Na sua opinião, um bom currículo basta?

Para responder a essa pergunta, hoje quero dividir aqui com vocês um CASO REAL de entrevista e vamos tirar algumas lições importantes.

Há um mês atrás, recebi através de indicação, o currículo de um executivo. Boas formações, boas experiências, passagens relevantes pelas empresas por onde atuou, um ótimo currículo. Decidi entrevistá-lo para conhecê-lo melhor.

Era um executivo que estava há três meses no mercado buscando uma recolocação e era a primeira vez que ele passava por essa experiência.

Vamos a entrevista:

Marquei com ele uma conversa por vídeo. Para a minha surpresa, ele não estava preparado. Estava descabelado, com cara de sono – como alguém que tinha acabado de acordar.

PRIMEIRA LIÇÃO: Mesmo que a entrevista não seja no escritório do headhunter ou do cliente, de certa forma, você está “recebendo alguém na sua casa”. Você não precisa estar com a sua melhor roupa ou, para as mulheres, com maquiagem, mas é muito importante você se preparar! Lave o rosto, esteja apresentável, mostre que está presente de todas as formas e que aquela entrevista tem importância para você.

Logo no início da entrevista, perguntei como ele estava e pedi que me contasse um pouco do momento dele.

A resposta foi uma avalanche de coisas negativas: disse que estava muito desanimado e desacreditado. Havia sido recém entrevistado para duas oportunidades e não tivera uma boa experiência, pois as empresas não haviam sido rápidas no feedback. Então começou a falar mal das empresas e das pessoas que o entrevistaram.

SEGUNDA LIÇÃO: É verdade que todos nós estamos passando por um momento de stress e ansiedade muito acima do normal. Estamos preocupados e com medo. Contudo, antes da entrevista, é muito importante fazer um exercício mental e relaxar para garantir que conseguirá entrar na conversa de forma leve, permitindo criar um bom ambiente e uma boa conexão com o entrevistador. Ninguém gosta de negatividade! O headhunter provavelmente irá pontuar isso e você poderá corrigir numa próxima vez, mas talvez, você não tenha essa mesma oportunidade com a área de recursos humanos de uma empresa, por exemplo.

Esse executivo tinha boas realizações pelas empresas por onde passou, mas quando pedia que ele me contasse mais sobre suas entregas, ele iniciava contando algo bom e logo emendava em algo negativo. Por exemplo:

“ Tive a oportunidade de criar um programa de compliance, mas era tudo muito difícil, time fraco, cultura ruim, empresa sem visão de longo prazo.”

TERCEIRA LIÇÃO: Foque naquilo de bom que você fez! Lembre-se de todas as suas realizações: o que você criou, o time que você construiu, as transformações que conduziu. Fale dos seus resultados, tenha os números em mente, mesmo que você tenha que fazer uma lista para lembrar!

Sobre as dificuldades? O entrevistador provavelmente irá te perguntar sobre os aspectos difíceis, e quando o fizer, conte de uma maneira mais profissional e menos pejorativa. Não fale mal de pessoas, não fale mal das empresas, não fale mal das lideranças. Há muitas formas de dizer que não se encaixou na cultura, ou que o gestor tinha uma outra forma de liderança. É possível ser 100% transparente, sem ofender ou criticar alguém.

Por fim, pedi que ele me contasse sobre as reflexões que ele havia feito sobre próximos passos de carreira: quais tipos de desafios, qual posição, em que tipo de empresas. A resposta foi, entre outras palavras, que ele toparia qualquer coisa!

QUARTA LIÇÃO: Saiba aquilo que você quer! Isso não significa que a sua resposta irá te limitar, muito pelo contrário, é muito importante que você tenha clara consciência da sua trajetória, dos seus valores, de como você aportou valor nas empresas por onde você passou e onde você poderá agregar mais, ser mais feliz. Você pode não ter clareza dos seus próximos passos e tudo bem perguntar ao headhunter, ele irá te ajudar a refletir sobre isso. Mas nunca, em nenhuma hipótese, diga que qualquer coisa servirá. Se você não acredita no potencial que você tem, a pessoa que está te entrevistando também não acreditará.

Anote aí:

1 – Prepare-se para a entrevista. Esteja apresentável, mesmo que a entrevista aconteça por vídeo.

2 – Deixa a negatividade de lado, mesmo que por algumas horas. Tire um momento antes da entrevista, faça um exercício mental para relaxar. A conversa precisa ser agradável e você pode correr o risco de o entrevistador não entender que aquele é apenas um momento mais vulnerável seu.

3 – Tenha suas principais entregas e realizações na ponta da língua. É muito comum nos esquecermos de tudo aquilo que fizemos e no que tivemos protagonismo. Então anote se for preciso.

4 – Saiba aquilo que você quer! Lembre-se do valor que você tem e das contribuições que fez ao longo da sua trajetória. Se você não tiver muita clareza dos próximos passos, peça orientação ao headhunter. Mas nunca diga que qualquer coisa servirá.

Por fim, não poderia deixar de contar para vocês o final dessa história:

Ao final da entrevista pedi permissão para pontuar tudo aquilo que ele estava fazendo e que provavelmente o teria prejudicado nas entrevistas passadas. O feedback foi claro e verdadeiro, discutimos sobre todos esses pontos.

Há alguns dias ele me ligou, e para nossa felicidade, ele está em um desafio novo em uma boa empresa.

Portanto, um bom currículo NÃO BASTA. Preste atenção se você está pecando em alguns desses aspectos. Muitas vezes é apenas um pequeno ajuste que pode fazer toda diferença.

VAMOS CONVERSAR:

Você já se percebeu tendo esse comportamento em entrevistas?

Como você tem feito para deixar a ansiedade de lado, principalmente nesse momento?

Você tem dificuldade de contar sobre as experiências que não foram boas da sua trajetória profissional? Seja com relação as empresas ou as pessoas com quem trabalhou?