Não vai ter árvore!

Não vai ter árvore!

Quanto mais as festas de final de ano se aproximam, mais caótico fica o trânsito em todo o Rio de Janeiro. O motivo? Desconheço. Porém, para a maioria dos moradores da Zona Sul (mais precisamente Leblon e Ipanema) todos os males da cidade, nesta época do ano, tinham um único culpado: a árvore de Natal da Lagoa. À primeira visão do início da montagem, começavam os muxoxos: “o caos vai começar”, “lá vem aquela coisa cafona estragar a paisagem” e “acabou a tranquilidade”.

Este ano, porém, não vai ser igual àquele que passou. Na verdade não vai ser igual aos últimos 20 anos. No início de novembro, o patrocinador anunciou que não vai ter árvore! Em nota, o grupo Bradesco Seguros informou, com outras palavras, que não estava mais disposto a arcar com os custos da festa sozinho. Para que o carioca tivesse uma árvore de Natal grandiosa, a prefeitura ou alguma outra empresa teriam que coçar o bolso.

A prefeitura não se mexeu. Dificilmente, outra empresa privada assumiria o posto, pelo menos este ano. Não por conta da “crise econômica”, mas porque a árvore está intimamente ligada ao nome do patrocinador original. Durante os primeiros anos da novidade, era a Árvore do Bradesco que o carioca ia visitar.


Ano após ano, a festa em torno da árvore só aumentou. Sua inauguração, com direito a fogos de artifício e show musical, se tornou evento turístico da cidade. Quase um pré-Réveillon.

Ano passado, nem a tempestade que caiu no dia da festa espantou as milhares de pessoas que se aglomeraram ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas.

A árvore costumava ser acesa no final de novembro e apagada em janeiro.


Todos os números em torno da Árvore da Lagoa eram grandiosos e ficava por conta do patrocinador informá-los. Sobre a versão de 2015, os números foram: 

53 metros de altura ou 17 andares; 2,5 milhões de microlâmpadas, 105 km de mangueiras luminosas, seis geradores embarcados, 25 km de estruturas tubulares, 350 toneladas de peso, 11 flutuadores de 12 toneladas, 1.500 pessoas envolvidas no trabalho. 

O custo total dessa grande ação de marketing, porém, o Bradesco  nunca informou, em todos esses anos, e muito menos a prefeitura. Muitos justificavam suas críticas à árvore a essa falta de transparência. Outros ainda criticavam o fato de uma empresa privada usar um cartão postal da cidade como palco para sua ação de marketing. Porém, até onde se sabe, o patrocinador montava a árvore sobre o espelho d’água da Lagoa, mas não cobrava ingresso para sua visitação. Diferente da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), por exemplo, que fatura alto a partir da ocupação do Sambódromo, um equipamento municipal.

Entre 50 a 80 mil pessoas, por dia (segundo estimativas não oficiais), eram atraídas para a Lagoa para curtir a Árvore: moradores de todos os cantos da cidade e turistas de todos os cantos do país e do mundo. Até tarde da noite, casais e famílias inteiras alugavam pedalinhos para chegar o mais perto possível da grande atração. Durante um mês, a Lagoa Rodrigo de Freitas se iluminava, em todos os sentidos. E fazia do trânsito do entorno um caos, com reflexos por vários cantos da cidade, perturbando a paz dos vizinhos.

Pois este ano, a Zona Sul carioca estará livre dos engarrafamentos. E os moradores próximos à Lagoa Rodrigo de Freitas voltarão a ter o cartão postal da cidade só para eles outra vez. Nada de forasteiros. No máximo, os turistas – estrangeiros, de preferência. Afinal, já bastam os finais de semana quando o “pessoal de fora” vai passear por lá.

Porque legal, mesmo, para muitas dessas pessoas, é a árvore do Rockefeller Center, símbolo do Natal na cosmopolita Nova York. Essa sim, valeria a pena visitar e batalhar por uma self.

Em plena crise econômica, o Rio de Janeiro simplesmente dispensou uma atração turística. Pior, parece que nunca encarou, de fato,  que a Árvore da Lagoa era uma atração turística que beneficiava a cidade, a partir do investimento de uma única empresa privada. E teve 20 anos para perceber isso. Se o patrocinador recebia algum tipo de benefício em troca do evento, não sei. Se “blefou” ao informar à Prefeitura que não montaria a árvore – e perdeu, não sei.

O que sei é que, se a Árvore da Lagoa fosse assumida, de fato, como atração turística, teria beneficiado muito mais a cidade. O local ganharia por parte do poder público infra-estrutura adequada para receber  com segurança e conforto seus visitantes e isso inclui sistema especial de trânsito. Além disso, toda uma cadeia de produção típica da indústria do turismo poderia ter se desenvolvido, mesmo que sazonal.

O Rio de Janeiro vive de sua beleza e sua grande indústria é o turismo, mas parece que poucos entendem, por aqui, o que isso significa. Entendem menos ainda a relação que existe entre Cultura, Comportamento e Meio Ambiente com turismo - vide a própria Lagoa que sofre há uma eternidade com a poluição. E, definitivamente, não entendem que uma cidade turística precisa prestar serviços de qualidade, o que não é o caso do Rio de Janeiro.

Da minha parte, torço pela volta da Árvore da Lagoa, sua festa e suas luzes!




Fernanda Venâncio

Consultora Sênior de Comunicação | Pós-graduação em Marketing no IBMEC

8 a

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