Não somos donos de nossas escolhas como acreditamos e gostaríamos
Os gatilhos mentais aparecem a todo tempo, influenciando nosso livre-arbítrio – Foto: Allef Vinicius/Creative Commons

Não somos donos de nossas escolhas como acreditamos e gostaríamos

Quem nunca comprou algo por impulso atire a primeira pedra!

Todos nós já fizemos isso, e fazemos cada vez mais, porém com menos consciência. Acreditamos piamente sermos os arquitetos de nossas vidas, com escolhas derivadas de um livre-arbítrio absoluto. Entretanto a verdade é bem diferente e mais complexa.

As redes sociais são inundadas de publicações exaltando a liberdade de escolha e de expressão. Porém o processo decisório, que parece individual e autônomo, sofre profunda influência de forças que nem percebemos, com as mesmas redes sociais sendo seu maior canal.

Ironicamente muitos dos que se exaltam publicamente por essa autonomia acabam tendo o livre-arbítrio bem tolhido. Mais que um desejo de liberdade, esse ideal libertário é uma das maiores manipulações do mundo moderno, pois não há liberdade absoluta.

Somos vítimas de um mecanismo criado ao longo da nossa evolução: os “gatilhos mentais”. São estímulos que acionam respostas automáticas e muitas vezes inconscientes em nosso cérebro. Usamos esses “atalhos” para tomarmos decisões rapidamente, economizando energia cognitiva.

Mesmo quando estamos cientes desses gatilhos, eles ainda podem nos influenciar. Isso acontece porque operam em um nível muito básico de nosso processamento mental. É como sabermos que uma ilusão de ótica é apenas uma ilusão, mas mesmo assim nosso cérebro continua sendo “enganado” por ela.

Infelizmente eles podem ser (e são) explorados de forma antiética para manipular comportamentos contra nossos próprios interesses. É um velho recurso do marketing e da política, que foi absurdamente ampliado nas plataformas digitais. Seus algoritmos são perfeitos para essa tarefa, pois extraem o que nos causa emoções como alegria, medo, esperança ou raiva, e depois aproveitam isso em gatilhos incrivelmente eficientes em bolhas de confirmação e radicalização.

Seu fluxo de informações frenético atrapalha a racionalização e a exibição constante do que nos seria “perfeito” nos outros gera uma comparação social tóxica. O medo de “ficar de fora” completa o pacote de achatamento do livre-arbítrio.

As casas de apostas online, as infames “bets”, são um exemplo emblemático dessa perda de controle. Elas combinam gatilhos mentais e manipulação psicológica que estimula dopamina, como a distribuição de ganhos limitados, exibição de grandes vitórias alheias, falsa sensação de controle ou a urgência. Com isso, pessoas sensatas já perderam economias de uma vida na jogatina digital!

O resgate do nosso livre-arbítrio passa, portanto, por um uso consciente e construtivo das plataformas digitais. Precisamos de uma combinação de educação midiática e digital, regulação dessas plataformas e consumo consciente.

Isso não significa censura, empecilhos para o avanço tecnológico ou controle autoritário, aliás outras ideias manipuladoras bem populares. Trata-se de um esforço coordenado para devolver às pessoas o domínio de suas escolhas, sem viés ideológico, político ou comercial.

Quanto mais entendemos essas formas de controle, mais poderemos nos proteger delas e fazer escolhas verdadeiramente autônomas. A mudança começa no nível individual, mas precisa ser apoiada por uma consciência coletiva sobre a importância do uso ético e saudável das plataformas digitais, que precisam ser envolvidas na solução de um problema que elas criaram.

Este é um desafio de toda a sociedade, independentemente de posições políticas. Não se trata de ser contra ou a favor da tecnologia, mas de usá-la de forma construtiva, preservando nossa autonomia e bem-estar. Só assim aproveitaremos os benefícios de nosso tempo sem nos tornarmos reféns de sistemas de manipulação cada vez mais sofisticados.


Para entender melhor a importância de decisões éticas nos diferentes usos das redes sociais, e como isso afeta a nossa competitividade e liberdade, convido você a assistir ao vídeo da minha Pílula de Cultura Digital dessa semana.


Se você prefere saber mais sobre isso em um artigo, leia a minha coluna no Estadão dessa semana: Como equilibrar a ética, a competitividade tecnológica e a liberdade de expressão.

 


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 “É uma cilada, Bino!” Quando a farmácia pede seu CPF para “dar desconto”, isso pode representar o início de uma sequência de desrespeitos ao consumidor. Você sabe quais são? E como podemos nos proteger disso?



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12 h

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Mauro PERIQUITO

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2 d

Este direcionamento é um mix do off e do on-line amigo Paulo Fernando Silvestre Jr. Desde que o mundo é mundo algo similar aparece…

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