Na Educação Profissional, o Hábito Faz o Monge
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Na Educação Profissional, o Hábito Faz o Monge

Tornamo-nos no homem do uniforme que usamos. (Napoleão Bonaparte)

Na entidade de educação em que trabalho há quase 30 anos, é recorrente o questionamento pelos alunos, e muitas vezes pelas famílias, sobre a obrigatoriedade do uso do uniforme, o tipo de uniforme adotado e as restrições impostas pela escola sobre este tema. Abaixo faço uma análise de cinco argumentos que utilizo para lidar com esta questão no cotidiano escolar.

O Simbolismo

Os seres humanos são simbólicos. Tendemos a utilizar referências pictóricas ou de outras naturezas para atribuir significados ou classificações. Usar um uniforme implica assumir uma identidade, fazer parte de uma classe, um grupo. Isto é muito importante no mundo do trabalho, pois confere o senso de unidade, de sinergia, de time às pessoas que trabalham em um mesmo local ou profissão, aumentando a cooperação e coesão entre elas, em benefício da produtividade e da qualidade. O simbolismo nos faz distinguir imediatamente, pela vestimenta, um médico de um advogado ou um engenheiro.

As Regras

Na medida em que o simbolismo produz resultados benéficos, é natural que surjam as regras de vestimenta por local e por atividade. Cada estabelecimento é livre para impor as suas próprias regras de vestimenta. É bom, todavia, que as regras considerem o simbolismo, as normas técnicas e os costumes. Assim, em uma audiência, advogados devem usar o terno e a gravata, médicos precisam se vestir de branco quando em serviço, e engenheiros usam botas, capacetes e eventualmente outros acessórios. Até na sauna ou na praia existem regras de vestimenta!

As Normas Técnicas

Os estabelecimentos de qualquer natureza estão sujeitos a regulamentações legais ou normativas específicas. No Brasil existe um conjunto de normas ligadas ao mundo do trabalho, que impõem condutas, inspeções e análises dos riscos. Anualmente, especialistas em segurança no trabalho elaboram o Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, o PPRA. Este documento é assinado mediante Anotação de Responsabilidade Técnica – ART – junto ao conselho profissional da categoria, e descreve os riscos pertinentes a cada ambiente, e as medidas protetivas a serem adotadas pelos estabelecimentos, como, por exemplo, a adoção de equipamentos de proteção individual ou coletiva, que podem se assemelhar a uniformes.

A Situação Análoga

Na educação profissional, considerando a apropriação de conhecimentos, habilidades e atitudes pelos educandos, faz-se necessário desenvolver as intervenções em situação análoga aos ambientes em que os educandos irão trabalhar no futuro. Como exemplo, se o educando fará uso de capacete nas suas atividades profissionais, é imperativo que a escola já o ensine a trabalhar com este equipamento. Isto nos leva à análise do fazer profissional, ou da ethos profissional.

Ethos: O Fazer Profissional

Ao utilizar ambientes, máquinas, equipamentos, ferramentas, instrumentos, processos, materiais e vestimentas idênticos aos do mundo do trabalho, o educando se apropria de todos os elementos daquele ofício. De fato, a construção da ethos profissional não se dá com a entrega do certificado de conclusão do curso, mas a cada instante vivido no processo de formação. Quanto mais próximo da situação real de trabalho estiver o educando neste processo, mais ele se apropriará do modo de viver e fazer aquela profissão. Mais ele incorporará às suas atitudes, aquelas típicas daquela profissão, incluindo aí o seu discurso. Com efeito, médicos vestem branco desde o primeiro dia de aula!

Concluindo, é bom, natural e saudável que os educandos na educação profissional utilizem uniforme e todos os paramentos relativos ao seu meio. É bom também que conheçam e desenvolvam amizade com pessoas do mesmo ramo, que pesquisem e leiam materiais da sua área, que visitem feiras e congressos correlatos, enfim, que se apropriem de todos os elementos contribuintes para a formação da sua ethos profissional.

Paulo Emilio Santos

Desenvolvimento Organizacional/Talent Management/Coach/Professor

5 a

Fazem muito sentido  suas ideias,Tomas. Eu acrescentaria apenas o termo Identidade. O  ethos profissional é um componente importante da construção da identidade do indivíduo.

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