4 aAchei que ia ter uma lista, só tinha o curso "1". haha
HR Business Partner | Gestão Estratégica de Pessoas | Desenvolvimento de Líderes | DHO | Mineração | Excelência Operacional
4 aSensacional o seu artigo, Pedro Paulo Siruffo. 😁👏👏👏 A propósito: o Murilo Gun é ótimo, né?? Acompanho o trabalho dele desde a longeva época do vídeo "Entrevista com Estagiário "...simplesmente imperdível..!